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Criação da Unidade Clínica de Ambulatório Médico reduziu os reinternamentos no CHTMAD

A inauguração oficial da Unidade Clínica de Ambulatório Médico (UCAM) do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD), que contou com a presença da ministra da Saúde, aconteceu no dia 17 de janeiro de 2020, mas três meses antes já esta unidade estava a funcionar em pleno.

A ideia do projeto, posto em prática no Hospital de São Pedro, em Vila Real, surgiu numa iniciativa da Medicina Interna, a especialidade que nos hospitais diariamente lida com mais situações de doentes crónicos complexos e com caso que precisam de ser rapidamente diagnosticados.

Em entrevista à Just News, Fernando Salvador, diretor do Serviço de Medicina Interna, esclarece, desde logo, que a UCAM tem fundamentalmente duas valências, a primeira das quais dirigida aos denominados doentes crónicos complexos, “que precisam que nós os observemos regularmente, para evitar descompensações, e que podem ser referenciados dos centros de saúde, do internamento, da urgência e da consulta”.

Fernando Salvador

A segunda valência da UCAM tem que ver com o facto de se assumir como uma Unidade de Investigação Rápida, “na perspetiva de reduzir as urgências diferidas”.

Nesse sentido, foi estabelecido um protocolo com dois Agrupamentos de Centros de Saúde, “em que nos comprometemos a observar um doente que nos seja referenciado no prazo máximo de 7 dias, sendo que a nossa média está nos 3 dias, embora o possamos fazer em 24 horas”.

Projetos “fundamentais nos hospitais do SNS”

Vários fatores justificam, no entender de Fernando Salvador, que unidades do tipo da UCAM sejam “fundamentais nos hospitais do SNS”, desde o evidente envelhecimento da população (“só um em cada 10 portugueses acima dos 65 anos não tem uma doença crónica”) à necessidade de reduzir o número de infeções nosocomiais, passando pelo compromisso de promover a humanização, apostando “na relação bidirecional entre o doente e o profissional de saúde”.

A esses fatores há que acrescentar a imperiosidade de aliviar os serviços de Urgência e a importância de tornar mais acessível e cómodo o acesso a uma consulta hospitalar, não excluindo, obviamente, a relevância de reduzir os custos na área da Saúde.



Atividade em crescendo, com mais-valias quantificáveis

Fernando Salvador faz questão de apresentar alguns dados comparativos que permitem, de alguma forma, quantificar a mais-valia de um projeto como a UCAM. Por exemplo, foram identificados 70 doentes que, em 2020, tinham recorrido em mais de 4 ocasiões ao Serviço de Urgência (utilizadores frequentes), registando uma média de 5,9 vezes, número que desceu para 3,7 após serem seguidos na UCAM.

Outro exemplo: analisando 46 doentes crónicos complexos que registaram mais de dois internamentos em 2020 (correspondendo a uma média de 2,9), verificou-se que esse número desceu para 1,7 em 2021. Num caso extremo de uma utente, a existência da Unidade possibilitou que os 13 recursos à Urgência (2020) descessem para 2 (2021). 

Testemunhando a relevância da Unidade de Diagnóstico Rápido, o diretor do Serviço de MI do CHTMAD recorda a situação de um doente por si observado numa segunda-feira (apresentava uns gânglios cervicais) e que, nesse mesmo dia, para além de também ter sido visto pela enfermagem, fez uma TAC, uma ecografia e análises clínicas. 24 horas depois foi submetido a uma biópsia e na quinta-
-feira foi estabelecido o diagnóstico: doença de Hodgkin. No dia seguinte estava a ser visto pela Hematologia, para iniciar a quimioterapia.

