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Tratar doentes respiratórios com «uma abordagem integrada» de cuidados hospitalares e primários

“Infelizmente, apesar da evolução tecnológica, a comunicação entre os diferentes níveis de cuidados ainda é deficitária, baseando-se muito em relatórios.” Quem o afirma é Pedro Leuschner, internista e coordenador da Consulta de Doenças Respiratórias (CDR) do Serviço de Medicina Interna do Centro Hospitalar Universitário do Porto – Hospital de Santo António (CHUP-HSA).

Como forma de contribuir para quebrar o que chama de “barreiras entre os cuidados hospitalares (CH) e primários (CSP)”, o médico é um dos que dá a cara pelo Programa de Acompanhamento das Doenças das Vias Aéreas (PADOVA).

Concebido no âmbito do SNS+Proximidade, o programa está a ser desenvolvido por um grupo de profissionais que inclui médicos e enfermeiros do CHUP, das USF Renascer e São Pedro da Cova (ACES Grande Porto II - Gondomar) e da USF Serpa Pinto (ACES Porto Ocidental).

Aceite como projeto-piloto, aguarda a criação de um Hospital de Dia de Doenças Respiratórias no CHUP-HSA e a solução de “algumas questões estruturais nas USF”.


Pedro Leuschner

Em entrevista à Just News, Pedro Leuschner explica que o objetivo é promover “uma abordagem integrada ao tratamento dos utentes com asma, doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) e/ou bronquiectasias, que são as principais patologias das vias aéreas”.

Em suma, vai ao encontro das premissas do SNS+Proximidade: “Queremos promover cuidados  de saúde mais eficazes, que deem de facto resposta às necessidades das pessoas  sem ser sempre necessário referenciar os casos agudos para o hospital, otimizando assim a articulação entre CH e CSP.”


Na prática, os doentes com asma, DPOC e/ou bronquiectasias vão dispor de um só programa articulado de cuidados, com percursos de doença definido. “Cada USF contará com profissionais de saúde formados nestas três patologias e canais de comunicação com os CH que assegurem devidamente o apoio às transições de cuidados e à implementação de um plano consistente de tratamento”, refere o médico.

Continuando: “Em equipas com um âmbito mais generalista – como as de Medicina Interna e Medicina Geral e Familiar – é difícil assegurar um perito em cada uma destas áreas. As fronteiras entre estas doenças também se vêm esbatendo, não sendo raros os casos de sobreposição de duas ou mais num mesmo doente. Partindo desta realidade, desenhou-se um programa ao alcance dos recursos existentes, valorizando as semelhanças entre os processos assistenciais destas patologias.”

Contudo, alerta: “Não queremos, obviamente, atenuar o que as distingue e a resposta deve ir ao encontro das necessidades e das especificidades de diversa índole de cada um dos doentes.”



"Oferecer a cada indivíduo uma solução à sua medida"

Na opinião de Pedro Leuschner, este projeto-piloto vai dar resposta a um maior número de utentes, "além de que irá permitir uma melhor gestão da fase aguda, sempre em articulação com as unidades de CSP". E reforça esta ideia:

“A rede de cuidados deve ser capaz de oferecer a cada indivíduo uma solução à sua medida para a doença aguda. A articulação entre CH e CSP facilitará a decisão partilhada, bem como o agendamento coordenado de reavaliações precoces – concretizadas no domicílio, na USF ou na consulta hospitalar."



Na sua opinião, é preciso “retirar dos doentes a responsabilidade de estabelecerem a ponte entre o hospital e a USF, como quando se dá alta, com uma carta para entregar ao médico de família.” E é precisamente neste ponto que Pedro Leuschner vê mais dificuldades na implementação do PADOVA no terreno.

"Continua-se a privilegiar os episódios de urgência no hospital”

“O maior obstáculo não é a abertura do Hospital de Dia de Doenças Respiratórias – que já tem um espaço alocado – ou as questões estruturais nas USF, mas o próprio sistema informático do sistema de saúde português, que não está preparado para estabelecer esta comunicação entre diferentes níveis de cuidados.”

Outra limitação é o financiamento. “Alguma coisa devia mudar, porque continua-se a privilegiar os episódios de urgência no hospital”, refere Pedro Leuschner, que defende mesmo que deveriam existir vagas para estes doentes quer no domicílio, quer nas USF, num curto espaço de tempo.

“Esperamos que ainda no primeiro semestre de 2020 se consiga avançar, no terreno, com o projeto”, observa Pedro Leuschner.



Notícia publicada na edição de janeiro do Jornal Médico dos cuidados de saúde primários, dirigido a profissionais e distribuído em todas as unidades de saúde familiar do país.

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