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Geriatria e multidisciplinaridade: A necessidade de «avaliar holisticamente o idoso»

"Todos os médicos deverão ter conhecimentos de Geriatria, pois, com exceção da Pediatria, todas as especialidades tratam idosos, os quais são cada vez mais velhos e, por isso, com maior necessidade de ajuste às suas particularidades", afirma Manuel Teixeira Veríssimo, presidente da Comissão Organizadora do XIV Curso Pós-Graduado sobre Envelhecimento - Geriatria Prática, que está a decorrer em Coimbra.


Na sua opinião, "é desejável, como em geral já acontece, que em todas as faculdades de Medicina portuguesas a disciplina de Geriatria integre o programa pré-graduado das suas licenciaturas/mestrados integrados e que nas especialidades de Medicina Interna e Medicina Geral e Familiar possa haver formação nesta área durante o período de especialização".

O responsável pela Consulta de Geriatria e pela Enfermaria A do Serviço de Medicina A do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) sublinha que os idosos "têm habitualmente várias doenças e limitações físicas e funcionais que implicam a necessidade da multidisciplinaridade". Assim, necessitam de especialidades médicas generalistas, "como a Medicina Interna e a Medicina Geral e Familiar, capazes de avaliar holisticamente o idoso e de integrar e supervisionar as várias doenças e terapêuticas instituídas".

Contudo, necessitam também "das outras especialidades menos genéricas, como a Cardiologia, a Gastrenterologia, a Pneumologia, a Nefrologia, as especialidades médico-cirúrgicas, entre outras, que, com o seu conhecimento aprofundado e técnicas diferenciadas, são essenciais em Geriatria".

"Peças importantes" para a qualidade de vida dos idosos

Na opinião do internista do CHUC, "a multidisciplinaridade e interdisciplinaridade não se deve verificar apenas entre as especialidades médicas, mas sim, também, entre os médicos e outros profissionais de saúde, que, do mesmo modo, são fundamentais no processo de avaliar e tratar os idosos".

Manuel Teixeira Veríssimo dá o exemplo dos enfermeiros, nutricionistas, farmacêuticos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, professores de educação física e psicólogos, entre outros, que, "com maior ou menor peso, consoante as circunstâncias, são peças importantes na saúde e na qualidade de vida dos idosos".

Afirma que, "em Geriatria, os doentes apresentam problemas e limitações relacionadas com as doenças, com o próprio envelhecimento fisiológico e com a sociedade onde estão inseridos. Para responder a estes problemas, deve-se ter uma visão global do complexo biopsicossocial que é o idoso, que a multidisciplinaridade complementa".

Acrescenta que tudo deve começar na avaliação geriátrica multidimensional, "a qual, utilizando instrumentos de natureza diversa, numa perspetiva multidisciplinar e interdisciplinar, deverá fazer um levantamento, o mais completo possível, do estado de saúde do idoso, bem como dos seus problemas sociais, económicos, familiares ou outros que determinem o seu comportamento e condicionem a sua autonomia e, consequentemente, a sua qualidade de vida".

De acordo com Manuel Teixeira Veríssimo, esta avaliação deverá "ir muito para além da avaliação clínica, que é a prática habitual nas nossas instituições de saúde, avaliando também, sistematicamente, as áreas onde o idoso é habitualmente deficitário, como o estado físico, mental, funcional e social, com o objetivo de elaborar um plano geral que responda não só aos seus problemas de doença, mas também aos seus problemas psíquicos e sociais relacionados com as suas incapacidades e necessidades".

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