Lisbon Aortic Centre dá resposta no tratamento das doenças mais complexas

Em dezembro de 2014, no âmbito do 5th Lisbon Vascular Forum, foi formalizada a criação do Lisbon Aortic Centre (Centro de Cirurgia da Aorta), um projeto que tem vindo a ser desenvolvido desde há alguns anos e que consiste na mobilização de um conjunto de competências diversificadas no Hospital de Santa Maria (HSM)/Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN) e Centro Académico de Medicina de Lisboa (CAML), indispensáveis ao tratamento das doenças mais complexas e graves da aorta.

Um ano depois, e a propósito da 6ª edição do Lisbon Vascular Forum, que se realizou nos dias 11 e 12 de dezembro, a Just News faz o ponto da situação deste projeto, que conta com a cooperação de dois centros de referência a nível internacional (Maastricht e Nuremberga).



De acordo com José Fernandes e Fernandes, diretor do Departamento de Coração e Vasos e do Serviço de Cirurgia Vascular do HSM-CHLN, o Lisbon Aortic Centre resultou, fundamentalmente, de quatro fatores:


a) a tradição do Serviço de Cirurgia Vascular no tratamento destas situações;

b) a convergência dos serviços de Cirurgia Cardiotorácica, Cardiologia e Cirurgia Vascular no Departamento de Coração e Vasos, que facilita a organização integrada para a otimização do processo de avaliação e tratamento destes doentes;

c) a capacidade de oferecer tratamento individualizado e o mais adequado a cada doente – patient tailored approach –, o qual pode ser cirurgia convencional aberta, tratamento endovascular e tratamento híbrido, que combina a cirurgia aberta e endovascular;

d) a aquisição de experiência do grupo de trabalho mediante concentração de recursos, competências e disponibilização dos meios tecnológicos indispensáveis ao sucesso terapêutico.

Segundo aquele responsável, “em todo o mundo, particularmente na Europa e nos Estados Unidos da América, têm sido desenvolvidas iniciativas idênticas de concentração do tratamento destes doentes em centros de referência que disponham de todos os meios necessários ao sucesso e que possam oferecer, para cada doente, a solução terapêutica mais adequada”.

“Considero que temos know-how, conhecimento e experiência, equipas multidisciplinares treinadas e motivadas, os recursos tecnológicos indispensáveis, isto é, capacidade para oferecer com segurança tratamento a estes doentes”, afirma José Fernandes e Fernandes.

“É um dever e uma obrigação prestarmos este serviço aos doentes e ao País. Ainda mais porque estamos integrados numa grande unidade hospitalar que tem os recursos adicionais indispensáveis ao sucesso terapêutico”, aponta.

 

Cooperação internacional

Em dezembro de 2014, foi estabelecida uma parceria formal com o Centro de Referência na Europa em Maastricht, sob a direção de Michael Jacobs, para a cirurgia aberta, que operou alguns casos muito difíceis com a equipa do HSM-CHLN e que foi convidado como co-chairman do Lisbon Aortic Centre.

De acordo com José Fernandes e Fernandes, o Centro tem vindo a ser desenvolvido de uma forma progressiva e com o apoio, orientação e ação direta de Michael Jacobs, que conhece há mais de 20 anos e que, conforme refere, “é a personalidade europeia com maior experiência no tratamento por cirurgia aberta, convencional, destes doentes”.

Tratar com segurança e sucesso os doentes do SNS

José Fernandes e Fernandes adianta que o Lisbon Aortic Centre é uma iniciativa pioneira em Portugal e que foi constituído com a finalidade de “dotar o País de um Centro que reúna as competências, experiência e expertise para o tratamento, com segurança e sucesso, dos doentes portugueses, no âmbito do Serviço Nacional de Saúde (SNS)”, bem como da instituição académica, que “tem o dever de acompanhar e promover o conhecimento, formando novos médicos e profissionais de saúde e especialistas com uma perspetiva moderna e atualizada da sua ação”. A estratégia foi definida com o objetivo de “criar as condições para tratar estes doentes no HSM – CHLN, reduzindo a necessidade de irem ao estrangeiro”.

