«A Saúde Pública tem um papel chave a nível nacional e regional, mas especialmente local»
“O interesse pela Saúde Pública tem crescido”, assegura Gustavo Tato Borges, coordenador da Unidade de Saúde Pública (USP) de Gondomar. O médico preside atualmente à Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP), que deu início, hoje, ao seu 4.º Congresso Nacional.
Em entrevista à Just News, considera que “a Saúde Pública tem, neste aspeto, um papel chave a todos os níveis, nacional e regional mas especialmente local, estando perto não só dos hospitais, incluindo os privados, mas também dos Cuidados de Saúde Primários, permitindo que todos possam, de uma forma mais concertada, ir de encontro às necessidades da população”.
E salienta que, apesar de todas as dificuldades conhecidas, “nunca é demais recordar que o SNS tem tido resultados extraordinários em termos de saúde da nossa população e, portanto, é preciso continuar a potenciar isso”.
Gustavo Tato Borges
"Assumir um papel que permita unir as diferentes instituições"
A par do "rejuvenescimento" da Saúde Pública em Portugal, também a ANMSP tem vindo a ganhar uma nova dinâmica. Com mais de 300 membros, agrega uma parte significativa dos cerca de 450 especialistas existentes em Portugal, número esse a que se deverá adicionar mais umas largas dezenas de internos de Formação Específica.
Gustavo Tato Borges mostra-se, assim, otimista quando ao futuro: “O trabalho que tem vindo a ser feito de ir cativando novos internos a tornarem-se associados e de procurarmos recuperar alguns dos nossos colegas mais seniores permitirá com certeza robustecer a Associação, para que também possa representar o maior número possível de médicos de SP.”
A acompanhar esta evolução, “surgem outras ambições e mais exigências”, diz Gustavo Tato Borges. “Queremos, acima de tudo, que a SP assuma um papel que permita unir as diferentes instituições em torno de um objetivo prioritário, que é promover a saúde da população", observa. Mas não só. E acrescenta:
"Para além da assistência clínica, é necessário ter em atenção todos os condicionantes que alteram a nossa saúde, e estamos a falar de coisas tão simples como a alimentação, o tabagismo, o exercício físico, o ordenamento do território, os transportes públicos, a transição energética ou as alterações climáticas."
Gustavo Tato Borges: “Temos visto aumentar, nos últimos anos, o número de novos especialistas que têm entrado para a carreira de Saúde Pública”
"Queremos estar na vanguarda desta formação especializada"
O presidente da ANMSP salienta ainda a necessidade de haver “um planeamento em saúde cada vez mais orientado para aquilo que são efetivamente as necessidades da população”, fazendo referência às “novas ferramentas” que estão ao nosso dispor, como a inteligência artificial ou a georreferenciação.
“São aspetos relativamente aos quais os novos especialistas de SP estão mais atentos, mais disponíveis, porque a sua formação também está cada vez mais dirigida para campos específicos da SP. Penso que esta evolução levará, possivelmente, a mudanças na maneira como a SP vai trabalhar no futuro”, considera Gustavo Tato Borges, frisando que “a ANMSP quer estar na vanguarda desta luta, deste crescimento técnico, desta formação especializada”.
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"Não temos dois dias iguais"
Gustavo Tato Borges considera “fascinante” a área da Medicina a que está ligado. “Trabalhar em Saúde Pública é um desafio permanente, não temos dois dias iguais e, por isso, a rotina não existe!", afirma, e dá alguns exemplos:
"De manhã podemos ir fazer uma vistoria a uma escola e à tarde atender alguém que nos pede um mandado de condução à Urgência de Psiquiatria para um familiar. No dia seguinte poderá ter que se investigar uma doença epidemiológica ou analisar um conjunto de dados de saúde para um projeto. O nosso dia-a-dia é sempre diferente e com tarefas muitas vezes exigentes, mas, regra geral, apaixonantes."
A equipa alargada da USP Gondomar
A Unidade de Saúde Pública (USP) do ACES Gondomar, que coordena há praticamente dois anos, está instalada num edifício que acolhe igualmente a USF Amanhecer.
A contar consigo, são 6 os médicos de SP que integram a equipa – a que se adiciona um interno --, havendo uma vaga aberta para mais um sétimo especialista, aguardando-se neste momento a conclusão do concurso para se saber se a mesma fica ou não preenchida. Quanto às profissionais de enfermagem, elas são 3, “com espaço para mais um elemento”.
Dispondo de 4 técnicas de Saúde Ambiental, espera-se a finalização de um concurso que poderá fazer com que a USP Gondomar passe a dispor de mais 3. Adicionando os 2 pedidos de mobilidade que estão em análise, é possível que, em breve, esse número possa subir para 9, sendo certo que “poderíamos ter até 11 ou 12 técnicos, pois, devíamos ter um por cada 15.000 habitantes e o nosso ACES abrange 160.000”.
“Os técnicos de Saúde Ambiental são muito necessários, devido às várias tarefas que têm que assegurar, como a vigilância da água para consumo humano mas também das piscinas municipais e das nossas praias fluviais, ou tudo o que se prenda com a saúde ocupacional, por exemplo", sublinha Gustavo Tato Borges.
Na sua opinião, "são um braço bastante importante da SP, tal como os enfermeiros, com o papel que têm, nomeadamente, ao nível da vacinação ou do planeamento e da vigilância epidemiológica”. Faz ainda questão de referir a importância das duas assistentes técnicas da Unidade.
Reconhecendo tratar-se de “uma equipa bastante alargada”, acrescenta que “ainda poderia ser reforçada com nutricionistas, para salvaguardar a questão da educação para a saúde na área alimentar, e ainda psicólogos e sociólogos, para conhecermos melhor as características da nossa população”.
Adiciona depois “os estatísticos, para nos ajudar na investigação epidemiológica e com o estudo, nesse âmbito, de diversas áreas”, bem como o apoio jurídico, “por exemplo, na interpretação de determinadas leis ou responsabilidades”.
A entrevista completa pode ser lida na edição de novembro do Jornal Médico dos Cuidados de Saúde Primários.
