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Cardiologia em Trás-os-Montes e Alto Douro: «estamos a desenvolver novas valências»




Apesar das dificuldades, sobretudo pela carência de recursos humanos, mas também em instalações e equipamentos, o Serviço de Cardiologia do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD) dá apoio a uma população de quase 500 mil habitantes, na sua maioria idosa e com necessidades acrescidas de cuidados de saúde.

Dirigida por Ilídio Moreira, esta é a unidade de referência para o tratamento de doentes cardíacos de toda a região transmontana. Compreende uma Unidade de Cuidados Intensivos, Internamento, área de Exames Complementares de Diagnóstico, setor de Pacing e Electrofisiologia, Laboratório de Hemodinâmica, Consulta Externa e Unidades de Insuficiência e Reabilitação Cardíaca.



“A Cardiologia atual obriga a uma disponibilidade de meios e a uma sofisticação tecnológica que, como é evidente, não pode haver em todos os hospitais. Daí a importância da existência de centros de referência, com valências capazes de proporcionar o tratamento mais adequado aos doentes”, menciona Ilídio Moreira, salientando que a necessidade efetiva nesta zona do país, em termos de cuidados de saúde, é grande:

“Esta região engloba uma área geográfica enorme. Para muitos doentes, vir ao hospital representa uma deslocação de mais de 100 km, mas ir até outra instituição no Litoral é muito complicado, senão mesmo inexequível. Ou os doentes têm a possibilidade de ser tratados aqui ou muitas vezes não o são de todo."


Ilídio Moreira

Esta realidade tem levado a equipa do Serviço de Cardiologia a desenvolver esforços no sentido de oferecer um vasto leque de soluções aos utentes do Serviço Nacional de Saúde, contornando algumas . "Sentimos a necessidade de proporcionar esse tipo de recursos no nosso centro hospitalar, proporcionando aos doentes o tratamento e o acompanhamento adequados."

Muitos idosos estão isolados, "logo, mais carenciados de apoio"

De acordo com o diretor do Serviço de Cardiologia, a população da área de influência do CHTMAD é envelhecida, com uma média etária superior à nacional. Além disso, fora dos grandes centros, como é o caso de Vila Real, Chaves e Lamego, "em muitos casos, os idosos estão isolados, logo, mais carenciados de apoio e de cuidados de saúde".

Tendo em conta tudo isto, os números de procedimentos, consultas e internamentos do Serviço são obviamente altos, até porque a população da área de referência é de quase meio milhão de habitantes.

“Na nossa Unidade de Cuidados Intensivos tratamos mais de 700 doentes cardíacos por ano. Em 2018, fizemos mais de 200 angioplastias primárias emergentes e implantámos dispositivos elétricos a mais de 500 doentes”, afirma Ilídio Moreira.



Os recursos humanos são poucos

Falando um pouco das várias valências do Serviço, Ilídio Moreira afirma terem necessidades em todas elas, salientando a dificuldade na autorização para celebração dos contratos solicitados para vários profissionais de saúde.

“Temos médicos em formação e diferenciação e estamos a desenvolver novas valências, como, por exemplo, a eletrofisiologia. A Imagiologia tem diversas áreas e foi adquirida recentemente pelo Centro Hospitalar uma ressonância magnética, que será partilhada também pela Cardiologia. Ainda nos falta a AngioTC para exames cardíacos”, refere.

E continua: “Criámos uma área de Reabilitação Cardíaca, que estamos a desenvolver e que consideramos ser muito importante. Iniciámos também uma Unidade de Insuficiência Cardíaca, que é crucial para melhorar o controlo dos doentes e evitar reinternamentos. No entanto, temos uma carência grande em termos logísticos, o espaço não está bem adaptado e faltam-nos equipamentos.”



Além disso, Ilídio Moreira menciona que estão a formar mais um médico para a Unidade de Hemodinâmica. “Trata-se de uma área que tem de ter sempre alguém de prevenção. Precisamos de três médicos diferenciados para dar cobertura e não são de mais”, observa.

Quanto aos recursos humanos, o cardiologista menciona que estão a aguardar autorização para contratar mais três médicos. “São indispensáveis para suprir as nossas necessidades atuais”, observa, acrescentando que se verificam também carências no que respeita aos enfermeiros e técnicos.



