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Consulta Aberta de Medicina Interna poupa a Urgência e dá resposta rápida ao doente agudo

A criação da Unidade de Tratamento Ambulatório de Medicina Interna (UTAMI) do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNG/E) aconteceu, basicamente, pela necessidade sentida de dar resposta a doentes em fase aguda da sua patologia, evitando que se dirigissem ao Serviço de Urgência. 

“Achávamos que faltava uma estrutura intermédia para atender aquele doente cujo médico de família verifica, no decorrer da consulta, que está em fase aguda, descompensado, a precisar de intervenção em meio hospitalar", explica Carina Silva, que assumiu a coordenação da UTAMI em maio de 2018, sucedendo à sua colega Marta Sousa.

Segundo a responsável, quando não se trata de um caso emergente, "em que o doente necessite de ir imediatamente ao Serviço de Urgência, ele precisa, no entanto, de ser visto no hospital num espaço muito curto de tempo, dois ou três dias”.



Carina Silva

“O doente agudo não poderia esperar tanto tempo"

A alternativa à Urgência era, antes de surgir esta Unidade, a consulta normal de Medicina Interna, habitualmente com um tempo médio de espera de um mês. “O doente agudo não poderia esperar tanto tempo para ser observado por nós, para além de que, nesta Consulta Aberta, ele tem a possibilidade de fazer logo análises ou até de ser submetido a terapêutica endovenosa, por exemplo”, sublinha a médica.

A apresentação da UTAMI e dos critérios para referenciar doentes foi feita pela primeira vez num evento que o Serviço de Medicina Interna realiza há já alguns anos para promover a proximidade com os cuidados de saúde primários (CSP). Esse trabalho de divulgação tem sido continuado, nomeadamente, com reuniões efetuadas no ACES Grande Porto VII – Gaia e no ACES Espinho/Gaia.



“Nós gostaríamos de ter um contacto mais direto, indo aos centros de saúde e explicando melhor o que é a Unidade e como podem falar connosco, mas com a pandemia isso não tem sido fácil”, afirma a coordenadora. Mas chegar à fala com alguém da equipa médica da UTAMI é mesmo fácil: Via telemóvel, o médico de família apresenta o caso do doente que tem à sua frente e, concluindo-se que tem indicação para aquele ser observado na Consulta Aberta, faz-se a marcação para o dia seguinte ou, quanto muito, para daí a dois ou três dias."

“Esse doente que está descompensado vem cá, é visto na nossa Consulta e, se precisar, faz logo análises, ou algum tratamento aqui ao lado, no Hospital de Dia. Se for necessário, segue diretamente para o Internamento de Medicina Interna ou para Hospitalização Domiciliária. Ele faz este circuito sem ter de passar pelo Serviço de Urgência”, sublinha Carina Silva.

Idosos multimedicados: "Queremos evitar que sejam reinternados"

A UTAMI também foi criada a pensar no típico doente da Medicina Interna, o idoso com múltiplas patologias e muita medicação. “Nós sabemos que nos dias seguintes a ter alta pode facilmente sofrer uma nova descompensação e queremos evitar que ele venha à Urgência, que seja reinternado", sublinha a médica.

"É, por isso, normal que seja logo convocado para, por exemplo, na semana seguinte, aparecer para uma consulta de reavaliação pós-internamento, de forma a percebermos se a evolução está a ser favorável, se é preciso intervirmos nalgum aspeto da terapêutica, se tem o necessário apoio familiar”, reporta a coordenadora da Unidade de Terapêutica Ambulatória de MI, acrescentando:



Doentes crónicos: maior apoio evita o regresso à urgência

À semelhança dos cuidados a ter com os idosos multimedicados, o mesmo sucede com o doente crónico que recorre com mais ou menos frequência à Urgência por sua iniciativa "e relativamente ao qual nós temos noção de que corre o risco de voltar a descompensar. Portanto, quando sai do SU já leva uma consulta marcada para cá vir nos dias seguintes e, assim, evitarmos que regresse à Urgência, ou que tenha de voltar a ser internado.”

Um apoio que não existia anteriormente tem que ver com o prestado a especialidades como, por exemplo, a Hematologia e a Oncologia, que têm “doentes obviamente muito complexos e que descompensam com bastante facilidade. Quando os colegas pedem o nosso apoio, vamos avaliar a situação e, se for preciso internar o doente, ele já não passa pelo circuito da Urgência”.

É preciso não esquecer, igualmente, a intervenção que a UTAMI tem em toda a atividade programada em Hospital de Dia, com destaque para os doentes com cirrose hepática – que descompensam com muita facilidade e que precisam de tratamento específico –, ou para os doentes autoimunes, que necessitam de fazer terapêutica biológica endovenosa.


Elementos da equipa da UTAMI

No final do ano, as consultas poderão ter aumentado 20% 

Funcionando de segunda a sexta-feira, integram a equipa médica da UTAMI, para além da sua coordenadora, as internistas Raquel Barreira, Filipa Duarte Ribeiro e Catarina Pereira, e ainda um médico interno da especialidade de MI.

Em 2019, que Carina Silva considera ter sido “o primeiro ano de maior otimização do funcionamento da Unidade”, foram realizadas 1800 consultas, a maior parte delas de primeira vez. Até porque acontece com frequência conseguir-se estabilizar o doente, passando este para a consulta normal de Medicina Interna, ou voltando a ser acompanhado pelo seu médico de família.

