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«A pandemia reforçou as mais-valias da Hospitalização Domiciliária»

A pandemia trouxe novos desafios, mas foi também uma forma de “reforçar as mais-valias da hospitalização domiciliária (HD)”, segundo Maria Francisca Delerue, coordenadora do 1.º Congresso Nacional de Hospitalização Domiciliária – Hospital em Casa.

O evento decorreu nos dias 18 e 19 de junho, no Porto, tendo sido organizado pelo Núcleo de Estudos de HD (NEHD) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI).

O congresso começou por estar marcado para abril de 2020, mas a pandemia obrigou ao seu adiamento. Uma vez reunidas "escrupulosamente todas as condições de segurança", Maria Francisca Delerue e os restantes membros da Comissão Organizadora decidiram avançar com a concretização do sonho e organizar o primeiro grande evento do Núcleo mais recente da SPMI.

Mesmo sendo em formato híbrido, muitos profissionais se juntaram na Alfândega do Porto para atualizarem conhecimentos e partilharem experiências sobre as 34 unidades de HD que já existem no país.


Maria Francisca Delerue

“A covid-19 veio mostrar como são unidades muito importantes para retirar doentes dos hospitais. No meu (Hospital Garcia de Orta), a pandemia teve um impacto muito significativo e fez toda a diferença podermos ter a HD”, salientou.

“Todos tinham os olhos postos em nós”

A internista relembrou como foi “um enorme desafio” para o HGO avançar com o projeto de HD, numa altura em que ainda nem sequer existia legislação em Portugal. “Todos tinham os olhos postos em nós”, referiu à Just News.  Atualmente, faltando apenas quatro hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS), todos os restantes já têm unidades.

“Desde o início que quisemos partilhar a nossa experiência, para que a ideia se pudesse replicar, permitindo aos doentes terem cuidados de qualidade em casa, sempre que é possível e, desde 2012, já se trataram cerca de 12 mil, o que corresponde a um hospital de média dimensão.”

Maria Francisca Delerue fez questão de salientar que as mais-valias também passam por uma maior eficiência, o que é um sinal para “os mais céticos”.



Nos próximos tempos, a coordenadora do NEHD, considerou que é preciso expandir as unidades já existentes, sendo, para o efeito, necessário que a Tutela aumente os recursos humanos e materiais. “A HD é, sem qualquer dúvida, uma solução para o SNS, face à sobrelotação dos hospitais.”

Como referiu ainda: “Se todas as unidades tiverem 20 a 30 doentes/dia, rapidamente se ultrapassariam os 100 doentes/dia em casa.”

Outro aspeto que não pode ser esquecido nos próximos tempos é a formação de todos os grupos profissionais que colaboram na HD, a investigação e a certificação.

“A HD é mais uma conquista civilizacional”

Quem já se rendeu à HD é João Araújo Correia, presidente da SPMI, que teve algumas dúvidas na fase inicial, como admitiu na sessão de abertura. Face ao “êxito avassalador das experiências” dos 34 hospitais, deixou-se convencer.

O responsável fez ainda questão de dizer que “a HD é da Medicina Interna”. E explicou porquê: “Apenas os internistas são capazes de se entregar ao doente inteiro, de sair do aconchego das paredes hospitalares e de prestar cuidados de saúde com qualidade e segurança, só a pensar no benefício das famílias.”


João Araújo Correia

Na sua opinião, “a HD alterou a ideia vigente da inevitabilidade do internamento hospitalar” e este conceito alterou-se junto dos profissionais, mas também dos doentes e familiares. “Para a doença aguda, de gravidade moderada, o tratamento em casa tenderá a ser a regra, em vez da exceção.” Mencionou mesmo que se vai tornar “obsoleto o internamento hospitalar que não seja apenas ditado pela gravidade clínica de grau elevado”.

Entre as principais vantagens deste modelo, destacou a troca de informação clínica entre o médico hospitalar e o de Medicina Geral e Familiar, contribuindo-se assim para a integração de cuidados, e a telemonitorização. “A HD é mais uma conquista civilizacional, que nos recorda que não basta viver muito. Há que viver bem, com autonomia e felicidade, junto de quem nos é querido!” 



Um futuro de “muita esperança”

Para Delfim Rodrigues, coordenador nacional do Programa de Hospitalização Domiciliária do SNS, o congresso foi um momento marcante. “Têm sido anos de muito trabalho e a maior emoção está em ver a força anímica dos profissionais de saúde destas unidades e que é reconhecida pelos doentes e familiares”, disse em declarações à Just News.


Delfim Rodrigues

Olha assim para o presente e para o futuro da HD com “muita esperança”. “Não há outro caminho e a pandemia veio provar como são unidades importantes.” Espera assim que se chegue a um milhão de doentes internados em casa, o que se traduz num menor risco de infeções, de morbilidade e mortalidade.

E sublinha: “A taxa de mortalidade é 3,8 vezes inferior em casa e a eficiência económica chega aos 46%. O que se poupa com a HD poderia ser revertido para outras áreas do SNS.”



No final, a satisfação de todos era bem visível, ficando a garantia por parte de Maria Francisca Delerue de que o NEHD vai ter, todos os anos, um congresso e um curso para os profissionais que trabalham ou querem apostar em unidades de HD.  

 

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