Investigação sobre o impacto de «ambientes positivos» em Enfermagem
Analisar o impacto da pandemia pela covid-19 nos ambientes da prática profissional de Enfermagem é o objetivo de um estudo da Escola Superior de Enfermagem do Porto (ESEP) e do CINTESIS - Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde.
“Na última década, os enfermeiros têm falado da necessidade de melhorias, quer em termos de recursos humanos como materiais, de participação e envolvimento nas políticas das instituições, assim como de um maior reconhecimento das suas competências”, recorda Olga Ribeiro, enfermeira, docente de enfermagem e coordenadora do trabalho de investigação.
“Positive Professional Environment4Nursing Practice”
A ideia de analisar os ambientes da prática profissional de Enfermagem surgiu há 2 anos, ainda antes da pandemia, no âmbito do projeto “Positive Professional Environment4Nursing Practice”, da ESEP e CINTESIS. Com os desafios que surgiram com o novo coronavírus, tornou-se inevitável focar-se o estudo no impacto da covid-19:
“Os enfermeiros representam mais de metade da força de trabalho em saúde em todo o mundo. Esta fase pandémica veio assim exacerbar algumas das dificuldades com que já se deparavam.”
Além disso, acrescenta Olga Ribeiro, “também tem sido uma oportunidade para mostrar a singularidade das suas práticas e de esclarecerem a razão pela qual se sentem desvalorizados”.
O "papel essencial" da Gestão nas mudanças
A participar no estudo estão, neste momento, enfermeiros de nove hospitais públicos de Portugal Continental, onde se estabeleceu, desde o início, uma articulação com os enfermeiros gestores.
Segundo a investigadora, “o objetivo é aproveitar este estudo para, numa base científica, se perceber quais as fragilidades e potencialidades dos diferentes ambientes da prática e a Gestão tem um papel essencial por ser a esse nível que se conseguem aprovar mudanças.”
Estando previsto ter-se os resultados globais em agosto, Olga Ribeiro acredita que "este projeto vai ser importante para dar mais voz aos enfermeiros" e acrescenta:
“São dos profissionais de saúde que mais têm investido, nos últimos anos, no desenvolvimento de competências especializadas e na qualificação do seu exercício profissional, apesar de nos contextos nem sempre existirem condições para pôr em prática aquilo que aprenderam.”
Olga Ribeiro
A própria equipa de investigadores quer ajudar os hospitais "a encontrar estratégias que contribuam para melhorar as condições de trabalho na Enfermagem", o que se repercute também nas instituições e nos utentes.
Competências e qualificações dos enfermeiros
“O profissionalismo dos enfermeiros não está em causa e isso foi bem visível nesta pandemia, mas obviamente que a motivação de quem trabalha tem mais-valias para todos", refere a docente da Escola Superior de Enfermagem do Porto.
Olga Ribeiro faz mesmo questão de destacar o elevado nível técnico e humano dos enfermeiros portugueses: “Decorrente do percurso efetuado nas últimas décadas, e face à certeza inequívoca quanto ao valor da disciplina de Enfermagem e do seu exercício profissional para a saúde e bem-estar das populações, os enfermeiros portugueses, com competências e qualificações valorizadas por todos os sistemas de saúde do mundo, aguardam investimento efetivo nos seus ambientes profissionais”.
"Contribuir para o investimento efetivo nos ambientes da prática"
Neste projeto está também previsto "o desenvolvimento de uma ferramenta tecnológica que, além de permitir a avaliação, terá como finalidade contribuir para a definição de estratégias promotoras de ambientes “mais positivos”, que garantam a qualidade e segurança dos cuidados, “fortemente defendidas pelos enfermeiros”.
De acordo com a coordenadora do trabalho de investigação, poderão ainda vir a ser envolvidos mais hospitais, "mesmo fora do Serviço Nacional de Saúde". A nível internacional estão já a ser dados os primeiros passos no Brasil. A missão é a mesma: "Queremos contribuir para o investimento efetivo nos ambientes da prática."