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«O modelo USF é algo que não existe em mais lugar algum do mundo»

"É uma coisa completamente única!", exclama André Biscaia, que preside neste momento à USF-AN (Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar), mas que está ligado à Associação desde a sua criação.

O médico refere-se ao tipo de unidade cada vez mais implementada nos CSP em Portugal e sustenta a sua afirmação com base nos inúmeros contactos internacionais que vem mantendo ao longo dos anos e que lhe permitem fazer comparações com o que se passa noutros países do mundo.

Pode-se mesmo concluir, sem exagerar, que o modelo USF é uma autêntica marca nacional e que tem sido exportada! A conversa com o médico de família de 58 anos aconteceu na USF Marginal, o seu local de trabalho, um mês antes do 14.º Encontro Nacional das USF, marcado para 13 e 14 de outubro, em Aveiro.

A entrevista decorreu numa sexta-feira, a poucas horas de André Biscaia partir em direção a Barcelona, para participar num encontro do European Forum for Primary Care, organização internacional relativamente à qual o médico foi, durante muitos anos, o “elemento de contacto” da USF-AN.


André Biscaia

"Vêm da Austrália, da China, do Brasil..."

“Tenho feito visitas lá fora e também acompanho muitas vindas ao nosso país de colegas que querem ver como funciona uma USF. Por exemplo, dentro de dias, vamos ter um grupo de Itália que pretende conhecer a realidade da experiência portuguesa. Vêm da Austrália, da China, do Brasil, do norte da Europa, da França, do Canadá, dos EUA…”, descreve André Biscaia.

Referindo-se com evidente entusiasmo a esta projeção internacional do nosso modelo de unidade de saúde familiar, cita mesmo um artigo publicado na revista Lancet, onde se compara a esperança de vida observada com a esperada pelas condições socioeconómicas a nível de todo o mundo, afirmando:

“Só havia cinco países que se destacavam, entre os quais Portugal. A conclusão a que chegaram foi que vale a pena saber, estudar e aprender com as políticas que foram implementadas nesses países. O modelo USF é algo que não existe em mais lugar algum do mundo. É completamente moderno, inovador, português, nem sei até se será transferível na sua totalidade!”

Uma lógica de inclusão

André Biscaia salienta “a questão da digitalização” como algo diferenciador. Mas também a circunstância de ser “um modelo 100% público, que aposta no trabalho em equipa multiprofissional, o que é um sistema muito distinto do habitual, nomeadamente o inglês, muito centrado no médico de família”.

O nosso entrevistado valoriza igualmente o facto de numa USF as decisões serem tomadas em Conselho Geral, com o direito de voto a abranger médicos, enfermeiros e secretários clínicos de igual modo. E prossegue:

“Os cargos técnicos e de coordenação são eleitos, havendo aqui, portanto, um envolvimento de toda a equipa, não só na parte assistencial como na não assistencial. Aliás, a autonomia é levada ao extremo na nossa relação com a tutela, limitando-se, no início de cada ano, onde são estabelecidos objetivos e definidos os recursos necessários para os atingir, e no final para prestar contas. Entre os dois momentos, a USF tem autonomia para organizar a sua atividade.”

É certo que, pelo meio, “há sempre reuniões regulares com o Conselho Clínico e de Saúde e com a Direção Executiva do ACES, mas apenas visam acertar estratégias, não havendo qualquer esquema de comando e controlo”.




André Biscaia conclui mesmo que se trata de “um sistema quase único”. No seu entender, os resultados estão à vista, fazendo toda a diferença no que respeita aos indicadores de saúde:

“Por exemplo, antes da reforma dos CSP, em 2005, tínhamos uma taxa de internamentos evitáveis nomeadamente, por situações de diabetes descontrolada, hipertensão ou pneumonia – completamente diferente da que se veio a verificar posteriormente. Aliás, neste momento, Portugal apresenta uma das taxas mais baixas do mundo, inferior à média da União Europeia e até da maior parte dos países."

E lembra que o nosso país também está "muito bem colocado a nível da mortalidade evitável e até da mortalidade tratável, acima mesmo de um país como a Alemanha, com outros recursos, mas onde se optou por um diferente tipo de abordagem.”

O presidente da USF-AN sublinha que, nessa matéria, a sua Associação tem feito alguma investigação, cujos resultados têm sido publicados e demonstram, por exemplo, que um modelo como o nosso, que recorre a profissionais de saúde do sistema público e a um financiamento baseado em impostos apresenta melhores resultados.



USF-AN cresce a um ritmo de um novo associado por dia

O 14.º Encontro Nacional das USF, que se realiza esta sexta e sábado, em Aveiro, acontece numa altura em que a Associação a que André Biscaia preside “tem estado a crescer a um ritmo de, mais ou menos, um novo associado por dia”.

A classe profissional mais representada é a dos médicos, mas não faltam enfermeiros, secretários clínicos e até profissionais de outras áreas, como psicólogos, fazendo da USF-AN uma estrutura multiprofissional pouco comum, até porque se procura que os três grupos principais estejam devidamente representados na Direção, assistindo-se mesmo a uma rotação no cargo de presidente, que não tem sido exclusivamente ocupado por médicos.


O mesmo sucede, aliás, com a presidência da Comissão Organizadora do Encontro anual, cargo que este ano é assegurado pela enfermeira Sofia Lemos, da USF Pulsar. André Biscaia explica que, “como sempre acontece, surgiram vários nomes possíveis e acabou por haver consenso relativamente à escolha que foi feita”. E adianta:

“Embora nunca tenha integrado os Órgãos Sociais da Associação, tem estado envolvida em outros encontros e reconheceu-se que possui uma capacidade de organização que é reconhecida por todos. Não estávamos necessariamente à procura de um elemento da enfermagem para a presidência da CO, simplesmente aconteceu. E acho que conseguiu fazer um programa muito bom, equilibrado e que responde àquilo que é o momento da vida das USF.”

“É importante dizer que o 14.º Encontro vai estar completamente alinhado com o momento que vivemos, isto é, vamos debater o tema das ULS, discutir os problemas associados ao atendimento à doença aguda, refletir sobre a questão da comunicação no seio das equipas", especifica o presidente da USF-AN.

Refere ainda que haverá sessões particularmente dirigidas a médicos, a enfermeiros e a secretários clínicos "e vamos ter uma componente clínica maior, o que não costuma acontecer”.


André Biscaia realça a sessão que foi, entretanto, programada para a tarde do 2.º dia do Encontro, no sábado, já depois da cerimónia de encerramento: “Antecipando um pouco aquilo que pode vir a acontecer, com a aprovação do novo decreto-lei, que é as USF terem que conseguir manter um determinado desempenho precisamente para se manterem como USF, vamos procurar ajudar as equipas a atingir esse desempenho."

E acrescenta: "Há uma série de estratégias e de instrumentos para atingir esse objetivo que nós vamos partilhar nesta sessão, em que só pode participar quem esteja inscrito no Encontro.”



A entrevista completa pode ser lida na edição de outubro do Jornal Médico dos Cuidados de Saúde Primários.

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