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Hiperatividade e défice de atenção: «Mesmo no adulto, a PHDA não é uma fatalidade»

"Muitas vezes, a primeira manifestação de uma Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) não diagnosticada é uma depressão", afirma o psiquiatra Joaquim Cerejeira.

Em declarações à Just News, o especialista e professor de Psiquiatria na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, alerta para outra manifestação relevante da PHDA, que são "os problemas originados pelo consumo de certas substâncias e comportamentos delinquentes."

Joaquim Cerejeira recorda os resultados de estudo que realizou no Estabelecimento Prisional de Coimbra com outros colegas: "Apercebemo-nos que muitos dos presos têm PHDA não diagnosticada. A nível internacional, existem outros estudos, feitos em prisões, onde se chega à mesma conclusão. A PHDA torna as pessoas mais impulsivas."

Ou seja, "pequenas contrariedades na vida podem levá-las a reagir de uma forma muito pouco adequada".


Joaquim Cerejeira

Dificuldades na concentração e na interpretação da informação

Joaquim Cerejeira alerta, por isso, para a necessidade de um diagnóstico atempado na infância, mas também junto da população adulta, pois a realidade é que "há quem não tenha um diagnóstico prévio, porque não se falava desta doença e achava-se que o comportamento mais errático se devia a preguiça ou desinteresse da pessoa afetada". E assim se chega à idade adulta sem o problema identificado.

Para o médico, que presidiu à Comissão Organizadora do recente XV Congresso Nacional de Psiquiatria, não há qualquer dúvida que "existem várias consequências negativas quando não há um diagnóstico e um tratamento. Logo na infância e na juventude, têm menos interesse nos estudos, porque não conseguem ter um bom desempenho académico e, quando isso é possível, fazem-no a grande custo."

Esse grande esforço acaba por "gerar uma antipatia pela escola e pelos estudos, uma vez que é difícil a concentração e a interpretação da informação". E se a PHDA não for tratada? "Regra geral, estes doentes acabam por ficar com profissões menos diferenciadas, por conseguinte, auferindo rendimentos inferiores, com piores condições socioeconómicas."

O psiquiatra refere ainda os problemas que surgem no emprego, "chegando a esquecer-se das tarefas que lhes são pedidas". Também no relacionamento mais íntimo "tendem a gerar mais conflitos, porque têm dificuldade em lidar com a frustração. No fundo, acabam por se sentir inferiores aos outros."

Por todo este quadro apresentado, Joaquim Cerejeira faz questão de sublinhar: "Existe uma diferença brutal entre quem adere ou não ao tratamento".



"Temos uma solução para essas crianças ou adultos"

O psiquiatra do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) considera mesmo que "a PHDA é um dos exemplos de grande sucesso em termos terapêuticos, daí ser fundamental haver um diagnóstico, já que temos uma solução para essas crianças ou adultos".

E acrescenta: "A PHDA, mesmo nestes últimos, não é uma fatalidade! Desde que haja tratamento - e o de 1.ª linha é a medicação, que é altamente eficaz e segura –, tudo pode correr muito melhor."

Fazendo a ressalva de que, "obviamente, cada caso é um caso", salienta que "regra geral, mesmo os adultos reagem muito bem a estes fármacos, não havendo razão para a desprescrição no adulto ou para haver receio em prescrever o tratamento a uma criança".

Para Joaquim Cerejeira, ainda é necessário, contudo, continuar a desmistificar esta questão da farmacologia, mesmo interpares: "Durante muitos anos nem sequer se falou desta doença no adulto. É perfeitamente normal ver-se uma criança tomar metilfenidato, o mesmo não acontecendo com numa pessoa mais velha. Pouco a pouco, vamos evoluindo."


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