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«Escassez de dermatologistas no SNS pode levar à desagregação da especialidade»

Uma das mensagens veiculadas na sessão de abertura do XXXIII Fórum da Dermatologia por Manuela Selores, presidente deste evento científico, prendeu-se com as repercussões da falta de médicos dermatologistas na agregação da especialidade e nos cuidados prestados aos doentes. Esta sessão marcou o primeiro dia do evento, que decorreu a 5 e 6 de novembro.

Manuela Selores, que se aposentou precisamente no último fim de semana, deixando o cargo de diretora do Serviço de Dermatologia do Centro Hospitalar e Universitário do Porto (CHUP), deu início à sessão de abertura, mostrando-se extremamente “grata por voltar a contactar não só com dermatologistas, mas também com colegas da Pediatria, da MGF e de outras especialidades”.

No entanto, reconhece que a pandemia “veio agravar os problemas inerentes à falta de recursos humanos no SNS”. Particularmente na especialidade que pratica, “a escassez de médicos dermatologistas está para além de qualquer racional imaginável, o que pode levar à desagregação da especialidade, com grande repercussão nos cuidados médicos do doente dermatológico”.



No seu entender, “não será a telemedicina nem tão pouco a inteligência artificial a solucionar esta dificuldade”, apesar de acreditar que a Dermatologia tenha encontrado nesta ferramenta “uma importante ligação entre os CSP e os cuidados hospitalares”.

Como destaca, “o ideal será recorrer a ela na modalidade de telerastreio, com o objetivo de melhorar a triagem, manter as listas de espera controladas e evitar que patologias prioritárias benignas ou malignas fiquem esquecidas”.


Manuela Selores

Esta sessão de abertura ficou também marcada pela participação de António Massa, presidente da Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia e antecessor de Manuela Selores na direção do Serviço, que recordou a implementação deste curso, em 1985, com a sua colaboração. “É um prazer que tenha esta vitalidade, com uma sala cheia no pós covid-19”, declara.



Também Paulo Leal Filipe, presidente do Colégio da Especialidade de Dermatavenereologia da Ordem dos Médicos, e José Barros, diretor clínico do CHUP, marcaram presença neste momento. Paulo Barbosa, presidente do Conselho de Administração do CHUP, esteve igualmente na sessão de abertura, onde reconheceu o “papel fundamental de António Massa e Manuela Selores na criação da Dermatologia moderna e na diversificação dos cuidados”.

Paulo Barbosa destacou ainda o nome de Virgílio Costa, que vai assegurar interinamente a Direção do Serviço, pelo trabalho que desenvolveu na teledermatologia.


Virgílio Costa e Manuela Selores (foto do XXVIII Fórum, em 2015)

A importância da “formação contínua e permanente”

Face ao “progresso científico e tecnológico aceleradíssimo, que desatualiza rapidamente as modificações dos padrões de doença, ao aparecimento de novas doenças, às alterações demográficas sociais e às maiores expectativas dos doentes”, Manuela Selores sublinhou a obrigatoriedade de existir “uma formação médica contínua e permanente em todas as áreas da Medicina”.

No caso concreto da elaboração do programa deste fórum, destaca a preocupação que tiveram em abordar “a patologia dermatológica mais comum na prática clínica, mas também as doenças mais graves, que têm necessidade e até urgência de ser referenciadas aos especialistas hospitalares”.

Enquanto presidente do Conselho Nacional da Pós-Graduação e representante da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos, Dalila Veiga salientou a importância da componente científica na “estruturação da formação médica contínua, principalmente num contexto de destruturação, como aquele que se viveu ao longo dos dois últimos anos”.


Dalila Veiga, José Barros, Manuela Selores, Paulo Barbosa, Paulo Filipe e António Massa

Reconhecendo que “a formação médica enfrenta, hoje, grandes adversidades”, Dalila Veiga apontou como principal problema “o esvaziar do capital humano do SNS, muito impulsionado pela deterioração das condições de trabalho e pela falta de compensação das carreiras médicas”.

No seu entender, “a ausência de qualquer intervenção política para inverter a situação começa a comprometer seriamente a capacidade formativa”. Afigurando-se esta “a principal missão da Ordem dos Médicos”, Dalila Veiga solicitou a todos que se “saibam manter unidos no desígnio de cuidar e servir os doentes”.


Um grupo de trabalho unido (foto de 2017, a propósito do XXX Fórum de Dermatologia)

70.º aniversário

O final da sessão ficou marcado por um agradecimento especial de Paulo Barbosa a Manuela Selores “pela dedicação, pelo trabalho e pelo legado que deixa, porque não é só aquilo que fazemos durante a nossa carreira que importa, mas também o que deixamos a seguir, e a Manuela deixa um serviço estruturado, uma continuidade e um futuro”.



Esta sessão terminou com um forte aplauso da audiência a Manuela Selores, que cumpria naquele dia o seu 70.º aniversário, marcando, assim, a sua última presidência neste evento e a saída da direção do Serviço ao fim de 18 anos.

“Tenho a sensação de dever cumprido", afirmou Manuela Selores, acrescentando: "Estes últimos anos satisfizeram-me particularmente pela participação efetiva na formação de novos especialistas, na gestão e organização hospitalar, na realização anual do Fórum de Dermatologia e na projeção da Dermatologia para além dos limites do meu Serviço”.


A presidente do Fórum com o secretariado executivo que a tem acompanhado ao longo dos últimos anos:  Mónica Caetano, Alexandra Rodrigues, Susana Machado e Tiago Torres (foto do XXXII Fórum, 2019)

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