KRKA

Opinião

Desprescrição no idoso: «Um em cada cinco medicamentos utilizados pode ser inapropriado»


Hugo Ribeiro

Especialista de MGF. Coordenador da ECSCP Gaia. Doutorando em Cuidados Paliativos pela FMUP. Mestrado em Geriatria pela FMUC



Os atos de prescrever e desprescrever fármacos estão inerentes à atividade médica. No entanto, com o envelhecimento da população, o diagnóstico de mais doenças, a sobrevivência com maior gravidade de doença e o aparecimento consecutivo de novas terapêuticas, é frequente que um idoso tenha a prescrição de mais de 5 medicamentos diários, o que é considerado como polifarmácia ou polimedicação.

Sabe-se que um em cada cinco medicamentos habitualmente utilizados neste grupo etário pode ser inapropriado e este rácio aumenta nos doentes institucionalizados.

Mais formação em Geriatria e em Cuidados Paliativos seria fundamental para que cumpríssemos com uma regra básica da prescrição e da desprescrição de fármacos: hierarquização das necessidades terapêuticas. Ou seja, é fundamental questionarmos o que é que tem impacto imediato no bem-estar do doente, prosseguirmos para o controlo de doença crónica e passar, posteriormente, para a prevenção.

Mas, antes de chegarmos ao ponto anterior, é indispensável que cumpramos com o objetivo de personalizarmos as terapêuticas. E esta adaptação é constante e começa pelo reconhecimento das características fisiológicas do envelhecimento, mas, sobretudo, pelas características farmacocinéticas e farmacodinâmicas dos medicamentos.

Com o envelhecimento, é esperado que a água corporal diminua e o tecido adiposo aumente, havendo redução de massa magra. Neste sentido, é esperado que fármacos hidrossolúveis apresentem um limiar de toxicidade inferior, pelo que devemos utilizar doses mais baixas. Por outro lado, fármacos lipossolúveis têm tendência para um prolongamento da sua ação, pelo que devemos alargar as suas posologias.



Hugo Ribeiro

Com o envelhecimento, também é esperado que tenhamos uma redução da função renal, que em cerca de 2/3 dos doentes poderá representar uma redução fisiológica de 50% entre os 40 e os 70 anos. Neste sentido, na mesma classe de fármacos, podemos e devemos privilegiar, sempre que possível, os que apresentem menor excreção renal, para garantirmos estabilidade farmacocinética, sobretudo para doentes com agravamento continuado e documentado da taxa de filtração glomerular, mesmo que sem patologia aparente.

Por último, mais de 90% dos fármacos que são utilizados serão metabolizados na fase 1 de biotransformação hepática. Estas vias de metabolização são ainda aquelas que demonstraram uma redução da atividade enzimática com o envelhecimento.

Ou seja, e a par do que é aconselhado para doentes com abuso do álcool (que tem metabolização hepática de fase 1), nos idosos, sobretudo nos polimedicados, será preferível a utilização de fármacos que tenham metabolização hepática de fase 2.

A desprescrição de fármacos começa na adaptação da nossa abordagem. O doente no centro da decisão implica que consigamos ajustar as nossas estratégias às suas características individuais, promovendo eficácia, mas também segurança, díade fundamental (mas não única) para a adesão terapêutica que desejamos.



Artigo publicado no Jornal Médico de setembro 2021, no âmbito de um Especial Curso Pós-Graduado sobre Envelhecimento.

seg.
ter.
qua.
qui.
sex.
sáb.
dom.

Digite o termo que deseja pesquisar no campo abaixo:

Eventos do dia 24/12/2017:

Imprimir


Próximos eventos

Ver Agenda