O Serviço dispõe de 23 camas de internamento na Unidade de Vila Real e de 6 na Unidade de Chaves. A UCIC, com 8 camas, tem uma taxa de ocupação superior a 80%. Os cardiologistas colaboram ainda, obviamente, com o Serviço de Urgência Geral e com os outros serviços do hospital, "já que nos dias de hoje a Cardiologia é uma especialidade fundamental no apoio a muitas outras como a Nefrologia e a Oncologia, por exemplo".

Quando questionado acerca do futuro, refere que “os projetos são imediatos”: “Queremos completar a nossa diferenciação nas áreas que iniciámos mais recentemente, conseguir os recursos tecnológicos que temos em falta e contratar mais médicos com urgência.”



Reabilitação Cardíaca: nova valência "em que se deve investir cada vez mais”

“A Reabilitação Cardíaca é uma área em que cada vez mais se deve investir, tanto para prevenção primária como secundária", afirma José Paulo Fontes, coordenador da Unidade de Reabilitação Cardíaca do Serviço de Cardiologia.

De acordo com o médico, que coordena igualmente o Grupo de Estudo de Fisiopatologia do Esforço e Reabilitação Cardíaca da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, "trata-se de uma terapia complementar à medicamentosa, com mudança de estilos de vida, hábitos de exercício e controlo de fatores de risco".

E continua: “Está provado que diminui os eventos cardíacos, os internamentos, o absentismo ao trabalho e as recorrências às urgências. É uma área muito importante.”


José Paulo Fontes

Apesar de ter diferenciação em Arritmologia, a sua atividade principal, José Paulo Fontes sempre se sentiu motivado para a promoção da saúde, nomeadamente através da prática regular de exercício físico, treino de adaptação ao esforço e combate do sedentarismo.

Segundo conta, a Unidade de Reabilitação Cardíaca começou a funcionar ativamente há cerca de um ano. Nos primeiros meses, foram sendo feitos ajustes e modificações, encontrando-se desde março de 2018 com a atual estrutura e sob a sua coordenação.

No entanto, é um projeto que tem ainda muitas limitações, tanto em termos de espaço como de recursos humanos, e que precisa de crescer e desenvolver-se. O cardiologista explica que está dedicado à Unidade a tempo parcial, tal como sucede, aliás, com o fisiatra e os dois fisioterapeutas da equipa, havendo dois enfermeiros a tempo inteiro.



“Temos também a colaboração de outras áreas, como a Psiquiatria, a Nutrição e a Pneumologia. E ainda de uma cardiologista que faz as palestras educacionais. O ideal seria abranger mais gente, mas, para já, isso não é possível”, refere.

José Paulo Fontes reconhece que a Unidade dá uma resposta muito limitada tendo em conta as necessidades, ou seja, o número de doentes com indicação para entrar no programa: “Com os recursos humanos que temos neste momento, não conseguimos dar apoio a todos os doentes. O que fazemos é selecionar os mais emergentes. Mas acredito que seja possível vir a ter uma equipa maior.”



A fase 1 da reabilitação é assegurada a todos os doentes que estão internados. A fase 2, após a alta, é composta por 24 sessões de programa, com cerca de uma hora e meia cada, e oito sessões educativas, abertas também aos familiares.

“Nalguns casos haveria benefício em realizar mais sessões, mas neste momento não o estamos a fazer, para podermos inserir outros doentes no programa”, esclarece o cardiologista.

“A UCIC representa um desafio constante”

Teresa Pires é a enfermeira responsável do Serviço de Cardiologia e uma das profissionais envolvidas, em março de 1995, na abertura da Unidade de Cuidados Intensivos Cardíacos. Exercer funções na UCIC representa um “desafio constante”, uma vez que ali são prestados cuidados ao doente com patologia cardíaca em situação crítica.

“Cada vez temos mais doentes e mais complexos, mas é muito gratificante. Tentamos sempre que a prestação de cuidados seja feita de forma rápida, atempada, equitativa e rigorosa, até porque queremos prepará-los para assumirem a sua vida com qualidade e o mais rápido possível. Obviamente, nunca esquecendo a promoção da saúde, a prevenção da doença e a reabilitação cardíaca”, afirma.


