Psiquiatria: Consulta de Crise permite orientação mais célere e evita internamentos em Braga
"Esta Consulta ajudou-nos muito na pandemia e vai continuar a funcionar porque consideramos ser uma mais-valia para o Serviço”, afirma Joana Mesquita, coordenadora da Consulta Externa do Serviço de Psiquiatria do Hospital de Braga.
Em declarações à Just News, esclarece que "a Consulta de Crise permite ser uma ponte para doentes que apresentam uma gravidade importante e até podem ter critérios para internamento, mas em que o mesmo é evitado graças a uma avaliação e orientação muito mais célere da situação clínica".
Relativamente à referenciação para esta valência, "tem que ser feita por um psiquiatra, que identifica o caso na Urgência ou através da Psiquiatria de Ligação, devendo ser idealmente marcada num prazo de duas a três semanas".
À semelhança das outras consultas específicas disponibilizadas pelo Serviço de Psiquiatria (Perturbações do Comportamento Alimentar, Gerontopsiquiatria, Comportamentos Suicidários, Perturbações Bipolares e Perturbações do Espetro Obsessivo-Compulsivo), também a Consulta de Crise tem dois psiquiatras a assegurar o seu funcionamento, cada um deles dedicando à mesma cerca de quatro horas por semana.
Joana Mesquita
Uma ideia que “já vinha a ser ponderada há algum tempo”
Foi precisamente durante a pandemia, em 2020, que se avançou com a criação da Consulta de Crise, uma decisão que “já vinha a ser ponderada há algum tempo” e que acabou por ser oportuna, justifica a médica:
“Começámos a verificar que os doentes não apareciam tão frequentemente no Serviço de Urgência Psiquiátrico, mas que, quando o faziam, apresentavam um quadro clínico muito mais grave, fazendo aumentar o número de casos que necessitavam de internamento, sendo que a nossa disponibilidade de camas continuava a ser a mesma."
Por outro lado, as Casas de Saúde do Bom Jesus e de São João de Deus, "que sempre deram apoio ao nosso Serviço no que concerne aos internamentos, durante a pandemia, deixaram de conseguir receber tantos doentes como antes da Covid-19.”
Pandemia obrigou a uma "grande adaptação" das consultas
A coordenadora da Consulta Externa de Psiquiatria do Hospital de Braga, responsabilidade que assumiu a partir de outubro de 2018, reconhece que o período da pandemia “foi difícil, obrigando a uma grande adaptação a nível das consultas”.
Desde logo porque, nesta especialidade, “a consulta não presencial gera um grande constrangimento porque, obviamente, não é a mesma coisa que avaliar um doente psiquiátrico fisicamente à nossa frente”.
“E, mesmo quando esse modelo de consulta já tinha sido praticamente extinto, tivemos que manter a utilização da máscara, o que fazia com que existisse uma grande perda de informação a nível da psicopatologia. A aferição do exame do estado mental não tem a ver somente com aquilo que o doente verbaliza, mas com tudo o que faz parte da postura, de toda a comunicação não-verbal, e a máscara fazia com que isso se perdesse parcialmente”, refere Joana Mesquita.
As coisas ainda se complicavam mais nas consultas de Gerontopsiquiatria, envolvendo “uma faixa etária superior, frequentemente com dificuldades auditivas associadas e que, pela hipoacusia, não conseguiam muitas vezes sequer perceber o que estávamos a dizer, com a máscara colocada”.
"Capacitação dos médicos de família"
Joana Mesquita adianta ainda que, em colaboração com a Unidade Multidisciplinar de Tratamento Cirúrgico da Obesidade, existe agora uma segunda Consulta de Perturbações do Comportamento Alimentar, específica para a avaliação e realização de parecer psiquiátrico no que diz respeito a possíveis contraindicações psicopatológicas para cirurgia bariátrica, com ganhos na diminuição do tempo de espera para a sua realização.
A responsável faz questão de destacar ainda a elaboração de um Protocolo de Referenciação para Consulta Externa de Psiquiatria, em aplicação desde 2018, “que foi uma mais-valia porque ajuda a distinguir os doentes que devem ser acompanhados nos cuidados de saúde primários (CSP) e os que devem estar englobados na Consulta de Psiquiatria”.
De notar que o conteúdo do documento foi submetido à apreciação dos profissionais dos CSP antes de dado como concluído, tendo de seguida sido realizadas ações de formação visando a capacitação dos médicos de família ao nível do tratamento, para melhor lidarem com as situações com que se deparam.
"Melhorar a qualidade e garantir a acessibilidade"
“O que se tem pretendido com as reestruturações que têm sido feitas ao longo do tempo é procurar melhorar a qualidade dos cuidados que prestamos”, sublinha o diretor do Serviço de Psiquiatria, António Sousa Cepa, dando exatamente como exemplo as adaptações levadas a cabo no sentido de se dar prioridade às patologias mais graves, procurando que as mais ligeiras possam ser acompanhadas nos Cuidados de Saúde Primários.
António Sousa Cepa
“Garantir a acessibilidade aos cuidados é fundamental, mas, para que isso aconteça, é necessário que as listas de espera não sejam muito grandes. E, para além do acesso a tratamentos de qualidade, também é preciso que aqueles sejam seguros”, afirma.