Tratamento individualizado nos casos complexos de aneurismas da aorta

A capacidade de oferecer o tratamento individualizado e o mais adequado a cada doente nos casos complexos de aneurismas da aorta traduz o conceito de patient tailored approach, que é seguido no Centro de Cirurgia da Aorta.

Luís Mendes Pedro, professor associado da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e assistente graduado de Cirurgia Vascular do HSM/CHLN, tem estado muito envolvido no Lisbon Aortic Centre. Segundo o especialista, os aneurismas complexos da aorta vão além dos aneurismas infrarrenais (que envolvem as artérias viscerais do abdómen), os aneurismas toracoabdominais e os aneurismas do arco aórtico com aneurisma toracoabdominal concomitante.

Em entrevista, o médico menciona que existem várias abordagens terapêuticas para estes doentes para além da cirurgia aberta, nomeadamente com recurso a técnicas puramente endovasculares ou híbridas, que envolvem procedimentos de cirurgia aberta e endovascular.

Segundo Luís Mendes Pedro, há situações clínicas de “risco vital” de complicações, como a isquemia medular, a insuficiência renal ou a isquemia intestinal. Nestes casos, o tratamento envolve áreas de fronteira com outras especialidades, nomeadamente a Cirurgia Cardiotorácica, uma vez que há aneurismas que abrangem o arco aórtico (uma área tradicionalmente tratada por esta especialidade). E dá como exemplo os aneurismas toracoabdominais, nos quais é importante o suporte do doente enquanto se faz a operação através de técnicas de circulação extracorporal (rotineiras no âmbito da cirurgia cardiotorácica).

Depois, refere, há a colaboração indispensável com outras especialidades, como é o caso dos anestesistas treinados e dedicados a esta área, dos Cuidados Intensivos, do Serviço de Imunohemoterapia e do Serviço de Neurologia, para monitorização da função medular, enquanto se faz a operação no sentido de minimizar o risco de isquemia medular.

Colaboração entre serviços já é antiga

Ângelo Nobre, diretor do Serviço de Cirurgia Cardiotorácica, recorda que, ainda antes da criação do Lisbon Aortic Centre, existia desde há vários anos uma cooperação muito estreita entre a Cardiologia, a Cirurgia Cardíaca e a Cirurgia Vascular no HSM-CHLN e que todas as situações de doentes com patologia da aorta (torácica e abdominal) eram discutidas em conjunto.

O especialista conta que, sempre que o tratamento necessitava de suporte de circulação extracorporal, os doentes eram operados no bloco da cirurgia cardíaca. Quando este suporte não era necessário, eram intervencionados no bloco da Cirurgia Cardiotorácia ou no bloco da Cirurgia Vascular. No caso de haver necessidade de recurso a técnicas endovasculares, os doentes eram operados na suíte de Radiologia.

“Há alguns anos começaram a ser implantadas próteses hibridas – frozen elephant trunk – endopróteses que são libertadas na aorta descendente. Nalguns casos, esta cirurgia transformou-se numa cirurgia curativa para doentes que tinham portas de entrada secundárias de uma dissecção, na aorta torácica descendente, ou se o aneurisma se prolongava para lá do que era acessível pela técnica aberta”, afirma.

Para Ângelo Nobre, a situação ideal (e que está proposta à Direção do hospital) é a criação de um departamento cardiovascular que reúna no mesmo espaço físico as especialidades de Cirurgia Cardiotorácica, Cardiologia e Cirurgia Vascular, tratando de uma “maneira sinérgica” todas as patologias do foro cardiovascular.

Desta forma, refere, “haverá um bloco operatório, uma unidade de cuidados intensivos e uma enfermaria comuns, sem que os serviços percam a sua identidade própria, mas permitindo uma grande mobilidade de recursos humanos dentro do departamento, rentabilizando-os e otimizando a terapêutica a todos os doentes do foro cardiovascular”.



A versão completa da reportagem foi publicada no Jornal do 6th Lisbon Vascular Forum, distribuído aos participantes da reunião. 

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