Teresa Pires

De acordo com Teresa Pires, a equipa de enfermeiros acaba por criar uma grande relação de proximidade com os doentes, fazendo com que se sintam muito acarinhados.

“Quando têm alta ou são transferidos para outra unidade hospitalar dizem-nos que foram bem cuidados e que estão agradecidos. Alguns ficam emocionados. Esta é a nossa contrapartida, o reconhecimento dos doentes, das famílias e dos cuidadores em relação ao desempenho da equipa de saúde. É isso que nos dá motivação para continuarmos a dar o nosso melhor”, observa.

Teresa Pires assumiu funções de enfermeira responsável em 2013, algo que, segundo conta, tarefa que sempre protelou ao longo da sua vida profissional, mas que acabou por aceitar. É muito exigente consigo mesmo e, “para liderar a equipa”, tem feito formação, associada à experiência que vem adquirindo com a prática diária.

Em relação aos recursos humanos, refere que “as dificuldades são vivenciadas em todas as áreas da prática de cuidados da mesma forma, no entanto, podiam ser obviadas com a admissão de mais enfermeiros”.



“Somos imprescindíveis para o funcionamento do Serviço”
 
A cardiopneumologista Alice Santos trabalha no Hospital de São Pedro, em Vila Real, há cerca de 30 anos, tendo assumido a função de coordenadora daqueles técnicos há pelo menos 25. Considera que o CHTMAD é, em geral, um bom local para trabalhar e que o Serviço de Cardiologia, em particular, é muito “interessante e envolvente”.

“É um Serviço com muitas valências, um desafio contínuo que, exigente profissionalmente, nos obriga a evoluir e a querer fazer sempre mais e melhor”, refere, acrescentando que "os 11 técnicos são insuficientes para dar cobertura a todas as áreas e ainda dar apoio à Urgência”.


Alice Santos

Tal como explica, os cardiopneumologistas são responsáveis pela realização de todos os exames – eletrocardiograma, ecocardiograma, prova de esforço, holter e MAPA. Além disso, dão apoio na realização de ecos transesofágicos e ecos de sobrecarga.

Integram ainda as equipas multidisciplinares na implantação de devices – pacemakers, CRT-D, CRT-P – e também na realização de cateterismos, na área da Hemodinâmica. Dão também apoio às consultas de follow up e à Consulta Geral de Cardiologia.

“Basicamente, este grupo profissional participa em toda a atividade assistencial do Serviço, contribuindo para a sua permanente diferenciação. É muita coisa, com um número tão restrito de TSDT. No mínimo, precisaríamos de pelo menos mais três técnicos para assegurar o normal funcionamento do Serviço de Cardiologia. Todos os dias, vou tentando gerir da forma mais adequada.”



“A ressonância é, sem dúvida, uma mais-valia para os doentes desta região”

O CHTMAD dispõe, desde Setembro de 2018, de um aparelho que permite a realização de ressonância magnética cardíaca. Catarina Ferreira, cardiologista responsável por esta área, mostra-se muito satisfeita com a nova aquisição, afirmando que “era o que faltava para completar o ciclo de toda as áreas de diferenciação da Cardiologia”.

“Este exame permite uma avaliação morfológica e funcional e uma caracterização tecidular exaustivas, podendo muitas vezes ser a chave para o diagnóstico e evitar outros exames complementares, nomeadamente invasivos”, afirma.


Catarina Ferreira

A cardiologista acrescenta ainda que “esta ressonância permite a realização de estudos cardíacos com aquisição de mapas de T1 e T2, o que apresenta valor diagnóstico e prognóstico adicional na avaliação de diferentes patologias cardíacas”. Este exame de diagnóstico é feito em parceria com o Serviço de Radiologia, cujo responsável é Alexandre Carneiro.

“A ressonância cardíaca é, sem dúvida, uma mais-valia para os doentes desta região, sendo possível, pela primeira vez, a realização deste exame no hospital público de referência para a área da Cardiologia em Trás-os-Montes e Alto Douro”, termina.



A reportagem completa, que inclui entrevistas com outros profissionais do Serviço de cardiologia, pode ser lida na LIVE Cardiovascular.

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