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As crianças que vão à consulta nesta USF «recebem um livro a partir dos 6 meses»

Joana Castelhano é conhecida como “a médica das causas sociais”, ou não fosse responsável por mais do que um projeto social da USF Travessa da Saúde.

Após integrar a USF na fase inicial, quando ainda era recém-especialista, apercebeu-se rapidamente das necessidades da população: “São pessoas muito carenciadas e, como se sabe, a pobreza está associada a piores indicadores de saúde, daí que fosse importante apostar em projetos de promoção da saúde.”

Assim, em 2012, criou um grupo de utentes voluntários. “Iniciámos várias ações, como pedir à Câmara Municipal de Loures para se abrir uma porta para que as pessoas pudessem entrar pelo jardim e temos o Grupo Entre-Nós, para mulheres em situação de vulnerabilidade.”

Neste último caso, reúnem-se para fazer croché com fins solidários, proporcionando a partilha de vivências e conquistas e, por conseguinte, a sua capacitação.

“Algumas delas, com depressão grave, deixaram de fazer tratamento ambulatório diário, voltaram ao trabalho e até diminuíram a dose dos medicamentos antidepressivos e ansiolíticos”, diz.

"Estimular a leitura e o seu desenvolvimento cognitivo"

Outro projeto que não passa despercebido a quem está na sala de espera é a biblioteca: “A ideia é promover a literacia, levando as crianças a ler, porque a educação é essencial para se cuidar bem da nossa saúde, além de que é uma forma de ajudar as crianças no seu desenvolvimento cognitivo.”

E reforça: “A taxa de insucesso escolar é brutal nesta região, há crianças a reprovar logo no 1.º ano, tanto que as escolas daqui estão sempre nos últimos lugares dos rankings.”


Joana Castelhano

Face a esta realidade, as crianças que vão à consulta recebem um livro a partir dos 6 meses. “O objetivo é que o devolva na próxima consulta para levar outro, mas sabemos que isso nem sempre acontece, porque muitos vivem em barracas ou em condições muito precárias e os livros acabam por ficar rasgados ou cheios de lama.” Nada que preocupe a médica: “O mais importante é estimular a leitura e o seu desenvolvimento cognitivo, para que tenham um futuro melhor.”

O projeto da biblioteca teve por base o anterior Plano Nacional de Leitura e a iniciativa “Ler mais dá saúde”, do Ministério da Cultura e do “Reach out and read”, que se iniciou há 20 anos nos EUA e que contribuiu para o sucesso escolar. Atualmente, têm cerca de 2 mil livros, estando todos catalogados.

Uma vez por mês tem lugar também a Hora do Conto. “A meio da manhã, as crianças que vêm à consulta, assim como alunos de uma escola convidada, ouvem um conto sobre determinadas temáticas, como bullying, higiene oral, maus-tratos, etc.”, explica.


De futuro, a médica espera ter mais apoios para poder criar uma biblioteca para adultos. “Às vezes, vemo-los a ler a Branca de Neve e os Sete Anões…”, refere.



Utentes beneficiam de intervenção em rede na comunidade


Outra ideia é a biblioterapia, ou seja, "ajudar as pessoas a recuperar de uma doença através da leitura de um livro, indo ao encontro de problemas de saúde como a depressão, a ansiedade, etc.”

Com “A Mala da Leitura”, outra iniciativa em mente, pretende-se que os voluntários vão a casa das pessoas idosas, isoladas e incapacitadas para lerem um livro e fazerem companhia.

Todas estas atividades contam com o apoio de outras instituições da comunidade: “Estão em contacto com a população e sempre que detetam algum problema falam connosco. Por exemplo, se uma pessoa vai ao Banco Alimentar e está cada vez mais magra, somos logo contactados. Também os Missionários Combonianos, que desenvolvem o projeto de apoio escolar ´Despertar`, falam connosco caso haja algum sinal de alarme.”

Para Joana Castelhano, médica há 18 anos, é a possibilidade de continuar a missão de ajudar que a levou há uns anos a ir para Moçambique com os Missionários Combonianos. “Estas pessoas precisam de todo o apoio”, afirma.

Entrega de livros: "Toda a ajuda é bem-vinda"

Para o desenvolvimento do projeto da biblioteca, a unidade de saúde conta com livros doados por outras pessoas. “Infelizmente, as editoras não têm dado grandes apoios, daí que quem quiser e tiver possibilidade pode oferecer-nos livros", refere a médica.

Qualquer pessoa pode apoiar esta ideia da USF Travessa da Saúde, "entregando os livros na própria unidade ou contactando um dos nossos voluntários, através de Helena Morin (telm.: 933103596). Toda a ajuda é bem-vinda".  




A notícia pode ser lida na edição de outubro de Jornal Médico dos cuidados de saúde primários, no âmbito de uma reportagem sobre a USF Travessa da Saúde.

De periodicidade mensal, Jornal Médico dos cuidados de saúde primários é distribuído em todas as unidades de saúde familiar do país, sendo uma ferramenta única na partilha e promoção de boas práticas e projetos inovadores implementados nos cuidados primários.

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