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USF Mare: doentes crónicos com apoio psicológico em Cascais

Pouco mais de um ano após a inauguração, a USF Mare, na Parede, concelho de Cascais, continua sem ter o número suficiente de secretários clínicos, faltando também algum material de trabalho. Mas a vontade de prestar cuidados de qualidade não demove a equipa de se empenhar em novos projetos, como o apoio psicológico a doentes crónicos e a adolescentes.

A maioria da equipa, que tinha integrado a UCSP Parede, sonhava há vários anos com a passagem a modelo USF. Edith Proença, a coordenadora, refere mesmo que foi “o culminar de um sonho”.



Médica de família há mais de 30 anos, fez a sua carreira sobretudo na Parede e foi conhecendo bem a realidade da população ao longo destas décadas. Um dos principais problemas que enfrentava na UCSP Parede, como coordenadora e médica, eram os cerca de 30 mil utentes sem médico de família.

“A situação tornou-se praticamente insustentável para todos nós – médicos, enfermeiros, secretários – e era preciso fazer alguma coisa, porque as pessoas têm todo o direito em ter acesso a cuidados de saúde de qualidade e nós, profissionais, temos de ter as condições necessárias para os podermos prestar”, indica.


Edith Proença

A coordenadora recorda-se bem das filas para se conseguir uma consulta do dia e de como era difícil gerir todos os casos de doença. Atualmente, isso já não acontece: “Desses 30 mil utentes, apenas 3 mil continuam sem médico de família, sendo atendidos pela UCSP Parede, que continua a existir. Aliás, ainda faço a gestão da UCSP e sou coordenadora do atendimento complementar da Parede ao fim de semana.”

Situada no rés-do-chão, a USF Mare partilha o espaço com a UCSP Parede. No edifício existem mais duas USF: a Kosmus e a Artemisa, assim como a Unidade de Recursos Assistenciais Partilhados (URAP) e a Unidade de Cuidados Continuados Girassol.



Se há um ano a equipa era constituída por 6 médicos, 6 enfermeiros e 4 secretários clínicos, desde fevereiro deste ano têm mais uma médica e uma enfermeira. “Ficam-nos a faltar mais secretários clínicos, que são o grupo mais deficitário nos cuidados de saúde primários”, queixa-se.

Para Edith Proença, a passagem a USF não significa que esteja tudo feito: “É um trabalho de continuidade, que conta com pessoas da minha idade, mas também com alguns jovens; apostamos na prestação de cuidados de qualidade à população, não deixamos de refletir o passado e procuramos fazer sempre mais e melhor.”

Como explica, “todos os dias temos que nos reestruturar, ou seja, há uma adaptação constante, porque falta alguém por doença ou por licença de maternidade, além de que os desafios estão sempre a surgir”.

O facto de ser uma unidade nova também exige um maior esforço: “O modelo organizacional USF não é estanque, daí que nas nossas reuniões semanais encontremos sempre algo para mudar. Também estamos ainda a consolidar a equipa, que só ficou completa ao fim de um ano, excetuando no caso dos secretários clínicos.”

Falta de secretários clínicos e de material

Apesar de o sonho se ter tornado realidade, Edith Proença realça que, atualmente, a criação de uma USF não obedece aos mesmos parâmetros do ano de 2008, quando começaram a surgir as primeiras unidades. Exemplo disso é a dificuldade em contratar profissionais e em adquirir material: “O exemplo mais flagrante é o do Secretariado Clínico, que apenas ao fim de 1 ano e 3 meses conseguiu ter o que precisava para guardar processos.”

E continua: “Era muito difícil procurar um processo e a única forma de os guardar era em cima da mesa e no chão. Imagine-se o que o Secretariado Clínico não passou ao longo deste período de tempo, quando se estava a adaptar ao novo modelo organizacional…”



Mas o problema deste grupo profissional ainda não está totalmente resolvido: “Aguardamos a chegada do quiosque eletrónico, que é uma mais-valia muito grande, porque dessa forma os médicos e os enfermeiros podem saber se os doentes já chegaram, ou se confirmaram as consultas, o que não acontece neste momento.”

As falhas não se ficam pelo Secretariado Clínico. Há outros bens materiais que ainda não chegaram ou que esperam remodelação. “A climatização não existe, há ventoinhas avariadas e, principalmente a meio da tarde, o calor é muito intenso no verão, havendo, inclusive, doentes a queixarem-se”, relata a médica.

Na sala da Enfermagem conseguiu-se ter ar condicionado, mas por meios próprios. “Os enfermeiros juntaram-se e compraram um aparelho, para conseguirem suportar o calor. Mesmo assim, nos dias mais quentes, têm de fechar os estores e ligar a luz”, relata Edith Proença.

A sinalética apenas foi colocada nalguns gabinetes, onde decorreram obras antes da inauguração da USF. Também nessa altura se passou a ter uma sala de espera para a Saúde Infantil e outra para a Saúde de Adultos, já a pensar no espaço para a USF.

“Mas continua a faltar um cadeirão para o Cantinho da Amamentação, porque o que temos está completamente obsoleto e não é adequado para amamentar, apesar de o ACES Cascais se estar a candidatar a Unidade Amiga dos Bebés”, refere a coordenadora.

Outro material em falta inclui os biombos e as craveiras, sendo estas últimas essenciais para a Saúde Infantil.



As vantagens do apoio psicológico

Mas não há apenas coisas menos boas ao fim de pouco mais de um ano de atividade da USF Mare. Edith Proença destaca a maior organização e o trabalho em equipa, “o que é fundamental para se conseguir ultrapassar os desafios diários de uma unidade”.

Essa união entre todos e o facto de acreditarem que o modelo USF é o melhor, sobretudo para os utentes, também tem contribuído para o desenvolvimento dos primeiros projetos. O que mais se destaca é o Projeto de Intervenção Psicológica na Doença Crónica, que envolve a USF Mare e uma psicóloga da URAP.

Como explica Liliana Coelho, médica associada ao projeto, “o objetivo é ajudar os doentes que não aceitam determinada patologia ou que não aderem tão facilmente à terapêutica a mudarem a sua atitude, para se evitar a agudização da sua condição”.


Liliana Coelho

Para já, apesar de recente, já há bons resultados. “Nota-se que quem é acompanhado pela psicóloga já cumpre melhor a terapêutica, com todos os ganhos que daí advêm para a sua saúde. Começámos pela diabetes, mas o ideal seria incluir outras patologias”, frisa Liliana Coelho. O problema está na falta de recursos humanos: “Apenas temos uma psicóloga para abranger um tão grande número de utentes.”

Edith Proença fala ainda de outro projeto que está a dar os primeiros passos. Trata-se de uma consulta para adolescentes, "porque é uma fase da vida com algumas especificidades e seria importante contar, sempre que necessário, com o apoio de mais psicólogos.”

Como explica, “todos nós procuramos que os jovens se sintam à vontade para vir falar connosco e muitos até vêm ter com o seu médico ou enfermeiro de família, sem os pais saberem; mas a Psicologia seria, de facto, uma mais-valia.”



No futuro, surgirá com certeza o momento de passar a modelo B, mas Edith Proença prefere não falar em datas. “É um trabalho de continuidade, é um passo que, inevitavelmente, fará parte do crescimento da USF”, diz.



A reportagem completa pode ser lida no Jornal Médico dos cuidados de saúde primários de junho, onde também são entrevistados outros profissionais da unidade: Anabela Roque, enfermeira de família, e Ricardo Neves, secretário clínico.

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