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USF Afonsoeiro investe na formação dos profissionais em cuidados paliativos

Recém-especialista em Medicina Geral e Familiar, Daniel Canelas partiu de Vila Nova de Gaia, onde fez o internato, para integrar a equipa da USF Afonsoeiro, no concelho do Montijo. Vê, assim, na Margem Sul a oportunidade de criar e desenvolver os cuidados paliativos numa região onde ainda há uma resposta comunitária insuficiente.



Atualmente, Daniel Canelas divide-se entre os doentes da USF Afonsoeiro e o projeto do que virá a ser, em breve, a Equipa Comunitária de Suporte em Cuidados Paliativos (ECSCP) do ACES Arco Ribeirinho. Abrangendo o ACES uma região muito vasta, onde as localidades mais extremas distam quase 60 km, a ideia é começar-se por um polo e ir-se progressivamente expandindo até cobrir toda a área de influência.


Daniel Canelas

“O envelhecimento da população e o aumento das doenças crónicas exigem cada vez mais uma aposta em cuidados paliativos, que não se cingem apenas ao fim de vida. Disponibilizar CP é também dar apoio a quem precisa de aliviar o sofrimento decorrente de um problema grave de saúde”, esclarece.

Tendo tido contacto com os CP quando fez o Internato do Ano Comum no Centro Hospitalar de Setúbal, nunca mais deixou de pensar naqueles doentes que tantas vezes acabam esquecidos dentro do SNS. O “bichinho” pelos CP levou-o, inclusive, a integrar a Iniciativa Médica 3M (IM3M), que investe na formação dos profissionais de saúde em Cuidados Paliativos, Geriatria e Dor.

“Os CP devem ser uma área de intervenção de qualquer médico de família, daí ser fundamental que todos tenham os conhecimentos necessários para saberem detetar, atempadamente, situações que exigem este tipo de resposta”, afirma.



Conseguir-se-ia, assim, uma avaliação e uma referenciação precoces, evitando-se um sofrimento maior por parte do doente e, até mesmo, da família. “O objetivo é acompanhar o quanto antes a pessoa para que possa viver com mais qualidade e, nos casos de fim de vida, dá-se-lhe a possibilidade de ter uma morte mais humana. O risco de luto patológico na família também é diminuído”, refere.

Continuando: “Os CP são um direito da população, por isso, todos devem ter acesso aos mesmos e o especialista em MGF é aquele que tem o privilégio de conseguir uma maior proximidade e a competência de ter uma visão holística do estado de saúde e da condição biopsicossocial do doente, que lhe permitirá agir mais cedo.”

Daniel Canelas reforça que, com a ajuda do médico de família capacitado em CP, poderá ser possível morrer em casa, junto dos familiares, um desejo que é comum.

O fim que poderia ser, assim, “mais digno”, “menos escondido e solitário” e sem a chamada obstinação terapêutica. “Ainda assistimos a intervenções fúteis porque não há formação adequada, sobretudo no pré-graduado. Mesmo no ensino pós-graduado, é preciso sermos nós a demonstrar interesse”, sublinha.



Esta lacuna obriga a uma mudança de paradigma a todos os níveis, segundo o especialista, porque a população vive cada vez mais anos com patologias crónicas: “É preciso capacitar todos os profissionais de saúde, mas também a população, para que se desmistifique o que são os CP e para que todos os que precisem tenham acesso.”

A ECSCP do Arco Ribeirinho está, para já, em fase embrionária, esperando, sobretudo, a alocação de recursos humanos, porque os interessados têm de ter quem os substitua nas atuais funções.

Apesar deste contratempo, o jovem médico acredita que se avance em breve, já que têm “todo o apoio” por parte do ACES e da ARS Lisboa e Vale do Tejo.




Cuidados Primários e a ligação à URAP... à distância de um corredor


Enquanto se aguardam mais recursos humanos para a criação da ECSCP, na USF Afonsoeiro vê-se neste projeto a possibilidade de todos os profissionais estarem mais atentos às necessidades de quem se vê incapacitado, de algum modo, por causa de uma doença.

