MF é importante na vigilância e seguimento das pessoas infetadas pelo VIH

José António Malhado, especialista de Medicina Interna e infeciologista do Hospital Curry Cabral, adverte, em declarações ao Jornal Médico, que Portugal tem uma das maiores taxas de incidência de infeção pelo VIH na Europa.

“O número de pessoas infetadas era de 42.580 em 2012, estando em tratamento cerca de 15.000 doentes no ano de 2011, dos quais 1780 tinham critérios de SIDA”, adianta, desenvolvendo que tem havido um acréscimo de casos no grupo de heterossexuais com faixas etárias mais elevadas e que no mundo contam-se cerca de 35 milhões de pessoas com a infeção.

O especialista lembra que no início da pandemia (anos 80) pouco se sabia da doença e muito menos da sua terapêutica. “Os doentes surgiam essencialmente com quadros de doenças oportunistas, em fases muito complexas e graves. Necessitavam quase sempre de internamento hospitalar e mesmo as doenças concomitantes mais frequentes estavam, por norma, em fases de gravidade. Como consequência, foram os médicos hospitalares que tinham de procurar prestar assistência o melhor possível, com o saber e os recursos da época”, refere, desenvolvendo que “foram as especialidades de Medicina Interna, Infeciologia e Pneumologia que se chegaram à frente”.

Atualmente, o panorama mudou muito, “a doença é controlável e transformou-se numa doença crónica, sendo, no entanto, necessário monitorizar as ações acessórias da exposição prolongada a fármacos, que se traduz em alterações em muitos órgãos e sistemas, como seja o cardiovascular, o renal, o osso, o sistema nervoso periférico, o fígado e alterações metabólicas”.

A tudo isto se junta, de acordo com José António Malhado, o mecanismo do envelhecimento, que, ao que parece, nestes doentes é mais acelerado devido à imunoativação provocada pela infeção crónica.

“É aqui que surge a necessidade e utilidade do MF, que tem por perfil mais proximidade com o doente e sua condição de vida, social e familiar, podendo assim, em concordância com o médico hospitalar, desempenhar um papel muito importante na vigilância e seguimento, estando atento ao diagnóstico das situações atrás mencionadas, bem como à monitorização da medicação, em especial a adesão terapêutica, tantas vezes prejudicada por razões de dificuldade económica, para conseguir o transporte que os levem ao hospital para levantar os remédios. A esta dificuldade soma-se hoje a própria dificuldade de fornecimento do fármaco por parte do hospital.”

Núcleo de Estudos de Infeção VIH da SPMI

De acordo com José António Malhado, o Núcleo de Estudos de Infeção VIH da SPMI “tem tido como objetivo principal, além de vários patrocínios a eventos científicos, a realização de jornadas nacionais com periodicidade anual, com o propósito dos médicos internistas se exprimirem, apresentando trabalhos, bem como o debate entre pares e também com personalidades de vários campos da Ciência e da Cultura, sempre como denominador comum a infeção VIH”.



As declarações de José António Malhado fazem parte de
um Especial sobre Medicina Interna, publicado na edição
de outubro do Jornal Médico.

Imprimir


Próximos eventos

Ver Agenda