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«Os profissionais de saúde são o parente pobre dos sistemas de informação»

Evitar sistemas de informação (SI) pouco adequados à realidade dos profissionais de saúde foi uma das razões que levaram Pedro Sobreiro, enfermeiro, a enveredar pelos "caminhos da governance de informação e da gestão de processos".

Trabalhar com programas "que não são pensados de raiz"

Atualmente, apesar de nunca deixar a Enfermagem, ocupa o seu tempo a gerir processos com a Comissão Executiva e as várias direções do Hospital da Cruz Vermelha (HCV) e “a contribuir na clarificação das necessidades do hospital ao nível dos SI”.

“Na Saúde, os profissionais de saúde são um pouco o parente pobre dos SI", afirma Pedro Sobreiro, que desenvolve a ideia:

"São obrigados a trabalhar diariamente com programas que não são pensados de raiz para este setor e que, além de não facilitarem as nossas tarefas, nem sempre nos dão o conhecimento sobre determinados parâmetros que são importantes na monitorização dos doentes."


Pedro Sobreiro

"Falta uma ponte com as empresas de tecnologia"

Tendo-se licenciado em Enfermagem na Escola Superior de Enfermagem São Francisco das Misericórdias em 2006, terminou recentemente o mestrado em Gestão de SI, após uma pós-graduação em Informática Aplicada às Organizações, ambas no ISCTE-IUL, que o ajudou a "entrar no novo mundo da tecnologia".

“Surgiu esta oportunidade e achei que devia ir por este caminho, porque falta de facto uma ponte entre o profissional de saúde – enfermeiro, médico, técnico – e as empresas de tecnologia.”

Como acrescentou: “Existindo já meios tecnológicos que possibilitam uma maior aproximação entre doentes e profissionais de saúde, é preciso conhecer e ter em conta as perspetivas e as necessidades de quem está diariamente com as pessoas nas unidades de saúde. Evitam-se assim as diversas queixas de excesso de cliques ou da falta de determinadas funcionalidades.”

Doenças coronárias: investigação sobre a utilização das TIC na promoção da saúde 

A aventura no mundo dos SI começou mais precisamente em 2016, após uma experiência de 6 anos com um pé em Portugal e outro em Angola.

“Tanto estava em Lisboa como em Luanda, mas quando fui pai pela primeira vez deixei de conseguir gerir as emoções associadas à prática diária num contexto de elevada mortalidade infantil e optei por ficar apenas em Portugal, dedicando mais tempo à investigação”, recorda Pedro Sobreiro.

E foi com esse desejo que acabou por entrar no mundo das tecnologias em saúde (TIC), tendo chegado a gestor de processos do HCV.



Aproveitando a área da Cardiologia, à qual sempre se dedicou no HCV – “a minha casa” como gosta de dizer – desenvolveu uma investigação para a dissertação de Mestrado, intitulada “Perspetivas dos profissionais de saúde sobre a adoção e uso de TIC na promoção e vigilância do estado de saúde de pessoas com doenças coronárias”.

O enfoque foi a doença arterial coronária (DAC). “A DAC permanece como uma das principais causas de morte no mundo, apesar de poder ser evitada com mudanças no estilo de vida, ou seja, com um maior envolvimento do doente na vigilância do seu estado de saúde.”

Aplicação prática é "atualmente praticamente inexistente"

E, para Pedro Sobreiro, é precisamente na mudança comportamental que as TIC podem ser uma ajuda importante, nomeadamente para os profissionais de saúde que fazem o acompanhamento e a monitorização de vários parâmetros.

“A própria Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece que as TIC em Saúde representam um grande potencial para promover a ação centrada na pessoa, alterar estilos de vida e aumentar o cumprimento das terapêuticas prescritas”, reitera.



Mas, será que os profissionais aceitam as TIC? E qual é a informação que deve constar sempre de um pograma de apoio a doentes com DAC?

Para se poder ter resposta, Pedro Sobreiro envolveu 222 médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e técnicos de Cardiopneumologia, com uma média de idades de 38 anos, que participaram em grupos focais e em questionários. A amostra foi de âmbito nacional, contando com profissionais do setor público, privado e social.

Os resultados demonstraram precisamente que as TIC estão para ficar na saúde, o que justifica a ponte com os fornecedores de soluções e produtos. “As TIC são bastante importantes na efetiva vigilância e promoção do estado de saúde do doente coronário e os profissionais de saúde valorizam o modo automático como os sinais vitais são avaliados e colhidos pelos dispositivos wearable, apesar da sua aplicação prática, em contexto clínico, ser atualmente praticamente inexistente.”

Monitorização de sinais vitais: "A dor é um ponto essencial"

Quanto às necessidades dos profissionais ficou explícito que “uma aplicação móvel é valorizada fortemente pelos profissionais de saúde, se permitir monitorização de sinais vitais colhidos por dispositivos integrados e a avaliação do cumprimento das terapêuticas prescritas e dos exercícios de reabilitação cardíaca”.

Sendo assim, “num programa de monitorização, os sinais vitais mais importantes a recolher são a pressão arterial e a frequência cardíaca, além da recolha de sinais vitais relacionados com eventos de agudização da doença, como a perceção de dor do doente e alterações no traçado cardíaco”.

Se alguns destes parâmetros constam das soluções e produtos, nomeadamente a pressão arterial, há outros que não é bem assim. “A questão da dor, por exemplo, é um ponto essencial e é preciso transmitir isso, indicando que existem escalas aprovadas.”

Face a estas conclusões, Pedro Sobreiro quer manter este papel de intermediário. “Gosto muito de Enfermagem, mas sei que esta função é muito útil quer para quem presta cuidados como para os doentes”, afirma.


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