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«Não deixem morrer a Dermatologia no Serviço Nacional de Saúde»

Provavelmente, boa parte dos dermatologistas que vão ler esta entrevista não trabalham em hospitais públicos. Com efeito, 70% dos cerca de 450 especialistas existentes em Portugal estão exclusivamente na atividade privada. Para o novo presidente da Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia (SPDV), Miguel Peres Correia, “esta é, inquestionavelmente, uma das grandes dificuldades da Dermatologia”.

Na sua opinião, a situação em Portugal consegue ser pior do que a que se vive em Espanha no que respeita à “falta maciça de dermatologistas” nas unidades públicas de saúde. "Este é um problema com cinco anos e que se tem vindo a acentuar”. E sublinha: "Somente 30% do total de especialistas, que serão cerca de 450, integram o SNS, sendo que apenas alguns deles estão exclusivamente na atividade pública."


Miguel Peres Correia: “É preciso criar condições para reter os jovens dermatologistas em Portugal, preferencialmente no SNS”

O médico diz que esta situação “cria dificuldades de vária ordem”, inclusive, no aspeto da formação dos internos, embora não em termos científicos, pois, “são indivíduos extraordinariamente capazes e com espírito de iniciativa, sendo que os instrumentos formativos que lhes são disponibilizados chegam para atingir um nível elevadíssimo”.

No entanto, “nem tudo assenta no conhecimento científico, havendo toda uma componente de excelência médica que depende dos aspetos humanos da prática da medicina”. Ora, “isso só se aprende vivendo, sendo médico e no contacto com colegas mais experientes, que transmitam sabedoria do ponto de vista humano, algo fundamental na aprendizagem em medicina”.

“Desde há anos que a Dermatologia atrai os médicos com melhor nota no exame de entrada para a especialidade”, sublinha Miguel Peres Correia, acrescentando: “São seres
humanos muito competentes, muito desejosos de fazer tudo muito bem feito, sendo que a formação se faz nos hospitais públicos e estes têm perdido os dermatologistas seniores de um modo muito considerável.”

Voluntariado de dermatologistas da SPDV no interior do país

A escassez de dermatologistas no SNS tem consequências óbvias: Há hospitais que deviam ter Dermatologia, "mas a verdade é que não possuem especialistas disponíveis". O presidente da SPDV cita Beja e Évora e refere o caso do CH Universitário do Algarve, que ficou sem resposta nesta área quando o seu único dermatologista se retirou por doença e agora tem três médicos, não existindo, contudo, um Serviço de Dermatologia.



“O que o Ministério da Saúde tem procurado fazer é desviar atividade da Dermatologia para a Medicina Geral e Familiar, mas isso não é solução nem para os doentes, nem para os próprios médicos de família”, afirma Miguel Peres Correia, adiantando que “vários membros da SPDV vão, em regime de voluntariado, a zonas do interior do país onde é o deserto total e absoluto em termos de dermatologistas”.

E não deixa de salientar que a Dermatologia é hoje “muitíssimo mais necessária do que há uns anos, havendo mais doenças de diversa natureza, mais cancro de pele, a aparência passou a ser algo bem mais importante do que antes...”

“Devia haver um pensamento novo em relação aos cuidados que se oferecem em Dermatologia à população portuguesa no âmbito do SNS.  Procurar e encontrar novas soluções”, conclui o médico, lembrando haver hospitais onde o tempo de espera por uma consulta desta especialidade chega a ser superior a um ano.

“Salvar a Dermatologia no SNS seria uma obra fantástica”, considera Miguel Peres Correia, o que terá que passar, no seu entender, por “rever aspetos ligados à satisfação profissional dos especialistas, sendo a questão da remuneração somente um deles”. E insiste: “Pedimos apenas que não deixem morrer a Dermatologia no SNS."

Formação a médicos de Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe

Com uma relação particularmente estreita com a Dermatologia espanhola, que é das mais conceituadas a nível mundial, a par da alemã e da norte-americana, “não estando a portuguesa muito atrás de qualquer uma delas, temos reforçado a nossa posição no universo dos países africanos da lusofonia".


1 de janeiro de 2019 marcou o início daquele que deverá ser – pelo menos, tem sido essa a tradição – o primeiro de dois mandatos, com dois anos cada, do novo presidente da SPDV

”É cá que os colegas de Angola e de Moçambique obtêm formação e têm respaldo no que diz respeito à educação médica contínua e isso é algo muito engrandecedor para nós. Estamos, entretanto, à beira de conseguir estabelecer a Dermatologia em São Tomé e Príncipe, uma obra notável concretizada em parceria com o Instituto Marquês de Valle Flôr e o Ministério da Saúde são-tomense”, revela Miguel Peres Correia.

Também está prevista a concretização, agora em fevereiro, de uma ação em Moçambique, em cooperação com uma associação de doentes com albinismo: “Haverá 20 a 30 mil albinos naquele país africano, que sofrem de uma doença que é essencialmente dermatológica e que morrem cedo de cancro de pele, quando não são vítimas mortais de um conceito social perverso.”



A entrevista completa pode ser lida no Hospital Público de janeiro.

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