“Diariamente, aqui na UCAM, temos observação médica e de enfermagem e conseguimos fazer, fruto de alguns serviços de apoio, ecografias, tomografias computadorizadas, biopsias, ecocardiogramas, broncofibroscopias, endoscopias digestivas altas e baixas, etc.”, refere Fernando Salvador, acrescentando:

“Se necessário for, todos os dias fazemos ecografias point-of-care, gráficos espirométricos, pulsões lombares, mielogramas, toracocenteses, paracenteses, biópsias salivares, musculares e de nervo...” O nosso interlocutor é muito claro quando faz questão de sublinhar que o Serviço de Medicina Interna do CHTMAD “é um único”, com três polos hospitalares – Vila Real, Chaves e Lamego –, “obviamente, cada um com as suas particularidades”.



A UCAM surgiu no Hospital de São Pedro e tem, na sua valência de doentes crónicos complexos, muitas semelhanças com o Hospital de Dia de Chaves que, de acordo com o diretor, “funciona muito bem”. Quanto à valência da Unidade de Diagnóstico Rápido, “ainda não a conseguimos replicar lá, por os recursos humanos serem limitados, o mesmo sucedendo em relação ao Hospital de Lamego”.


Note-se que o Hospital de Dia gerido pela Medicina Interna em Chaves, cuja criação é anterior à da UCAM, regista uma média de 2000 episódios por ano. Os doentes para ali reencaminhados têm origem, como se imagina, na Urgência, após receberem alta no Internamento ou referenciados pelos Cuidados de Saúde Primários.

É fácil para um médico de família conseguir que um seu doente seja atendido na Unidade Clínica de Ambulatório Médico. Faz um pedido de consulta através do ALERT-P1, envia um e-mail, ou simplesmente utiliza uma linha telefónica direta do exterior, também acessível aos próprios utentes, explicando a situação ao médico ou ao enfermeiro que atender a chamada.

É no piso 3 do edifício principal do Hospital de São Pedro, junto às enfermarias do Serviço de MI, que se encontra o espaço da UCAM, constituído por uma sala de espera, um gabinete de consulta médica, um segundo gabinete mais destinado a procedimentos, uma casa de banho e uma sala com seis cadeirões e duas macas.

De referir que a Unidade funciona todos os cinco dias úteis da semana, entre as 9 e a 15 horas, sendo que em três das tardes esse período se estende até às 20 horas para ali serem recebidos os utentes da Unidade de Insuficiência Cardíaca Pluripatologia, que também é gerida pela Medicina Interna.

Criação da UCAM: recordar "quem desenhou o plano de ação"

Fernando Salvador, que dirige o Serviço de Medicina Interna desde 2019, sucedeu a José João Eira, que assegurou interinamente o cargo, durante alguns meses, na sequência da saída de Paula Vaz Marques, que transitou para o Conselho de Administração, como diretora clínica, mandato que interrompeu recentemente, para aceitar responsabilidade idêntica no Hospital de Braga.

O médico faz questão de recordar quem arrancou com o projeto da UCAM: “Eu fui acompanhando, operacionalizei a parte final do projeto e introduzi algumas alterações, mas grande parte do mérito da criação da UCAM é da Dr.ª Paula Vaz Marques, que teve a ideia, submeteu a candidatura e desenhou o plano de ação. O próprio Dr. José João Eira deu o seu contributo em alguns aspetos da Unidade."

A equipa da UCAM é formada atualmente por um internista, um interno, três enfermeiros, dois assistentes operacionais e dois assistentes técnicos.

Coordenação rotativa do projeto


A opinião foi praticamente unânime dentro do Serviço de Medicina Interna do CHTMAD – não sendo a UCAM muito específica, como acontece com as unidades de Hepatologia, de Doenças Autoimunes ou de Diabetes, e porque grande parte dos internistas também gosta de acompanhar os doentes no internamento, de fazer urgência e de dar consultas, o mais adequado seria haver uma coordenação rotativa da mesma, que neste momento é anual.


Elementos da equipa

Ana Filipa Rebelo é a atual coordenadora da UCAM e considera que o esquema rotativo implementado permite, inclusive, “um melhor aproveitamento dos recursos humanos existentes”. Veja-se o seu caso pessoal: “Estou com horário de amamentação e, por isso, faço apenas turnos de 12 horas na Urgência, o que permite que eu disponha de quatro manhãs por semana para a UCAM.”

