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«O sentido da Enfermagem é dar sentido à existência Humana»


Pedro Melo

Especialista em Enfermagem Comunitária. Professor auxiliar convidado do Instituto de Ciências da Saúde/Escola de Enfermagem da Universidade Católica Portuguesa



A 12 de maio comemora-se o Dia Internacional do Enfermeiro. Este dia associa-se ao aniversário de Florence Nightingale, considerada a mãe da Enfermagem Moderna.

Florence Nightingale, muito admirada também no mundo da matemática, nomeadamente na estatística, por ter inventado os gráficos de glaciar, para demonstrar de uma forma clara as causas de morte dos soldados. Tudo isto em 1854, quando a Inglaterra e a França eram aliados da Turquia na guerra da Crimeia contra a Rússia (algo que nos parece tão contemporâneo, não é?).

Nesta altura, conseguiu, com a implementação de medidas, contra um sistema machista e médicos pouco crentes nas suas ideias muito inovadoras, reduzir a mortalidade dos soldados de 43 para 2%. Ficou conhecida pelos soldados como “a dama da lâmpada”, por percorrer, de forma incansável, as enfermarias, durante a noite, com uma lamparina na mão, para iluminar os seus olhos, que minuciosamente avaliavam os soldados e o ambiente, estudando e analisando a melhor forma de garantir que eram dadas condições de recuperação.

Em 1860, fundou a escola de enfermagem do Hospital St Thomas, em Londres, que serviu de modelo de um ensino rigoroso, militar e com exigência nas qualidades morais das candidatas (um estudo de vocação para ser enfermeira).

Outro nome importante, que viria a acrescentar uma perspetiva diferente e complementar à de Florence Nightingale, foi uma discípula sua, Ethel Gordon Fenwick, que dizia que não era apenas uma questão de vocação ser enfermeira, era preciso uma profissionalização e uma garantia de segurança, com o devido registo das enfermeiras com a formação adequada.

Fundou assim a Royal British Nurses Association, em 1887, tendo sido a primeira enfermeira registada e a primeira presidente do que viria a constituir-se como o Conselho Internacional de Enfermeiros (conhecido por ICN).

No século XX, o incremento da investigação em Enfermagem permitiu desenvolver Escolas de Saber que permitiram enraizar hoje a Ciência de Enfermagem numa robustez profunda, que lhe confere uma identidade como Disciplina e como Profissão.

Os enfermeiros existem para cuidar dos infirmes, sejam doentes ou saudáveis

Considerando as origens da palavra Enfermagem, do latim Infírmus, que significa “Infirme”, podemos compreender que os enfermeiros são os profissionais que têm como alvo dos cuidados e de estudo científico as Pessoas Infirmes e as suas infirmezas.

Ao contrário do que muitos pensam, nos preconceitos sociais, os enfermeiros não existem para se ocuparem dos doentes, mas sim dos infirmes, sejam doentes ou saudáveis.

Porque podemos ser infirmes porque acabamos de ser pais e precisamos de um profissional que nos dê firmeza no papel parental, ou porque trabalhamos numa empresa e não sabemos como nos protegermos dos acidentes no trabalho e, por isso, precisamos de um profissional que nos dê firmeza no contexto do trabalho, ou porque somos uma comunidade escolar infirme porque tem muitos casos de bullying e precisa de um profissional que lhe dê firmeza para controlar este problema.

Enfim, vários exemplos que demonstram que em todos os contextos e em todas as etapas do ciclo de vida das pessoas humanas existem infirmezas contínuas em vários domínios que demandam a existência, por isso, de enfermeiros.


Pedro Melo

É ser capaz de garantir as firmezas

Os padrões de qualidade dos cuidados de enfermagem, publicados pela Ordem dos Enfermeiros, organizam no capítulo do enquadramento conceptual esta análise das infirmezas, indicando que os enfermeiros diagnosticam e intervêm no contexto das infirmezas nos processos intencionais das pessoas (aspetos que condicionam as nossas tomadas de decisão, como os conhecimentos ou as crenças), nos processos não intencionais (como os fisiológicos) e nos processos de interação com o ambiente (nos elementos físicos, humanos, económicos, políticos, culturais...).

Tudo isto demonstra o quão fundamentais e insubstituíveis são os enfermeiros e as enfermeiras. Sem esta ciência e esta profissão jamais sobreviviam as Pessoas Humanas, pois, estariam tão infirmes em todos os domínios da sua vida que ficariam mais doentes, morreriam mais de doença e não conseguiriam lidar com os seus processos de transição, a que se chama vida.

Ser Enfermeiro é ser capaz de mobilizar o conhecimento científico da Disciplina da Enfermagem, para garantir as firmezas nas pessoas, famílias, grupos, comunidades e populações.

Por isso, é uma das poucas áreas profissionais que não pode ser substituída por sistemas robotizados, dado que o diagnóstico de infirmezas, ao contrário do diagnóstico de doenças, não é possível com algoritmos simples, mas antes com uma profunda mobilização de um Saber enraizado numa interação humana, que lhe confere esta identidade tão única e especial.

O sentido da Enfermagem é dar sentido à existência Humana.

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