Reunião da Jaba Recordati abordou os tipos de dor associados ao défice de vitamina B12

Numa altura em que se assiste ao relançamento em Portugal da forma ativa da vitamina B12 adenosilcobalamina (Jaba B12®) em formulação injetável, a Jaba Recordati promoveu recentemente, em Condeixa-a-Nova, uma reunião científica que congregou um grupo restrito de peritos com experiência na sua utilização e alguns representantes da Medicina Geral e Familiar (MGF).

O objetivo era procurar definir a melhor estratégia para retirar a máxima potencialidade de um medicamento tão relevante para a prevenção e tratamento de estados carenciais de vitamina B12 que podem levar a determinados tipos específicos de dor. Jaba B12® esteve temporariamente ausente do mercado português devido à complexidade do seu processo de fabrico.



Após um período significativo de ausência do fármaco, os benefícios do seu uso na gestão de estados carenciais de vitamina B12 e sintomas associados, como a dor, passaram a ser menos conhecidos pela comunidade médica, sobretudo pelas gerações mais jovens, pelo que se impunha uma revisão da evidência científica existente relativamente a este medicamento.


Raul Marques Pereira, diretor executivo do Centro de Medicina Digital P5 da Escola de Medicina da Universidade do Minho e coordenador do Grupo de Estudos de Dor da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), recordou que “o défice de vitamina B12 conduz a uma resposta inflamatória sustentada” e que a literatura conhecida mostra que ”há uma alta prevalência de défice de vitamina B12 em doentes com dor crónica mal definida e sintomas sensoriais não específicos”.

O especialista em MGF sublinhou que esta revisão sistemática apurou dados muito relevantes no que respeita a outcomes de redução de dor:

“Um dos estudos identificados apontou para uma redução da dor em 87% e da incapacidade em 82% em casos de lombalgia, redução essa obtida através da suplementação com vitamina B12.”

Os investigadores concluíram igualmente que a vitamina B12 ajuda na regeneração de tecidos neuronais e que o mecanismo anti-inflamatório que desencadeia por via da inibição das enzimas cicloxigenases (COX), impedindo assim a síntese de prostaglandinas, promove efeitos benéficos em termos de analgesia.


Raul Marques Pereira

“Esta revisão diz-nos também que a vitamina B12 potencia a noradrenalina – algo que estamos habituados a fazer por intermédio dos inibidores seletivos da recaptação da serotonina e da noradrenalina (SNRI) nos doentes com fibromialgia – e que tem efeito sinergístico com os opióides para a dor. De facto, notamos nestes fármacos adjuvantes um grande interesse ao nível do efeito sinérgico, que está bem estudado na dor e na analgesia multimodal. Assim, acreditando na literatura, faz sentido que fármacos como este se integrem no regime terapêutico de alguns doentes”, afirmou Raul Marques Pereira.

Outro estudo muito recente apresentado neste encontro indicia, por outro lado, que “quando damos vitamina  B12 a doentes com doenças como Parkinson, Alzheimer ou esclerose lateral amiotrófica se regista uma clara melhoria destas condições neurodegenerativas, algo que valida a ideia da regeneração nervosa possibilitada por esta vitamina”.

Raul Marques Pereira aludiu ainda a um estudo centrado na comparação entre placebo e vitamina B12 para o controlo da lombalgia, o qual mostrou que a administração de vitamina B12 tinha efeitos benéficos no controlo da lombalgia e na redução da toma de paracetamol versus placebo.

Da mesma forma, uma metaanálise publicada em 2020 deu-nos “evidência moderada a alta de que existe maior eficácia no diclofenac na lombalgia quando combinado com complexo de vitamina B12, acelerando a melhoria dos doentes e contribuindo, assim, para a diminuição da toma de outros fármacos. Para mim, este é um ponto fundamental. Muitos doentes com lombalgia fazem tratamento com anti-inflamatórios durante demasiado tempo, com crises hipertensivas, gastrites ou dano renal associado. Se a associação com uma vitamina B12 poderá reduzir de facto o tempo de tratamento e o surgimento de crises então estamos perante um evidente interesse clínico”.

O médico elencou, por último, os efeitos benéficos sustentados ao longo do tempo da administração de vitamina B12 por injeção intramuscular, tal como aferido por uma investigação de 2019: “Regista-se uma diminuição da sintomatologia, através de classificação autorreportada pelos doentes, com o uso de vitamina B12. A dor articular, por exemplo, diminui muito ao fim de seis meses de tratamento e há também um efeito muito significativo e prolongado no tempo ao nível, nomeadamente, da fadiga e das alterações do humor.”

