Na luta contra as hepatites, Portugal tem «um acesso à terapêutica sem paralelo na Europa»
De acordo com Armando Carvalho, presidente das X Jornadas do Núcleo de Estudos das Doenças do Fígado (NEDF) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), o nosso país tem "um acesso à terapêutica sem paralelo na Europa, com o custo integralmente suportado pelo Estado". As declarações surgem a propósito do Dia Mundial de Luta contra as Hepatites, assinalado a 28 de julho.
Em comunicado, a SPMI inidica que, ao longo dos últimos 25 anos "foram tratados vários milhares de doentes em Portugal, sendo curados cerca de 50% deles. Com a comparticipação do sofosbuvir e da associação ledispasvir/sofosbuvir foi possível tratar cerca de 6.000 doentes a nível nacional em 2015."
É recordado que, no Congresso Português de Hepatologia, realizado este ano no Porto, foram apresentadas comunicações sobre a experiência de cinco centros portugueses no tratamento da hepatite C em 2015:
"Em 800 doentes (aproximadamente 50% não respondedores a tratamento anterior e 50% cirróticos), com avaliação às 12 semanas após tratamento houve cura virológica em cerca de 95% dos casos. Os resultados foram muito positivos também em grupos de doentes especiais, como hemodialisados e transplantados renais, até agora difíceis ou impossíveis de tratar."
Ao longo de um ano e meio "foi possível iniciar o tratamento à maioria dos doentes que dele necessitavam e que já eram seguidos em consulta. Este foi o resultado de um enorme esforço da parte da classe médica (gastrenterologistas, internistas e infeciologistas)." Contudo, como refere Armando Carvalho, "este esforço tem de continuar pois existem ainda muitos doentes por tratar e diagnosticar".
É indicado que, "atualmente, estão estabilizados mais de 90% dos doentes que têm hepatite B e, por sua vez, em mais de 95% dos casos de hepatite C foi possível eliminar o vírus".
A SPMI acrescenta que, "numa visão do total de infetados em Portugal, concluímos que existem seguramente muitos doentes por diagnosticar, impondo-se uma estratégia de rastreio dirigido a grupos com maior probabilidade de infeção, de modo a levar o benefício do tratamento ao maior número possível de doentes".
É ainda referido que houve uma diminuição da incidência da hepatite B e C, "resultado das medidas gerais de prevenção, como o rastreio do sangue, o uso de material irrecuperável para injeções e outros atos médicos e o impacto da vacina da hepatite B". No entanto, "e apesar de em Portugal já se ter feito muito no que diz respeito à prevenção das hepatites virais", é considerado que "continua ainda a faltar um plano nacional, que já esteve em discussão na Direção Geral de Saúde, mas que continua adiado".
A propósito da realização das 10.as Jornadas do Núcleo de Estudos das Doenças do Fígado da SPMI, Armando Carvalho realça o facto de que "os internistas asseguram várias consultas de doenças hepáticas em muitos hospitais do país, integrando ainda as equipas médicas dos três programas de transplantação hepática". O programa do evento, agendado para outubro, pode ser consultado aqui.