CHULN celebra 2 anos do projeto de telemonitorização na insuficiência cardíaca
Fausto Pinto, diretor do Serviço de Cardiologia do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, aproveitou o 2.º aniversário do lançamento do projeto de telemonitorização na insuficiência cardíaca para lembrar que foi “a grande vontade de fazermos o melhor pelos nossos doentes” que levou à sua concretização.
Fausto Pinto
“Foi com um grande interesse e orgulho que introduzimos esta componente da monitorização no programa de IC que implementámos no nosso Serviço. O grande desafio agora é sermos capazes de estendê-la a uma população de doentes maior”, afirmou o cardiologista, abrindo assim a sessão que teve lugar recentemente no Hospital de Santa Maria e na qual participaram muitos dos utentes incluídos no projeto de telemonitorização e seus familiares.
Lembrando que a IC “é um problema que, do ponto de vista clínico, tem vindo a assumir proporções cada vez maiores”, Fausto Pinto sublinhou que “isso também resulta do nosso sucesso, ou seja, do facto de tratarmos mais e melhor os doentes com patologia cardíaca”.
Fausto Pinto, que também dirige o Departamento de Coração e Vasos do CHULN, que o Serviço de Cardiologia integra, fez questão em agradecer a todos os profissionais envolvidos no projeto. “Têm sido dois anos de dedicação total de uma equipa multidisciplinar que tem, de facto, desenvolvido um trabalho muito estimulante e com resultados muito bons”, disse.
Luís Pinheiro
Luís Pinheiro, diretor clínico do CHULN, representou o Conselho de Administração na cerimónia e deixou expresso que “a telemonitorização é um dos paradigmas daquilo que deve ser o hospital do presente e do futuro, que olha para fora de si mesmo”. E insistiu: “O hospital tem que começar a assumir-se como uma instituição que extravasa completamente os seus limites em termos físicos.”
Um internamento a cada 28 minutos e um óbito a cada 3,8 horas
Dulce Brito, que coordena a Unidade de Internamento Geral do Serviço de Cardiologia do CHULN, tem sob a sua responsabilidade não só a gestão do projeto de telemonitorização mas também do próprio programa estruturado de seguimento de doentes com IC em que aquele está inserido: o RICA-HF Team (Registo de IC Aguda – Heart Failure Team).
Ao usar da palavra, a cardiologista fez questão de lembrar que, de acordo com estimativas de 2018, existirão no nosso país pelo menos 400 mil doentes com IC e que esta “é a primeira causa de internamento em Portugal e no mundo nos doentes com mais de 65 anos”.
Dulce Brito
Mais impressionante ainda é o facto de a IC ser responsável por um internamento nos hospitais portugueses a cada 28 minutos e por um óbito a cada 3,8 horas.
“A telemonitorização é realmente eficaz na prevenção das descompensações de IC, na redução das hospitalizações e na mortalidade”, afirmou a cardiologista, ressalvando, contudo, que a mesma “deve ser dirigida a populações específicas, constituída por doentes de alto risco, devendo ser implementada e monitorizada de forma a assegurar uma utilização e uma adesão elevadas”. O grande objetivo é, afinal, “conduzir e melhorar os cuidados prestados ao doente”.
“A telemonitorização é uma ferramenta útil quando integrada num contexto multidisciplinar que inclui proporcionar educação ao doente e ao seu cuidador, tratamento otimizado e apoio psicológico e social”, referiu Dulce Brito.
O cardiologista Afonso Nunes Ferreira integra o RICA-HF Team e coube-lhe apresentar alguns dados relacionados com o projeto de telemonitorização iniciado no final de 2017 e que permite seguir em suas casas cerca de três dezenas de doentes com IC, 24 horas por dia, 7 dias por semana.
Afonso Nunes Ferreira
“Contámos com uma adesão de 92% na transmissão de dados, de acordo com o protocolo estabelecido, e aquilo que verificámos foi que houve uma redução bastante significativa de 73% nas hospitalizações e na mortalidade quando comparámos este grupo com o do acompanhamento usual”, reportou o médico do Serviço de Cardiologia do CHULN.
Ao procurar-se avaliar a qualidade de vida subjetiva junto dos próprios doentes, mais de metade dos que participam no projeto de telemonitorização admitiu registar uma melhoria significativa, por oposição a apenas 16% dos doentes acompanhados de forma usual e a 32% dos que estão incluídos no programa estruturado.
Médicos, doentes e cuidadores celebram 2 anos do projeto de telemonitorização na insuficiência cardíaca e dos "resultados muito bons”
“Envolvimento das associações de doentes é essencial”
“Promover a prevenção da IC passa, antes de mais, por dar informação às pessoas sobre o que é a insuficiência cardíaca e que tipo de comportamentos é que podemos ter para prevenir, ou pelo menos limitar, o aparecimento desta patologia”, afirmou Luís Filipe Pereira, presidente da AADIC – Associação de Apoio aos Doentes com Insuficiência Cardíaca.
Luís Filipe Pereira
Dando uma ideia das atividades que a AADIC tem desenvolvido, Luís Filipe Pereira destacou as ações desencadeadas junto da população sénior, o que é fácil de justificar: “Não é que a IC atinja apenas os estratos etários mais idosos. Ela é transversal, mas não há dúvida de que, em termos percentuais, é nessas faixas que se concentra a maior parte das pessoas com IC.”
Fausto Pinto, que encerrou a sessão, haveria de salientar que “o envolvimento das associações de doentes é, hoje em dia, considerado como essencial”.
O cardiologista, que a 1 de janeiro de 2021 assumirá a presidência da Federação Mundial do Coração, afirmou que, “só para dar um exemplo, nos EUA e na Europa, as associações de doentes estão já a participar na elaboração de guidelines na área da IC, o que demonstra a perceção da importância que tem a voz da sociedade civil com interesse próprio no tema”.
Dulce Brito (ao centro) com elementos da equipa de médicos envolvidos no programa de telemonitorização