Vitamina B12 (cobalamina) é cofator essencial para duas enzimas

Segundo Carlos Fontes Ribeiro, professor de Farmacologia e Terapêutica Experimental da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, a deficiência de vitamina B12 pode surgir por vários motivos, entre os quais, por opção nutricional (veganos, idosos que realizam dietas altamente restritivas, etc.), má-absorção congénita, teníase, doença de Crohn, problemas no recetor e transporte de vitamina B12 no íleo, ou algum tipo de interação (medicamentos e etanol, por exemplo). Também pode estar presente devido à falta de fator intrínseco, em resultado de gastrite atrófica, gastrectomia total ou parcial, ou na sequência de determinadas cirurgias by-pass que impedem a absorção da vitamina B12.


Carlos Fontes Ribeiro

A suplementação com vitamina B12 nos indivíduos afetados por estas condições é essencial e a mesma produz resultados benéficos devido à circunstância de desempenhar um papel indispensável em dois processos metabólicos chave, como explicou o farmacologista:

“A vitamina B12 é necessária na síntese da metionina a partir da homocisteína. Nesta reação, estão envolvidos tanto a vitamina B12 como o ácido fólico. A B12 atua como coenzima (metilcobalamina) para a metiltransferase. Ela é igualmente importante na conversão de metilmalonil-CoA em succinil-CoA no ciclo de Krebs. Nesta reação, a vitamina B12 (adenosilcobalamina) atua como coenzima para a metilmalonil-CoA-mutase.”

Carlos Fontes Ribeiro referiu ainda que a vitamina B12 apresenta uma ação antiálgica, especialmente nas situações de nevralgia e nevrite, pensando-se que este efeito decorra de uma interferência nos mecanismos da génese da dor a nível do tronco nervoso lesado. “A carência de vitamina B12 pode causar incapacidade de produzir mielina, seguida de degenerescência gradual do axónio e das células nervosas”, assegurou.

Fez ainda considerações de ordem farmacocinética, salientando o facto de no fígado, que é o órgão de depósito ou armazenamento da vitamina B12, haver acumulação da mesma até à sua saturação. Estando ultrapassada esta capacidade do fígado, ela é eliminada pela via renal, uma vez que é hidrossolúvel. Ou seja, nunca surgem níveis tóxicos de vitamina B12 no organismo, mesmo que sejam administradas doses muito elevadas por via parentérica. 


Prática clínica atesta mais-valias da administração intramuscular de vitamina B12

Carlos Vaz, assistente graduado sénior do Serviço de Reumatologia da ULS de São João e professor auxiliar de Reumatologia na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, referiu que
são vários os estudos que sustentam a eficácia da administração de vitamina B12 – mesmo em monoterapia – em situações de lombalgia, neuropatia compressiva, radiculopatias e outro tipo de condições:

“É curioso verificar que em muitos destes trabalhos o benefício da B12 verificava-se mesmo em indivíduos com níveis séricos adequados desta vitamina. Ou seja, apesar de estas pessoas não apresentarem carência, a administração de cobalamina nestas situações resulta em claro benefício clínico devido à criação de picos da B12.”


Carlos Vaz

O reumatologista afirmou, em paralelo, que a sua própria experiência clínica vem no mesmo sentido da evidência da literatura: “Normalmente, utilizávamos a vitamina B12, em muitos casos na formulação injetável, em quadros de lombalgia, com ou sem irradiação, em certas situações de nevralgia, como síndrome do túnel cárpico ou neuralgias intercostais. Recorríamos a um anti-inflamatório e à administração intramuscular da vitamina B12 de forma alternada. Obtínhamos excelentes resultados – melhores, porventura do que os alcançados por outro esquema usual, que é a associação de um anti-inflamatório a um relaxante muscular, também em administração intramuscular – e a minha experiência acabou por justificar que mantivesse esta linha de orientação terapêutica.”


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Quem pode beneficiar da vitamina B12?

O debate originado pela reunião realizada em Condeixa-a-Nova permitiu que no final da mesma os diferentes especialistas que nela participaram chegassem a um consenso quanto a determinados perfis de doentes passíveis de poderem beneficiar com a administração de vitamina B12.

Perfil de doente 1
• Lombalgia aguda com descritores neuropáticos
• Oferta de standard of care definido pelo médico assistente
• Administração de vitamina B12 uma vez ao dia, por via intramuscular

Perfil de doente 2
• Lombalgia crónica não cirúrgica (mecânica) inespecífica
• Sintomatologia vaga
• Algum grau de comprometimento degenerativo
• Oferta de standard of care definido pelo médico assistente
• Administração semanal de vitamina B12 por via intramuscular

Perfil de doente 3
• Dor crónica e generalizada
• Quadro de astenia de difícil resolução
• Polimedicado
• Fazer prova terapêutica

Perfil de doente 4
• Síndrome do túnel cárpico
• A aguardar cirurgia
• Outras causas compressivas

Perfil de doente 5
• Neuropatia diabética dolorosa
• Polimedicado

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