Também releva o facto de integrar um Serviço que “funciona bem em termos de cooperarmos uns com os outros”, colaboração facilitada até pela circunstância de o espaço onde se encontra instalada a UCAM se localizar bem próximo do Internamento de Medicina Interna.


Ana Filipa Rebelo

Especialista desde 2013, a médica chegou a Vila Real em 2008, para fazer o seu internato de formação específica, e nunca mais deixou o hospital que a acolheu. Especialmente interessada pela diabetes, assegura uma consulta nessa área e é a representante do hospital na Unidade Coordenadora Funcional da Diabetes desde 2017.

Para Ana Filipa Rebelo, uma das grandes vantagens da UCAM tem que ver com o seguinte: “Ao contrário do que acontece na Consulta Externa, nós aqui temos a facilidade de poder efetuar exames complementares de imagem no próprio dia e de realizar técnicas invasivas, como a realização de toracocentese diagnóstica ou terapêutica, ou até realizar uma ecografia à cabeceira do doente”.

Por outro lado, casos que seriam referenciados para a Urgência – como uma anemia sintomática para estudo e terapêutica, por exemplo – podem agora ser atendidos na UCAM. “Fazer análises no próprio
dia, estudar o caso, medicar a pessoa e proceder a uma reavaliação passada uma semana é algo que representa uma verdadeira mais valia para o doente”, sublinha a internista, para quem é muito importante poder-se investigar rapidamente uma situação que exige essa rapidez.

Também os doentes crónicos têm a ganhar com a existência da UCAM: “Alguns casos que nós vemos na Urgência e que anteriormente acabaríamos, provavelmente, por internar, com receio de que acabassem por não ser observados uma semana depois pelo médico de família, são agora reavaliados nesta Unidade. Podemos otimizar a terapêutica com mais segurança, por vezes, até podemos vir a decidir pelo internamento, sem que os doentes tenham que esperar, por vezes, horas por uma cama livre.”



"Lidamos com doentes muito idosos "

O diretor do Serviço de Medicina Interna do CHTMAD diz que Daniel Freitas é, no que à enfermagem diz respeito, “o mentor do projeto”. E destaca, nomeadamente, a sua disponibilidade: “Até já aconteceu ele vir cá ao fim de semana, por sua iniciativa, fazer tratamentos a doentes que, em alternativa, teriam que se deslocar à Urgência!”

Daniel Freitas desvaloriza, garantindo que isso acontece “muito esporadicamente”, embora garanta: “Gosto que o serviço corra bem e que as pessoas fiquem satisfeitas!” E, pelos vistos, ficam: “Nós lidamos com doentes muito idosos e, mesmo que eles próprios não compreendam, os seus familiares entendem a resposta que lhes estamos a dar.”


Daniel Freitas

O enfermeiro não hesita em concordar que a criação de uma estrutura como a UCAM “faz todo o sentido, porque conseguimos dar resposta aos doentes no pós-internamento e numa pós-urgência, que conseguem, assim, muito mais rapidamente uma consulta, podendo-se aproveitar, caso seja necessário, para colher análises ou fazer tratamentos, e evitando muitas vezes os internamentos sucessivos”.

Mas Daniel Freitas quer salientar um aspeto: “Também damos resposta ao centro de saúde quando o médico de família tem um doente com uma alteração analítica e que precisa de ser visto em ambiente hospitalar. Antes, era encaminhado ao Serviço de Urgência, agora, tem via direta para a nossa Unidade. É referenciado através do P1 e nós temos o compromisso de em 7 dias observar esse doente e estudar a sua situação clínica. Isso também é muito importante!”



A reportagem completa, que inclui entrevistas a vários outros profissionais da UCAM, pode ser lida no Hospital Público de setembro/outubro.

Dirigida a profissionais de saúde e distribuída em serviços e departamentos de todos os hospitais do SNS, esta publicação da Just News tem como missão a partilha de boas práticas, de boas ideias e de projetos de excelência desenvolvidos no âmbito do SNS, facilitando a sua replicação.

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