Centro Geriátrico da ULS Entre Douro e Vouga: nova valência «evita institucionalização dos idosos»
Oficiosamente aberto desde 4 de junho passado, o denominado Centro Geriátrico de Oliveira de Azeméis da ULS de Entre Douro e Vouga possui 36 camas, 6 das quais disponibilizadas para doentes ortogeriátricos alvo de intervenção cirúrgica após fratura do colo do fémur.
“Os restantes 30 apresentam doença aguda, sendo submetidos a uma abordagem geriátrica global desde o momento em que são avaliados”, explica o coordenador do Centro, Gonçalo Sarmento, especificando:
“Um doente que seja internado, por exemplo, com uma pneumonia, logo no primeiro dia, é avaliado por várias valências, como a Assistência Social, a Nutrição, a MFR, a Fisioterapia e a Enfermagem de Reabilitação, desenhando-se de imediato um plano multidisciplinar individual.”
O médico internista destaca a relevância desta nova valência da ULS, recordando que "um em cada cinco doentes com mais de 75 anos internado, nomeadamente, com uma pneumonia ou uma insuficiência cardíaca acaba por condicionar, de alguma forma, a sua independência".
E, nesse sentido, considera ser "fundamental que se procure salvaguardar a autonomia destes idosos e evitar a deterioração da sua capacidade cognitiva, porque esses dois fatores vão ser fundamentais no que respeita a prevenir aquilo que todos queremos evitar, que é serem institucionalizados".
Gonçalo Sarmento: “O que todos queremos evitar é a institucionalização dos idosos”
A oportunidade de criar um novo projeto na área da Geriatria
E como surgiu a ideia de arrancar com o projeto do Centro Geriátrico de Oliveira de Azeméis? Em 2018, ao integrar a ULS EDV, Gonçalo Sarmento constatou então que o Hospital de Oliveira de Azeméis, uma das três unidades que constituem a atual ULS de Entre Douro e Vouga, estava bastante desaproveitado:
“Tinha umas camas ocupadas com casos sociais, cuja lotação nem sequer estava esgotada, e a medicina não era exercida na sua melhor performance, porque muitos dos internados eram doentes crónicos a aguardar colocação em unidades de Cuidados Continuados e lares. Pensei então que no futuro, que seria com certeza longínquo!, poderia surgir a oportunidade de lançar ali um projeto na área da Geriatria.”
Entretanto, eis que surge a pandemia de covid-19, com a atribuição a Gonçalo Sarmento a responsabilidade de coordenar a unidade dedicada a esses doentes e que foi aberta no Hospital de São Sebastião, em Santa Maria da Feira. Ficaria a gerir 150 camas e mais de 30 médicos, com a promessa do diretor clínico de que, ultrapassada a fase crítica que se estava a viver, haveria de lhe pedir que elaborasse o tal projeto no campo da Geriatria.
O projeto em causa ganhou corpo ainda em 2021, com o seu autor a inspirar-se em vários modelos que teve oportunidade de conhecer em Espanha, enquanto estudava Medicina em Santiago de Compostela, analisando igualmente o que de bom se fazia, nesta matéria, no Reino Unido e no Canadá, e sem esquecer a experiência que adquirira aquando da criação da Unidade de Ortogeriatria de Gaia/Espinho.
“O objetivo foi procurar adaptar as melhores características desses modelos à nossa realidade, considerando que a abertura e manutenção de uma estrutura destas nunca deixa de ser um processo dinâmico, em que é sempre necessário ir superando as barreiras que vão surgindo”, afirma Gonçalo Sarmento.
Paixão pela Geriatria
A circunstância de se ter formado em Medicina em Santiago de Compostela – algo contrariado, no início do curso – contribuiu, de forma decisiva, para que Gonçalo Sarmento viesse a interessar-se particularmente pela área da Geriatria.
O contacto com a Geriatria, que é uma especialidade reconhecida como tal no país vizinho, surgiu pouco tempo depois de chegar a Santiago de Compostela: “Apercebi-me de que há todo um foco e uma preocupação que faz sentido num país europeu em crescimento como é o caso de Espanha, que é a de cuidar bem dos doentes idosos, para lhes assegurar qualidade de vida, para além de quantidade de vida, conseguindo disponibilizar serviços de saúde sustentáveis.”
Cumprido o internato do Ano Comum no então CH e Universitário de Coimbra, Gonçalo Sarmento optou por fazer a sua formação em MI no CH de Vila Nova de Gaia/Espinho, tornando-se especialista em abril de 2018. Reconhece que “acabou por ser uma ótima escolha” a que fez porque quis o destino que, mais tarde, o seu orientador (o internista Agripino Oliveira) viesse a coordenar uma Unidade de Ortogeriatria no Hospital Eduardo Santos Silva, em VNG, e uma enfermaria dedicada à Geriatria em Espinho.
“Tive a sorte de participar em todo esse processo de criação da Unidade, como interno da equipa, reacendendo em mim, digamos assim, ainda com mais vigor, a chama da Geriatria!”, exclama o nosso entrevistado. No entanto, por razões alheias à sua vontade, acabou por não ficar colocado em VNG, tendo vindo a integrar, já como internista, o CH de Entre Douro e Vouga, hoje em dia uma unidade local de saúde.