A coordenadora da UTAMI confirma que se trata do doente típico de MI, com insuficiência cardíaca, DPOC, anemia, diabetes, hipertensão... “É sobretudo o tipo de doente com fatores de risco cardiovascular”, frisa.

Em 2020, o número de consultas efetuadas (1700) não sofreu grande alteração, apesar de a disponibilidade de a equipa médica da Unidade ter sido menor, em virtude da necessidade de dar apoio no Internamento Covid e na Urgência Covid.

“Continuámos a ter muitos doentes nossos do Internamento de Medicina e da Urgência. Notámos foi uma redução na referenciação dos centros de saúde, que agora já está a aumentar bastante”, dizia à Just News Carina Silva na altura em que esta reportagem foi feita, em meados de abril. Prevê-se que o número de consultas na UTAMI aumente uns 20% até final de 2021.

Feitas as contas, cerca de 15% dos doentes atendidos na UTAMI vêm diretamente das unidades de CSP, perto de 60% são encaminhados do Serviço de Urgência, 15% chegam do Internamento de MI e uns 10% têm origem nas consultas de ambulatório de outras especialidades.


Maria Filomena Sá, Carina Silva e Joana Pimenta

"É uma mais-valia muito, muito grande!”

Maria Filomena Sá, 63 anos, foi uma das fundadoras da USF Nova Sales, há uma dúzia de anos. Começa por esclarecer que referencia doentes para a UTAMI logo desde que esta foi criada “porque gosto muito de trabalhar em conjunto com o hospital”. Aliás, garante que sempre o fez desde que começou a trabalhar como médica de família.

“Acho que esta Unidade veio institucionalizar aquilo que já procurávamos de fazer de forma informal. Claro que já trabalhávamos juntos pela referenciação para as consultas externas, mas neste caso é diferente, temos um acesso imediato, o que é muito útil no nosso dia-a-dia na USF, mas também nos domicílios”, salienta.

“A criação da UTAMI veio ajudar-nos a diminuir o envio de doentes para o Serviço de Urgência, o que proporciona, desde logo, um grande conforto aos nossos utentes. Eles ficam contentes porque são muito bem recebidos, veem o seu problema resolvido rapidamente e evitaram uma ida à Urgência, aspeto que ganhou ainda mais importância neste período de pandemia. É uma mais-valia muito, muito grande!”, exclama.



“Ajuda muito haver uma comunicação estreita”

Para Joana Pimenta, diretora do Serviço de Medicina Interna do CHVNG/E, a utilidade de existir uma Unidade com as características da UTAMI “faz todo o sentido, desde logo porque nós  temos normalmente muita dificuldade em conseguir uma articulação fluida entre os CSP e os Cuidados Hospitalares”.

E acrescenta: “A maior parte das vezes a referenciação é feita de uma forma impessoal, através de meios informáticos. Depois existem as triagens e uma série de mecanismos processuais que dificultam a interação e a gestão de doentes que não podem esperar muito tempo pela prestação de cuidados. Mesmo com todas as medidas que têm vindo a ser tomadas, agilizar a tão desejada articulação não é fácil.”


Joana Pimenta

No seu entender “ajuda muito haver uma comunicação estreita entre os CSP e aqui a MI, bastando pegar no telefone ou enviar um e-mail para marcar uma consulta, boa parte das vezes, logo para o dia seguinte”.

O facto de os elementos da equipa médica não estarem exclusivamente dedicados à UTAMI tem que ser visto, segundo Joana Pimenta, como algo positivo, pois, “permite-lhes testar modelos de prestação de cuidados inovadores como este, fazendo com que, ao mesmo tempo, não percam a diferenciação nesta especialidade generalista que é a Medicina Interna”.

"Foram aproveitados os recursos que já tínhamos"  

Maria José Carneiro, 63 anos, começou a trabalhar no Hospital Eduardo Santos Silva há 20 anos, quando ainda não existia o CHVNG/E. Foi convidada para coordenar o Hospital de Dia de Medicina, que na altura estava a ser criado, e aceitou.

Duas décadas depois, é responsável pelo HD Polivalente, localizado no mesmo Pavilhão de Ambulatório onde se situa a UTAMI e partilhando uma área open space que acolhe igualmente o HD de Oncologia. Maria José Carneiro chefia uma equipa de seis profissionais de enfermagem, dispondo de um total de 6 cadeirões e 3 macas.


Maria José Carneiro

“A dimensão do Hospital de Dia não foi ampliada por necessidade da UTAMI, simplesmente foram aproveitados os recursos que já tínhamos, tendo-lhe sido atribuídos um cadeirão e uma maca. De qualquer forma, se for necessário, há toda a flexibilidade para receber mais algum doente, até por parte das outras especialidades – Reumatologia, Dermatologia e Gastrenterologia –, que têm os seus cadeirões específicos”, assegura a enfermeira.

Aliás, Maria José Carneiro diz estar preparada para isso “porque a Unidade de Tratamento Ambulatório dá agora cobertura à Urgência e, portanto, todos os dias recebem doentes novos, sendo que qualquer um deles por vir ou não a fazer tratamento, dependendo da avaliação feita na consulta, sendo, por isso, imprevisível saber. Os outros casos têm que ver, na sua maioria, com tratamentos periódicos programados”.



A reportagem completa, com entrevistas também a outros profissionais da equipa, pode ser lida no jornal Hospital Público.
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