Avaliação dos internos de Gastrenterologia: «O que estamos a fazer é verdadeiramente reformista»

É já esta sexta-feira que o Colégio da Especialidade de Gastrenterologia da Ordem dos Médicos, cuja Direção é presidida por Luís Lopes, realiza as suas primeiras Jornadas. "Queremos mostrar aos colegas as alterações que já se fizeram... e são muitas", afirma o responsável.

Em entrevista à Just News, lembra que os Colégios da Especialidade têm "um papel muito importante e com impacto na vida dos colegas durante a sua formação pós graduada e nas idoneidades".

No caso específico da Gastrenterologia, a nova Direção tomou posse em outubro, tendo-se apresentado a eleições com "um grande ímpeto reformista", afirma Luís Lopes, que desenvolve a ideia:

"Quando fomos a eleições, achámos que era necessário fazer uma mudança grande, não porque outros estivessem muito mal, mas porque tínhamos e temos uma visão diferente das direções anteriores. Somos um Colégio mais moderno, com critérios mais objetivos, mais transparentes, modelos de avaliação diferentes."

E, em poucos meses, a equipa conseguiu já realizar muitas alterações, refere o médico, "sobretudo no modelo de avaliação".


Luís Lopes

"No mesmo dia, com os mesmos critérios"

E que mudanças foram essas que o novo Colégio da Especialidade de Gastrenterologia sentiu necessidade de implementar? Luís Lopes, que é professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Minho, refere que, no decorrer de uma qualquer avaliação, "o normal é que os testes sejam iguais para todos".

No entanto, não era essa a realidade no Internato da especialidade, conforme explica: "Tradicionalmente, há uma prova formal, que tem 3 partes: a avaliação do currículo - que se baseia numa grelha que é o próprio colégio que publica a dizer quais são os critérios que são valorizados, e isso é pacífico -, mas depois há uma prova prática e uma prova teórica. E o problema residia aí na nossa opinião."

E acrescenta: "A prova teórica era oral e a prova prática era uma prova escrita, sendo que as provas eram diferentes para todos os candidatos. Ou seja, as perguntas colocadas eram diferentes e nem havia uma grelha. É um modelo que temos no doutoramento, mas não nos pareceu adequado porque podia causar diferenças na avaliação dos diversos candidatos."

Assim, foi proposto um modelo de avaliação em que "a prova prática e e teórica ocorre a nível nacional, ao mesmo tempo, sendo exatamente igual", afirma. E se, eventualmente, pode parecer uma "coisa pequena", o médico gastrenterologista deixa bem claro que "não é de forma nenhuma".

Ano de transição

Luis Lopes faz questão de esclarecer que existem em Portugal alguns precedentes, "como é o caso do Colégio da Especialidade de Radiologia, que já tem este modelo implementado".

No caso da Gastrenterologia, foi decidido que "este é um ano de transição, para os médicos internos não saberem as ´regras do jogo` de um momento para o outro. No próximo ano já vai funcionar nestes moldes".

Assim, neste momento, "já houve avaliação em março e fizemos a parte prática igual para todos. Quanto à parte teórica, estamos à espera do programa de formação, sendo que já concebemos as perguntas, que são iguais para todos".

Desta forma, "2025 será o ano em que os internos de Gastrenterologia serão avaliados com os mesmos critérios, portanto, exatamente com as mesmas provas". Na sua opinião, não há dúvida de que "este é o melhor sistema possível e é o caminho a seguir".

"Mudámos também os critérios de idoneidade"

Luís Lopes salienta que há um desafio hoje em dia relacionado com a existência de internatos nos hospitais privados. Sublinhando que "não podemos fazer, legalmente, uma distinção", afirma: "Quem cumpre os critérios, cumpre. Não mudámos os critérios da Gastrenterologia para impedir que alguém tenha internato, mas para garantir que todos os internatos tenham qualidade e critérios muito objetivos".

O tema vai estar em debate na reunião: "É algo que queremos discutir de uma forma aberta, sem tabus. Os critérios agora são muito mais objetivos, não há grande subjetividade. Vamos contar com a intervenção de muitas pessoas quer do setor privado, quer público."

De acordo com o médico, "não é correto dizermos que a formação deve ser toda no SNS. Temos é de ver as condições do privado, caso a caso, especificamente na Gastrenterologia, para garantirmos que o interno consegue ter uma formação de qualidade".

E sublinha: "Para mim, a questão é prática, até porque vem na legislação. Não podemos prejudicar nem o publico, nem o social nem o privado. Como presidente do Colégio, tenho de garantir que as condições são de qualidade para os jovens médicos fazerem a sua formação".




As 1.as Jornadas do Colégio de Gastrenterologia realizam-se entre as 14h00 e as 18h00, na Ordem dos Médicos de Lisboa, tendo como tema central: "Internato médico e idoneidades". E se este ano a iniciativa se realiza apenas da parte da tarde, Luís Lopes reconhece que, dada a "grande adesão e interesse" que o evento está já a suscitar, "é muito provável que no próximo façamos algo ainda com mais impacto".


Na reunião, dirigida aos internos de Gastrenterologia, diretores de serviço de Gastrenterologia e orientadores de formação, estarão em debate as provas de avaliação final, o programa de formação e, no âmbito das idoneidades, os oradores irão procurar responder à questão: "Como assegurar um Internato de qualidade no sistema de saúde em Portugal?".

O programa pode ser consultado AQUI.

A inscrição pode ser efetuada aqui.


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