Para Fábio Azevedo, coordenador desde setembro do ano passado, ter um médico com formação em CP na equipa da Unidade é uma mais-valia a não perder. Ele próprio há muito que se interessa por CP, lamentando o facto de se tratar de uma disciplina opcional nos cursos de Medicina. “É uma área que faz toda a diferença na vida dos utentes e das suas famílias e na qual o médico de família pode ter um papel importante”, diz.


Fábio Azevedo

Espera, assim, que a ECSCP seja criada dentro em breve e que se intensifique também a formação com a ajuda de Daniel Canelas, mesmo que, numa fase inicial, tenha que gerir a falta de um elemento. “É sempre um desafio, porque os recursos nunca são suficientes, mas vale a pena”, assegura.


Quanto à possibilidade de se criar uma consulta programada de CP na USF, considera que o caminho não deve ser esse. “A maioria dos cuidados acontece no domicílio ou deve-se a episódios de agudização, logo, o conceito tradicional de consulta não responde às necessidades destes utentes e seus familiares.”

Estando à frente da USF Afonsoeiro há menos de um ano, um dos principais objetivos de Fábio Azevedo, além da promoção dos CP, é uma maior articulação e colaboração com a Unidade de Recursos Assistenciais Partilhados (URAP) do ACES Arco Ribeirinho.



Um trabalho que é facilitado por a URAP estar localizada no mesmo edifício da USF e por permitir aos utentes desta Unidade terem acesso à Saúde Oral e à Fisioterapia no mesmo local onde vão ter com o médico e o enfermeiro de família.

“Estarmos à distância de um corredor, facilita muito o contacto e a troca de informações sobre os diferentes casos clínicos.” Por outras palavras, “não nos cingimos ao envio de alguns dados predefinidos, escritos no computador, como têm de fazer os colegas do restante ACES”.


Elementos da URAP: Filipa Almeida, Rosa Palmas, Lina Brás e Tiago Silva


Proximidade e humanização de cuidados

Alda Gisela Monteiro, recentemente nomeada presidente do Conselho Clínico e de Saúde do ACES Arco Ribeirinho, juntamente com os restantes elementos da equipa, está a conhecer e a dar-se a conhecer, visitando as unidades funcionais, onde sempre pertenceu, como médica de família e coordenadora da USF Lavradio.

Um dos projetos que tem em cima da mesa para análise é o da criação da ECSCP, assumindo que é, de facto, “uma enorme mais-valia poder-se apostar em CP, sobretudo numa região tão vasta como a nossa, onde a resposta é escassa e a necessidade prioritária”.



Como presidente do CCS e como médica de família, reconhece que os profissionais de saúde, nomeadamente os especialistas em MGF, carecem de formação em CP:

“A base dos cuidados de saúde primários é a proximidade e a MGF deve ser vista com a abrangência que lhe é característica, mas com capacidade de integração deste e de outros campos de atividade.”

A responsável espera poder-se avançar com a equipa nos próximos tempos, para que “os utentes tenham a qualidade de vida e a dignidade a que têm direito num momento tão vulnerável”.

E ainda acrescenta ser “uma oportunidade para investir no ACES, que também é a nossa casa, e que deve envolver todos os profissionais e a própria comunidade”.


Alda Gisela Monteiro e Miguel Lemos

Espera-se, entretanto, que existam os recursos humanos necessários, como realça Miguel Lemos, diretor executivo:

“Os CSP não conseguem criar equipas sozinhos e de um dia para o outro; é preciso investir em políticas de saúde orientadas para a promoção dos cuidados paliativos nos CSP que, entre outras coisas, garantam a possibilidade dos profissionais terem apoio financeiro para a obtenção da formação exigida (intermédia e avançada), que até ao momento continua a estar a cargo de cada um.”

Sendo, todavia, um entusiasta dos CP, considera que se está perante “uma necessidade emergente dos CSP” e que este tipo de projetos deve ser “acarinhado e desenvolvido”. “Não falamos apenas de situações de fim de vida, mas também de controlo de sintomas, como a dor. É uma aposta, sem dúvida, na qualidade de vida e na humanização”, afirma.


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