«O impacto da menopausa na saúde muscular é quase desconhecido e, por isso, pouco discutido»


Pedro Viana Pinto

Assist. hospitalar de Ginec./Obst., ULS de São João. Assisente convidado, Depart. de Anatomia e de Ginec. e Obst. da FMUP



Em Portugal, a idade média da menopausa tem permanecido estável (50-52 anos). Se confrontarmos este timing com o facto de cerca de 25% da população ter mais de 65 anos, compreendemos a preponderância desta etapa na vida das mulheres.

Se o impacto da menopausa na saúde cardiovascular, óssea e/ou neurológica é há muito reconhecida, o impacto na saúde muscular é quase desconhecido e, por isso, pouco discutido. O conceito de sarcopenia, introduzido em 1989, implica uma alteração da força e da qualidade musculares, sendo que, na maioriadas definições, também se relaciona uma diminuição da massa muscular.

Este fenómeno está inerente ao processo de envelhecimento, sendo, no caso das mulheres, acelerado pela menopausa. Como principais fatores de risco destacam-se a obesidade (conceito de obesidade sarcopénica), o sedentarismo, um aporte proteico inadequado, a ingestão excessiva de álcool e o tabagismo, bem como a inflamação crónica e o défice de vitamina D.

Tem como consequências menor resistência à atividade física, bem como alterações na marcha e mobilidade, com maior risco de queda e fraturas ósseas. Está associada a piores desfechos cardiovasculares e respiratórios, e ainda a maior mortalidade global na mulher.

Os estrogénios apresentam um efeito benéfico a nível muscular, pela sua ação nas células satélite musculares (necessárias para a regeneração de células musculares degradadas), bem como na força muscular.

Com a menopausa, além da perda desta ação benéfica na força e na massa musculares, a infiltração das fibras musculares por lipídeos (aumento das fibras musculares não contráteis), o aumento de citocinas pró-inflamatórias produzidas pelo tecido adiposo e ainda a resistência à insulina também têm um papel negativo na saúde muscular. Reforça-se que a menopausa precoce e insuficiência ovárica prematura surgem associadas a maior perda de massa muscular em idades mais jovens.

Destaca-se a associação desta doença com a osteoporose, num conceito definido por osteosarcopenia.

Na verdade, esta associação não representa uma surpresa, tendo em conta a extensa interligação entre o osso e o músculo, quer por mecanismos físicos (inserção muscular no osso), quer hormonais (com uma grande interação local). A menopausa pode acelerar a degradação de ambos estes elementos, com maior risco de quedas e fraturas, bem como de mortalidade nestas mulheres.


Pedro Viana Pinto

Para o diagnóstico de sarcopenia destaca-se como ferramenta de rastreio o SARC-F, com 5 questões simples, cuja sensibilidade é moderada, mas a especificidade é alta. Será importante, de seguida, avaliar a massa muscular (quer por bioimpedância quer por densitometria bifotónica - DEXA), bem como a força muscular, com testes simples como o da força de preensão ou da velocidade da marcha.


O tratamento desta patologia está ainda pouco estabelecido, com a sua base sustentada no exercício físico e numa dieta adequada. Deve ser favorecido o exercício de resistência e de força, pois, promovem a função mitocondrial, bem como a diferenciação de células satélite em células musculares. Por outro lado, o impacto mecânico da atividade física cursa com aumento da massa muscular, induz stress mecânico no esqueleto e estimula os osteoblastos, contribuindo assim para a saúde óssea.

O papel da terapêutica hormonal da menopausa no tratamento da sarcopenia levanta ainda dúvidas. Os estudos, com evidência de baixa qualidade, apresentam resultados contraditórios. A corrente mais atual considera que, de uma forma semelhante ao que se passa com a saúde cardiovascular, os benefícios máximos desta terapêutica na saúde muscular surjam quanto mais precocemente esta for instituída, de acordo com a timing hypothesis descrita por Thomas B. Clarkson Jr.

Em resumo, a sarcopenia é uma doença associada ao envelhecimento, mais frequente nas mulheres, intrinsecamente relacionada com a menopausa e associada a maior mortalidade.

Para o seu diagnóstico é fundamental a atenção dos profissionais de saúde e para o seu tratamento são fundamentais as alterações do estilo de vida, com especial atenção à prática regular de exercício físico e uma alimentação adequada. Programas de atividade física comunitários podem ser essenciais para minimizar o impacto desta doença na nossa sociedade.


O artigo pode ser lido no Jornal Médico dos Cuidados de Saúde Integrados de junho de 2024, no âmbito de um Especial dedicado à menopausa.

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