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ACES Lisboa Norte: farmacêutica integra a maior UCSP do país para apoiar idosos polimedicados

A unidade de cuidados de saúde personalizados (UCSP) Sete Rios, do ACES Lisboa Norte, conta, desde o início deste mês, com a colaboração de uma farmacêutica.

Integrando a equipa do projeto “Gestão do Doente Idoso Polimedicado”, da ARS Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT), Cláudia Elias vai reforçar o apoio dado pela maior UCSP do país aos doentes com mais de 65 anos e polimedicados - sete ou mais medicamentos.


Cláudia Elias

Apesar do percurso de longos anos em Farmácia Hospitalar, aceitou, em março de 2019, integrar a equipa de farmacêuticos da ARSLVT que se dedica aos cuidados de saúde primários (CSP).

Foram iniciadas duas experiências-piloto na USF São João do Estoril e na USF Marginal do ACES Cascais, em março do ano passado e janeiro deste ano, respetivamente. “Correu tudo muito bem e na primeira cheguei a fazer domicílios sozinha ou com médico e enfermeiro para ajudar estes utentes, de maior complexidade”, conta.

 “São muitos, caixas diferentes, cores diversas…"

Na UCSP Sete Rios espera vir a ter os mesmos resultados, mas até lá é preciso dar alguns passos importantes. “À imagem da implementação inicial nas unidades do ACES Cascais, é fundamental integrar os farmacêuticos na cultura de trabalho, em equipa, com os médicos.”

Como explica ainda: “No ACES Cascais já éramos parte da equipa multidisciplinar, solicitando-nos ajuda na revisão da terapêutica destes doentes que são idosos, com patologia crónica e várias comorbilidades e que, também fruto da elevada iliteracia em saúde, não conseguem gerir os medicamentos.”

O principal problema relativo à polimedicação é precisamente a toma incorreta. “São muitos, caixas diferentes, cores diversas… Os que têm menos escolaridade estão habituados às cores das caixas, mas com o surgimento dos genéricos, a situação complicou-se por causa das embalagens que mudam consoante o laboratório, apesar de a substância ativa ser a mesma.”

Face a estas limitações, os médicos de família ou os enfermeiros podem referenciar o utente para uma consulta com o farmacêutico. “Nas consultas programadas do médico e do enfermeiro nem sempre é possível dispor de tempo para explorar todas estas relevantes questões", refere Cláudia Elias, acrescentando:

"O meu papel é pedir ao utente que traga todas as caixas, para, em conjunto, o ajudar a gerir melhor a sua medicação, além de poder detetar alguma sobreposição de terapêuticas ou a necessidade de desprescrição ou de reajuste. Nestes últimos casos, as alterações são decidas com a restante equipa de saúde.”


Cláudia Elias com João Ramires, presidente do Conselho Clínico do ACES Lisboa Norte

"Evitar efeitos secundários"

De acordo com a farmacêutica, “os casos mais frequentes são o uso prolongado e desnecessário de benzodiazepinas e de inibidores da bomba de protões. No primeiro, a indicação é para se tomar durante determinado período de tempo, a partir do qual se deve fazer o desmame, para se evitar efeitos secundários que podem ser graves na idade mais avançada. É o caso das quedas.”

Na UCSP Sete Rios, este apoio torna-se ainda mais relevante, na sua opinião, nos casos dos utentes sem médico de família, que rondam os 14 mil. “Nesta situação particular vai ter especial importância o papel do enfermeiro que, nas salas de tratamento, se pode aperceber mais facilmente de algum problema.”


Apesar do projeto se destinar, num primeiro momento, aos idosos polimedicados, a farmacêutica não descarta ninguém. “Se um jovem asmático tiver dificuldades em utilizar de forma correta o inalador, também é ajudado.”

Para Cláudia Elias, o projeto tem sido “um enorme desafio” e ainda bem. “Há muito que faziam falta farmacêuticos nos CSP que pudessem fazer parte da equipa multidisciplinar.”

“Vão ser criados esquemas que nos vão ajudar"

Para Isabel Duarte Ferreira, coordenadora da UCSP Sete Rios, vai ser uma experiência nova. “Inicialmente não vai ser fácil, porque esta unidade é muito grande e o médico e o enfermeiro não estão habituados a trabalhar com o farmacêutico.”

Mas tudo se vai agilizar, assegura: “Vão ser criados esquemas que nos vão ajudar e é com muito gosto que recebemos a colega. O papel dos farmacêuticos é essencial, porque nem sempre conseguimos ter tempo suficiente na consulta, face à sobrecarga de trabalho, para fazer a revisão terapêutica de utentes com pouca literacia ou até analfabetos.”


Isabel Duarte Ferreira

Como acrescenta: “Quem não sabe ler e escrever orienta-se pelas cores dos comprimidos e das caixas, mas estas podem mudar por causa dos diferentes laboratórios de genéricos. É preciso despender algum tempo com as pessoas.”

Utentes sem médico de família vão ser particularmente beneficiados

Para João Ramires, presidente do Conselho Clínico do ACES Lisboa Norte desde 30 de abril, o contributo da farmacêutica vai ser fundamental na maior UCSP do país. “Sobretudo para os cerca de 14 mil utentes sem médico de família, que têm um acompanhamento mais errático e menos personalizado e cujos problemas com a terapêutica podem ser identificados nos atendimentos complementares.”

A nível da governação clínica, o responsável também vê vantagens. “A revisão terapêutica também implica uma avaliação do custo-benefício, porque há quem faça medicamentos que já não são necessários ou então de forma incorreta.”


Eunice Carrapiço

O mesmo pensa Eunice Carrapiço, diretora executiva do ACES Lisboa Norte, nomeada em fevereiro e que está no projeto desde o início, quando arrancou na USF São João do Estoril e, posteriormente, na USF Marginal do ACES Cascais.

Para a responsável não há qualquer dúvida quanto às mais valias desta medida: “É muito interessante porque no fundo é enriquecermos a equipa multiprofissional. O que a farmacêutica faz é olhar para as pessoas, e trabalhar em conjunto com o médico e enfermeiro.”




Eunice Carrapiço (ao centro) e João Ramires com os vogais do CSS do ACES Lisboa Norte: Cristina Galvão (médica de Saúde Pública), Isabel Oliveira (enfermeira) e Rita Correia (psicóloga clínica)


 
Publicação distribuída todos os meses a profissionais de todas as unidades de cuidados de saúde primários do SNS.

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