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«COVID-19 põe em causa os velhos manuais da saúde pública»

As interações desta pandemia "com o mundo físico e cultural de hoje não têm qualquer semelhança com as que existiram no passado aquando de outras pandemias víricas", adverte Altamiro da Costa Pereira, diretor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).

No dia em que o Conselho Nacional de Saúde Pública se reuniu, concluindo que o encerramento das escolas deve ir sendo decidido apenas caso a caso pelas autoridades de saúde, Altamiro da Costa Pereira partilhou a sua preocupação, sob a forma de uma carta aberta dirigida a esta entidade.

Neste "contributo pessoal acerca da epidemia de Covid-19, em Portugal", o especialista em Epidemiologia e Saúde Pública pretende "
alertar, publicamente, para a eventual necessidade de se virem a tomar, com urgência, medidas mais restritivas que possam ainda vir a conter esta grave pandemia!"

Uma realidade sem "qualquer semelhança" com outras pandemias

No texto, escrito e divulgado antes ainda de serem conhecidas as conclusões ou recomendações do Conselho Nacional de Saúde Pública, o professor catedrático da FMUP, que tem desenvolvido atividade científica em instituições nacionais e estrangeiras, nas áreas da Epidemiologia, Informática Médica e Investigação Clínica, procura chamar a atenção para a gravidade da situação:

Reconhece, por um lado, que "a evidência subjacente à frieza dos números e dos critérios epidemiológicos até agora conhecidos não justificará, neste preciso momento, a tomada de medidas mais draconianas em Portugal". Contudo, sublinha:

"Esta epidemia está diariamente a pôr em causa os velhos manuais da saúde pública, pois as suas interações com o mundo físico e cultural de hoje não têm qualquer semelhança com as que existiram no passado aquando de outras pandemias víricas."


Altamiro da Costa Pereira

Segundo o diretor da FMUP e co-fundador do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS), "o timing para adoção das inevitáveis medidas mais restritivas poderá ter importantes consequências", acrescentando:

"Na verdade, é possível fazê-lo agora e prevenir ao máximo o número de novos casos de infeção, ou é possível manter a atitude que tem sido adotada de apenas atuar quando surgem novos casos. No entanto, a Itália mostra-nos que este último caminho pode revelar-se demasiadamente perigoso tanto em termos humanos como em termos socio-económicos."

Evitar enfrentar o pico da epidemia "já com um SNS exaurido"

Altamiro da Costa Pereira termina este seu "contributo pessoal" com uma derradeira mensagem:

"Por mais problemas sociais ou prejuízos económicos que venham a existir, no imediato – face às eventuais medidas de contenção que urge serem tomadas –, estes serão certamente bem menores do que aqueles que poderão advir dentro de 2 a 4 semanas quando enfrentarmos o pico da epidemia, já com um SNS exaurido e uma população desamparada e desiludida!"


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