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«Medicamentos para colesterol devem ter comparticipação idêntica aos da hipertensão ou diabetes»

O especialista de Medicina Interna Francisco Araújo, que daqui a um ano tomará posse como presidente da Sociedade Portuguesa de Aterosclerose (SPA), considera “escandaloso” que os medicamentos para o colesterol não tenham o mesmo nível de comparticipação atribuída aos fármacos das áreas da hipertensão ou da diabetes.

Em entrevista à Just News, sublinha que essa será uma razão importante para que aquele seja “o fator de risco cardiovascular pior controlado”. Tal contribui, decisivamente, para tornar mais relevante a doença aterosclerótica e mais fundamental o papel da Sociedade Portuguesa de Aterosclerose.

“Tratar o colesterol e a aterosclerose salva vidas e reduz eventos”

Para Francisco Araújo é preocupante o facto de haver, em Portugal, “muita gente que precisaria de fazer terapêutica para controlar o seu colesterol, mas que não o faz por uma questão financeira. Embora os medicamentos nesta área não sejam propriamente caros, acaba por ter um impacto importante o facto de não terem uma comparticipação idêntica à dos fármacos para a hipertensão ou para a diabetes”.


Francisco Araújo

Tendo em conta o peso do risco aterosclerótico na sociedade portuguesa, o presidente eleito da SPA afirma ser “escandaloso que isso se verifique, contribuindo para fazer do colesterol o parente pobre dos fatores de risco cardiovascular, sendo aquele que está sempre pior controlado. É preciso ter consciência de que tratar o colesterol e a aterosclerose salva vidas e reduz eventos”.

O crescente envelhecimento da população tem, segundo Francisco Araújo, “um impacto enorme na sociedade, havendo ainda muito a fazer ao nível da prevenção – com a promoção, por exemplo, do exercício físico moderado e da alimentação cuidada – para conseguirmos ter cada vez mais idosos saudáveis”.

Núcleo de internistas com "uma dinamica enorme"

Quando esta entrevista foi realizada Francisco Araújo ainda era o coordenador do Núcleo de Estudos de Prevenção e Risco Vascular da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, mas a decisão de interromper o mandato, por ocasião da 4.ª Reunião do NEPRV, em dezembro, já estava tomada.

Uma das razões fortes para deixar o cargo que “herdou” de Pedro Marques da Silva, entretanto falecido, prende-se com a vontade de concentrar energias na Sociedade de Aterosclerose que, sublinha, “tem vindo a crescer, pelo que se torna mais exigente a sua direção”. Por outro lado, Francisco Araújo acrescenta que “o Núcleo tem uma dinâmica enorme de pessoas novas e tenho a certeza de que vão fazer um trabalho espetacular”.


Uma "sociedade transversal a várias outras"

Integrando a Direção da Sociedade Portuguesa de Aterosclerose desde 2013, o médico afirma que a mesma “tem desafios importantes pela frente, como o seu crescimento e implementação”.

Sendo uma "sociedade transversal a várias outras", Francisco Araújo salienta: “Nós temos um corpo grande de participantes que são da Medicina Interna e da Cardiologia, mas também temos investigadores, farmacologistas, especialistas de Medicina Geral e Familiar, neurologistas, endocrinologistas…".

E o que significa esta inclusão de profissões? "Faz-nos ter uma dinâmica única, com vários caminhos para percorrer, o que faz com que seja muito mais aliciante trabalhar nesta área."



A importância da "sinergia entre cuidados primários e secundários"

O médico de família tem um papel preponderante na chamada prevenção primária, contudo, “a grande dificuldade prende-se com a questão da comparticipação de exames que permitem avaliar o risco de cada doente”. Francisco Araújo frisa ser “muito importante que o MF reconheça aqueles doentes que apresentam um maior risco cardiovascular e que, sendo aparentemente saudáveis, poderão beneficiar de um tratamento intensivo”.

“A doença aterosclerótica é crónica, silenciosa e dá sintomas muito tarde. Se o quisermos fazer, não será nada difícil encontrar adolescentes com estrias lipídicas, que são a primeira manifestação da existência de uma placa aterosclerótica na parede dos vasos. Pode ser benigna e regredir com a alteração do estilo de vida, mas, não sendo essa situação identificada, ao longo da vida, vão sendo criados depósitos de colesterol, aumentando o risco de ocorrer um evento”, alerta o internista, prosseguindo:

"Todas as especialidades têm responsabilidade na avaliação do risco"

“Observamos, em Portugal, um aumento de longevidade espetacular, mas temos uma velhice com pouca qualidade de vida, que está relacionada, em parte, com o sub-reconhecimento dos fatores de risco que contribuem não só para a doença cardiovascular mas também para a demência, que tem muito que ver com a aterosclerose.”

Admitindo o papel que a Medicina Interna tem a este nível, no meio hospitalar, por lhe caber a tarefa de “identificar esses doentes em fase aguda na Urgência, fazendo depois a sua educação no internamento”, Francisco Araújo não hesita em afirmar que, “no fundo, todas as especialidades têm responsabilidade na avaliação do risco, porque são muitos os doentes e também muitas as manifestações clínicas da doença”.


A entrevista completa pode ser lida na próxima edição do Hospital Público.

Distribuída nos hospitais públicos e outras entidades de saúde, esta publicação da Just News tem como missão valorizar o SNS e os seus profissionais, através da partilha de boas práticas e de projetos de excelência.

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