Serviço Social na Saúde: «Os valores da humanização são intrínsecos ao nosso agir profissional»
“Humanizar requer um cuidado especializado e pensado à medida da pessoa e os assistentes sociais são os profissionais que conhecem a pessoa como um todo.” As palavras são de Inês Espírito Santo, assistente social e uma das coordenadoras do 3.º Ciclo de Debates e Reflexão sobre "Serviço Social na Saúde", organizado pelo ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa.
Tendo como tema central “Humanização de Cuidados de Saúde: Contributos do Serviço Social”, o mais recente debate, que decorreu esta terça-feira, permitiu dar a conhecer as experiências do Gabinete de Cidadão e da Urgência do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central (CHULC), mas não só.
Também foi partilhado o trabalho desenvolvido no âmbito da equipa de Hospitalização Domiciliária do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia (CHVNG) e do Centro de Respostas Integradas – DICAD Alentejo.
De acordo com Inês Espírito Santo, em todas estas realidades ficou bem explícito o contributo e abrangência do Serviço Social na área da Saúde: “O cuidado especializado advém do conhecimento da condição prévia e atual da pessoa com doença. A prestação de cuidados humanizados começa por compreender e integrar essas mesmas vivências de forma empática, para promover o respeito e a capacitação da pessoa na sua singularidade e autodeterminação."
Inês Espírito Santo
Como acrescenta, é a forma de “reconhecer as competências e capacidades de cada cidadão e a interdependência face aos direitos e deveres que lhe são reconhecidos em sociedade”.
"Profissionais que conhecem a pessoa como um todo"
Com base também na sua própria experiência profissional, uma vez que está adstrita à Cardiologia de Adultos e Pediatria do CHULC - Hospital de Santa Marta, Inês Espírito Santo salienta que "um internamento hospitalar é sempre uma situação de crise, de insegurança e ansiedade" e desenvolve a ideia:
"Os assistentes sociais são profissionais que conhecem a pessoa como um todo, abordam diretamente as preocupações sociais, comportamentais e emocionais dos indivíduos, das suas redes de apoio, desenvolvendo e promovendo planos de alta, de forma a perspetivar positivamente a transformação e continuidade dos cuidados em segurança e qualidade.”
Daí que a assistente social considere que “os valores da humanização estão, e sempre estiveram, intrínsecos ao nosso agir profissional, que tem como principais metas a melhoria da qualidade de vida, a satisfação das necessidades e o exercício pleno das potencialidades da pessoa”.
Questionada sobre as condições do Serviço Social nos hospitais, a responsável garante que, “apesar dos recursos humanos estarem aquém das necessidades, podemos sempre marcar a diferença pela positiva”.
No que diz respeito à formação, a especialista relembra que “o processo de intervenção social na saúde tem subjacente a humanização de cuidados, além de um enfoque global, plural e de qualidade, o que exige ao assistente social um grande exercício de criatividade e capacidade de inovar práticas, formas e procedimentos de trabalho”.
Ajustar as ECCI "às necessidades biopsicossociais"
Inês Espírito Santo defende também que, na articulação entre cuidados sociais e de saúde, “as atuais Equipas de Cuidados Continuados Integrados (ECCI) deveriam ser repensadas e readaptadas às necessidades biopsicossociais presentes".
Na sua opinião, tal mudança é urgente, "tendo em conta a promoção de cuidados integrados e articulados, dirigidos às populações com patologia crónica, com co morbilidades, incapacidades funcionais associadas e, consequentemente, com necessidades sociais”.
A responsável menciona mesmo que “este poderá ser um dos caminhos futuros na melhoria dos cuidados às pessoas, à eficiência e eficácia das organizações de saúde”.
"Interprofissionalidade também apoia a identidade do assistente social”
O assistente social Jorge Ferreira é também co coordenador do Ciclo de Debates e realça, em declarações à Just News, a participação de outros grupos profissionais no recente debate:
“É tão relevante, que no presente estamos a desenvolver investigação no domínio da interprofissionalidade, analisando os currículos de formação e as práticas profissionais no domínio da ação social e da saúde:"
Inês Espírito Santo e Jorge Ferreira
Na sua opinião, esta partilha "facilita a análise dos aspetos pragmáticos e metodológicos na interação entre diferentes grupos profissionais em espaços institucionais”, mas também “apoia a identidade do assistente social, promovendo cuidados integrados de excelência ao cidadão”.
Relativamente à temática central do evento é categórico. Jorge Ferreira afirma que “a humanização não é uma política, mas sim um valor e, como tal, começa na educação. Logo, é na relação interdisciplinar que podemos melhorar e inovar a efetivação da humanização ao serviço da instituição e das pessoas.”
O Ciclo de Debates decorre no âmbito do Doutoramento em Serviço Social, integrado no Centro de Investigação e de Estudos de Sociologia e Escola de Sociologia e Políticas Públicas do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa.