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«Os antidepressivos são eficazes, mas 50% dos doentes não fazem a terapêutica»

"Existe uma evidência de que os antidepressivos são eficazes no tratamento da depressão, mas acontece que, quando nós os prescrevemos, cerca de 50% dos doentes não fazem a terapêutica e desligam-se da medicação ao fim de 3 meses", revelou Paulo Martins, psiquiatra do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte (CHULN).

Os fatores que estão associados à questão da adesão terapêutica são vários. “Nós conhecemos os preditores, aqueles que levam à descontinuação, e podemos arranjar estratégias no sentido de intervir de uma forma eficiente”, acrescentou o especialista durante o evento que assinalou o Dia Europeu da Depressão.

“Sabemos que os doentes que vivem sozinhos têm mais dificuldade em manter a medicação”, afirmou, enumerando alguns motivos para que tal aconteça, como “as próprias crenças que têm em relação à doença, ou as experiências relativamente à medicação”. Com efeito, há quem não acredite no efeito dos fármacos e quem esteja convencido de que, se os começar a tomar, nunca mais os vai largar…

De acordo com um estudo realizado nos EUA, citado por Paulo Martins, 39% das pessoas falham a toma e também há, embora em menor percentagem, as que não renovam a receita.

O médico disse haver “vários preditores que podemos ter em conta para promover a adesão” e que se prendem com a frequência das tomas, a educação, a coprescrição, a comorbilidade psiquiátrica, a adesão inicial – “um fator importantíssimo e que tem mais a ver com os fatores socioeconómicos” --, a idade, as comorbilidades médicas, a psicoterapia e o tipo de fármaco.


Paulo Martins

“A psicoterapia parece ter um efeito importante porque, à medida que temos contacto com o doente, vamos favorecendo, digamos assim, a utilização do fármaco. Ele vai acreditando e vai tendo consciência da necessidade de tomar a medicação”, referiu o médico, fazendo depois alusão a um estudo que concluiu ser a adesão à terapêutica superior quando esta obriga, por exemplo, a três tomas diárias em vez de uma.

Transmissão de mensagens educativas sobre a terapêutica

“A educação tem um papel importante na nossa atitude como médicos, porque não se trata só de prescrever, mas também de transmitir mensagens educativas sobre a terapêutica", sublinhou Paulo Martins.

Na sua opinião, não há qualquer dúvida quanto à relevância e impacto deste parâmetro: "Temos de dizer às pessoas que devem tomar a medicação, como o fazer, que podem não notar melhorias no início do tratamento, mas que têm de continuar até se sentirem bem, que os medicamentos não atuam todos da mesma forma”, alertando para as recorrências de episódios depressivos, "que sucedem tantas vezes quando os doentes interrompem a toma por sua própria iniciativa".

Paulo Martins esclareceu que “é a adesão inicial que pode ditar a importância da adesão a médio e longo prazo”, observando que as primeiras seis semanas são críticas: “Nessa altura, temos que estar muito próximos dos doentes.”

A tarefa pode ainda ser mais complicada em certos casos, particularmente "nas situações de fobia e ansiedade ou quando se trata de um doente pertencente a uma minoria étnica, por questões culturais e/ou socioeconómicas".


O tema foi abordado pelo médico durante o evento que assinalou o Dia Europeu da Depressão e que se realizou num dos anfiteatros da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa

Contudo, "a idade é ´amiga` da adesão" e explicou que, provavelmente, "tal se deve ao facto dos doentes já terem experimentado retiradas de medicação e viram que pioraram, tal como a comorbilidade, por implicar a toma de outros medicamentos".

Segundo o psiquiatra, que é responsável pelo Internato de Psiquiatria do CHULN,“os doentes de mais idade já têm uma rotina, compreendem melhor as consequências de interromperem uma terapêutica.”

Na sua intervenção, Paulo Martins fez ainda questão de afirmar ser “essencial conhecer os efeitos secundários dos fármacos que estamos a prescrever e saber quais os que para o doente representam um maior impacto na tolerabilidade”.

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