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Para diminuir o risco vascular, «é preciso prevenir e promover uma intervenção multidisciplinar»

Apostar na prevenção e na formação de equipas com profissionais de várias áreas são, no entender de Rodrigo Leão, “dois aspetos essenciais para conseguirmos otimizar o tratamento dos nossos doentes e diminuir o mais possível o risco vascular”. O médico preside à 5.ª Reunião do Núcleo de Estudos de Prevenção e Risco Vascular, a decorrer em Peniche, no final desta semana.

Integrando o Núcleo de Investigação Arterial do Hospital de Santa Marta (CH e Universitário de Lisboa Central), compreende-se que a maioria dos novos doentes que Rodrigo Leão observa se encontre em situação de prevenção secundária. São pós-enfartes, casos de doença arterial periférica referenciados pela Cirurgia Vascular, vítimas de AVC, pessoas com doença aterosclerótica avançada…

“Mas também chegam muitos doentes bastante novos, por exemplo, com hipercolesterolemia familiar, que já tiveram um enfarte do miocárdio com apenas 40 anos, ou menos…”, sublinha.



“Há muita falta de prevenção primária"

O especialista de Medicina Interna identifica, desde logo, um problema: “Há pouca educação para a saúde na nossa população, que não está devidamente sensibilizada para a necessidade de adotar um estilo de vida saudável. Embora se tenha vindo a registar alguma evolução nesta matéria, o facto é que ainda há um longo caminho a percorrer.”

Mas há um outro aspeto que Rodrigo Leão releva: “Há muita falta de prevenção primária, na medida em que o acesso aos cuidados de saúde primários é, por norma, difícil, o que faz com que, frequentemente, a primeira vez que uma pessoa com manifesto risco vascular é vista por um médico só acontece após um primeiro evento. Ora, isso torna a nossa missão bem mais complicada!”

O conceito de equipa multidisciplinar é algo que faz todo o sentido ser aplicado quando se fala em risco vascular, mais abrangente do que o risco cardiovascular e incomparavelmente mais amplo do que quando a intervenção dos profissionais de saúde se foca apenas nesta ou naquela patologia.

“De pouco vale eu otimizar a terapêutica para a hipertensão de um determinado doente e dizer-lhe ´Você está ótimo, portanto, pode andar descansado!´, quando há uma grande probabilidade de ele ter dislipidemia, diabetes, ou até já ter insuficiência cardíaca, eventualmente ainda não muito sintomática e, portanto, não diagnosticada”, observa Rodrigo Leão, acrescentando:

“Daí que faça todo o sentido a formação de grupos multidisciplinares de Risco Vascular que, tendo em conta o facto de a terapêutica usada nas várias comorbilidades ser cada vez mais específica e ter as suas particularidades, integre colegas mais dedicados à diabetes, à hipertensão ou à dislipidemia, por exemplo. E que incluam não só médicos mas também outros profissionais, como enfermeiros, nutricionistas e fisioterapeutas.”



Reunião mantém modelo de sessões de Hot Topics

Criado em 2015, o Núcleo de Estudos de Prevenção e Risco Vascular da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (NEPRV-SPMI) realizou a sua primeira Reunião em 2019 e, com exceção do ano de 2020, em que, devido à pandemia de covid-19, o evento foi online, todas as edições têm sido presenciais, à semelhança do que vai suceder na próxima sexta-feira, 1 de dezembro.

“Privilegiamos o formato presencial porque este promove muito mais o contacto e a discussão entre colegas, que é precisamente o que nós queremos, até porque as guidelines e os artigos científicos muitas vezes não retratam as nossas dificuldades do dia-a-dia”, justifica Rodrigo Leão, que é o atual secretário-geral do Núcleo, coordenado desde o final de 2022 por Vitória Cunha, do Hospital Garcia de Orta, que sucedeu a Francisco Araújo, do Hospital Lusíadas Lisboa.

Obedecendo ao formato que tem caracterizado o programa desta Reunião, vários especialistas de Medicina Interna mas também de Cardiologia, convidados para o efeito, vão assegurar as 9 sessões de Hot Topics: Diabetes (Paula Nascimento), Hipertensão Arterial (Rogério Ferreira), Dislipidemia (Derek Connolly), Acidente Vascular Cerebral (Teresa Mesquita), Cardiopatia Isquémica (António Gonçalves), Insuficiência Cardíaca (Inês Araújo), Medicina e Arte (Francisco Araújo), Tromboembolismo Venoso (Inês Cruz) e Outros Fatores de Risco (Daniel Caldeira).



Perspetivando-se que possa atingir as duas centenas de participantes, a 5.ª Reunião do NEPRV tem, pelo menos, duas novidades, uma das quais se prende com a presença física de um palestrante estrangeiro, Derek Connolly, investigador da Universidade de Birmingham, cardiologista especialmente ligado à área dos lípidos.

Também pela primeira vez na história deste evento, realizar-se-á um Curso Pré-Reunião de HTA Secundária, muito a pensar nos médicos internos, nomeadamente de Medicina Interna. “O Núcleo quer ter, cada vez mais, um papel formativo”, esclarece Rodrigo Leão.

 

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