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Prevenção da diabetes: novo projeto nacional da DGS vai ser o mais inclusivo possível

A implementação de um projeto nacional de prevenção da diabetes mellitus (DM) é um dos principais objetivos da coordenadora do Programa Nacional para a Diabetes da Direção-Geral da Saúde (PND-DGS). Em funções desde janeiro deste ano, Sónia do Vale, endocrinologista, quer reforçar a promoção de hábitos de vida saudáveis, para se evitar o aumento da prevalência de uma doença que é uma epidemia mundial.

“A DM é uma preocupação e um desafio para todos e este projeto de prevenção, de âmbito nacional, terá dois componentes essenciais: o diagnóstico realizado na sequência do questionário de cálculo de risco e ações de informação e formação para a promoção de hábitos saudáveis”, refere.

Na sua opinião, a aplicação do questionário de risco nos cuidados primários é relevante, pois “mais facilmente se sabe quem apresenta maior predisposição para ter DM e, sendo tomadas as devidas medidas, pode-se evitar o seu surgimento”.

E acrescenta: “Perante o diagnóstico, encaminha-se a pessoa para a consulta, a fim de se iniciar o tratamento mais adequado. Caso não tenha doença, mas existindo um risco aumentado, convidamo-la para um programa de educação para a saúde no qual, idealmente, se aborde a relevância do exercício e da atividade física.”

Apesar de ainda estar em fase de preparação, Sónia do Vale acredita que haverá todas as condições para se avançar já em 2020 com o projeto nacional:

“Além da DGS, será fundamental o envolvimento dos cuidados de saúde primários, esperando-se também a participação de outras entidades, nomeadamente, as que já têm no terreno projetos locais de promoção da saúde. As autarquias podem ser um elo importante, principalmente na componente do exercício e da promoção da atividade física.”


Sónia do Vale

A responsável sublinha que, neste processo, há um parceiro que nunca pode faltar: “O cidadão tem de estar envolvido, aderindo à mudança de comportamentos de risco. No PND também se irá reforçar a utilização da avaliação de risco disponível online, no portal SNS, de modo a que, caso seja necessário, a própria pessoa marque uma consulta para o médico de família.”

Sónia do Vale explica à Just News que o objetivo é criar “um programa nacional, de base única, com materiais iguais em todas as regiões, apesar de, obviamente, haver ajustes a nível local, por causa das diferentes realidades e necessidades”.

UCFD: "é um modelo muito importante"

Outra medida que está nos planos da nova diretora do PND prende-se com as unidades coordenadoras funcionais da diabetes (UCFD): “Apesar dos constrangimentos que estas unidades têm sentido nos últimos tempos, é um modelo muito importante, que agiliza a comunicação entre todos os que trabalham diretamente com a DM, como médicos e enfermeiros
dos CSP, cuidados hospitalares e da Saúde Pública.”

Daí que, anuncia, “o PND pretende manter ou reativar as UCFD (consoante a dinâmica de cada unidade), estando prevista a nomeação das equipas, para entrarem em funções no início de 2020”. Questionada sobre as dificuldades que têm enfrentado, Sónia do Vale reconhece a complexidade de recursos humanos e materiais. Mas diz que “a maior parte das regiões têm UCFD, mesmo que não tenham sido formalmente nomeadas”.

No seu entender, “é fundamental que haja comunicação entre os profissionais dos cuidados primários e secundários para se conseguir prestar os melhores cuidados à população. A nomeação mais formal é importante, porque facilita os contactos. Contudo, as pessoas conhecem-se e têm vontade de lutar contra esta doença, que é uma preocupação de todos”.

Reforço da parceria com programa “Diabetes em Movimento”

Outras medidas estão também em cima da mesa, como a norma que visa agilizar o diagnóstico e tratamento do pé diabético:

“Estamos quase na fase final. O objetivo é criar recomendações que ajudem na avaliação, referenciação e tratamento do pé diabético, que é uma complicação grave da DM.” Ainda no mesmo âmbito, Sónia do Vale pretende ver alargado o rastreio da retinopatia diabética. “Apesar dos avanços, ainda não está implementado em todos os agrupamentos de centros de saúde (ACES), temos, por isso, margem para crescer”, afirma.

E destaca outro problema que não deve ser esquecido: “É preciso apostar na informação, porque nem todas as pessoas sabem que o rastreio é feito nos CSP, o que, de alguma forma, acaba por influenciar a adesão ao mesmo.”

Nos próximos tempos, espera-se ainda uma parceria mais específica com o programa “Diabetes em Movimento”. Segundo Sónia do Vale, “como já é uma realidade em mais localidades, o objetivo é complementar as atividades com informação sobre a doença, tendo em conta que a prevenção secundária também é fundamental”.



"A DGS, sozinha, não consegue combater esta epidemia”
 

Sendo endocrinologista, Sónia do Vale acompanha o problema da diabetes há alguns anos e recorda que "continua a ser uma preocupação de todos porque, segundo os últimos estudos, a prevalência padronizada mantém-se nos 9,9%, ou seja, são números muito elevados e acima da média europeia. Contudo, relativamente ao diagnóstico, estamos a melhorar, pois, o número de pessoas que desconhece ter a doença vai diminuindo.”

A médica está, assim, otimista: “Na DM, os resultados só se veem a longo prazo, porque a mudança de hábitos de vida é essencial, quer na prevenção primária como na secundária. Um sinal positivo foi a recente diminuição da obesidade infantil, o que, esperemos, irá repercutir-se na prevalência da DM nos próximos anos. Mas precisamos de combater o sedentarismo e o excesso de peso na população em geral.”

Sónia do Vale realça ainda os vários projetos locais de promoção da alimentação saudável e do exercício e atividade física, que devem ser apoiados. “São diversas as entidades envolvidas na luta contra a DM. O segredo está precisamente nesse trabalho conjunto, já que a DGS, sozinha, não consegue combater esta epidemia”, frisa.

E lembra a última iniciativa da DGS, que visa, sobretudo, a comunidade escolar: “Agora em setembro, apresentámos, em Évora, o Crianças e Jovens com Diabetes Tipo 1 na Escola – Manual de Apoio aos Profissionais de Saúde e de Educação. Pretende-se, com esta iniciativa, promover a formação de profissionais de educação e saúde, mas também falar sobre diabetes tipo 1, de modo a que a criança não se sinta constrangida pela sua doença, chegando mesmo a esconder as agulhas.”

Em suma, “prevenção acima de tudo”, para se conseguir baixar os números da DM em Portugal.


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