Doenças Imunomediadas: «Estamos a criar o 1.º centro de medicina de precisão do país»

"O nosso intuito é analisar cada doente, porque dois indivíduos podem ter o mesmo padrão clínico, mas os mecanismos serem diferentes e começa a haver fármacos específicos consoante as situações", afirma José Delgado Alves, a propósito do trabalho que está a ser desenvolvido na ULS de Amadora-Sintra, onde "estamos a criar o 1.º centro de medicina de precisão do país na área das doenças imunomediadas".

Em entrevista à Just News, o diretor do Serviço de Medicina IV e da Unidade de Doenças Imunomediadas Sistémicas (UDIMS) do Hospital Prof. Dr. Fernando Fonseca aponta qual é o caminho:

"Neste momento, já temos de ir mais longe, e essa é a importância da medicina de precisão. Não podemos abdicar dos aspetos clínicos que nos permitem identificar a doença, mas temos de ser capazes de ir à procura de um mecanismo específico num determinado doente para justificar um tratamento e não outro. Isto é o futuro."

José Delgado Alves

Medicina de precisão

"Da medicina baseada na evidência à medicina de precisão" foi precisamente o tema escolhido por José Delgado Alves para proferir, amanhã, a conferência de abertura do X Congresso Nacional de Autoimunidade, que decorre em simultâneo com a XXIX Reunião Anual do Núcleo de Estudos de Doenças Autoimunes (NEDAI) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna.

O médico não hesita em reconhecer o seu "incómodo" com o "primado da medicina baseada na evidência" e explica porquê:

"A designação ´medicina baseada na evidência` traduz o que em teoria deveria acontecer, mas trouxe o perigo de se confundir um ensaio clínico com uma verdade médica. Um ensaio clínico ajuda, mas não é, nem pode ser, a única fonte de conhecimento para tratar um doente, tal como a ciência básica também não."

E acrescenta: "A medicina não é uma ciência, mas uma prática resultante de várias ciências. Agora, a realidade começa a mudar um pouco, mas nos últimos 30 anos essa corrente tornou-se demasiado hegemónica e tomou um carácter muito definitivo. Os aspetos baseados nos ensaios clínicos puros e duros, cujas metodologias nem sempre são tão baseadas na evidência como parece, passaram a ser tidos como dogmas e verdades absolutas, o que limita a nossa forma de pensar e de evoluir."

"É mais difícil de avaliar? É, mas a medicina não é simples"

José Delgado Alves, que termina agora um mandato como coordenador do NEDAI, faz questão de sublinhar: "Ao contrário do que possa parecer, não sou contra a medicina baseada na evidência. Sou contra a dogmatização dessa visão. Acho que essa é mais uma ferramenta que nos ajuda."

Na sua opinião, "a integração do conhecimento teórico e da sua aplicação prática, da experiência clínica e da medicina baseada na evidência (que resulta dos ensaios clínicos) é que define um bom médico! É mais difícil de avaliar? É, mas a medicina não é simples".


Qual é então a linha que será seguida na sua intervenção desta quinta-feira? "A minha intenção nessa conferência não é dizer que o futuro é a medicina de precisão. Provavelmente é, mas é preciso cuidado, porque a medicina é muito mais complexa do que seguir um modelo único", afirma.

A entrevista completa com José Delgado Alves será publicada no Jornal do X Congresso Nacional de Autoimunidade, onde explica porque considera "demolidor fazer uma conferência online", que abordagem tem em relação ao doente que procura uma 2.ª opinião ou porque considera a empatia uma palavra-chave.


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