KRKA

Para uma intervenção precoce na psicose «a proximidade e a continuidade são cruciais»

Aquilo que o responsável pela Coordenação Nacional das Políticas de Saúde Mental classifica como “o problema dos recursos humanos” -- que será, no seu entender, “a batalha dos próximos 10 anos” -- compromete o assegurar dos dois aspetos que diz serem “nucleares” nesta área em particular. Miguel Xavier fala mesmo em “situação insustentável”.

O psiquiatra, que aceitou, há já perto de dois anos, a tarefa de acompanhar a execução do Plano Nacional de Saúde Mental, foi a figura central da sessão de abertura do 8.º Encontro Nacional de Intervenção Precoce na Psicose, que se realizou em setembro, em Lisboa.



O evento foi organizado por um núcleo da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental (SPPSM) que dá o nome à sua reunião anual, mas que, anteriormente, se designava Secção do Primeiro Episódio Psicótico. Aliás, esta alteração na denominação – que Miguel Xavier fez questão de saudar – foi proposta pelo atual presidente da Secção, Joaquim Gago, que tomou posse há um ano, explicava, em declarações à Just News, que “o termo que utilizamos é agora mais abrangente e está de acordo com a evolução nesta área”.

A International Early Psychosis Association (IEPA) marcou presença no Encontro, com uma mensagem em vídeo da sua atual presidente, Alyson Yung, e o mesmo fez a SPPSM, cujo presidente, João Bessa, se fez representar pelo seu vice. Albino Oliveira Maia valorizou o trabalho desenvolvido por esta Secção, que “tem mobilizado extraordinariamente bem” a comunidade mais ligada à intervenção precoce na psicose.


Albino Oliveira Maia, Joaquim Gago e Miguel Xavier


A “fragilidade” dos projetos de intervenção precoce na psicose


Joaquim Gago, que integra o Serviço de Psiquiatria e Saúde Mental do CH Lisboa Ocidental, alertaria, na cerimónia de abertura do Encontro, para o “mundo ainda mais complexo” dos dias de hoje, fruto, nomeadamente, da pandemia de covid-19 e de outros acontecimentos que marcaram os últimos tempos.

“Tudo mudou, e nós percebemos que as pessoas sentem, de facto, alguma insegurança, uma certa fragilidade, que faz parte da própria natureza humana”, afirmou, considerando que, “se não houver um desenvolvimento de competências, uma intervenção precoce nesse sentido, elas ficam doentes, obviamente, de acordo com as suas morbilidades, sendo que uma delas poderá ser o risco de psicose”.


Joaquim Gago

O termo “fragilidade” foi igualmente empregue, com evidente preocupação, por Joaquim Gago, quando se referiu aos 13 projetos/programas de intervenção precoce na psicose que tinham sido apresentados na tarde do dia anterior, numa sessão em que foi, aliás, um dos moderadores.

“Uma das coisas que se verificou foi a sua evidente fragilidade. Alguns desses projetos estão mesmo com muita dificuldade em continuar, em diferenciarem-se. Se não os apoiarmos, eles dificilmente vão conseguir progredir e alinhar com aquilo que são as guidelines mais básicas a nível internacional”, garantiu.

Dirigindo-se a Miguel Xavier, e afirmando fazê-lo na qualidade de presidente da Secção da Intervenção Precoce na Psicose da SPSSM, Joaquim Gago foi claro: “Nós estamos alinhados, pelo menos naquilo que é essencial, com o que está a fazer a nível nacional, ao nível das políticas de Saúde Mental. No próximo ano, vamos trabalhar muito a diferenciação dos serviços e das equipas e sabemos que uma das formas de introduzir novas práticas é através dos programas de intervenção precoce na psicose, mas, para isso, tem que haver apoio, inclusive financeiro.”

“O desafio que eu lanço é que esta seja uma das áreas contempladas, para que os projetos ultrapassem as dificuldades que sentem e possam progredir, conseguindo, de alguma forma, dar resposta às pessoas que precisam de nós o mais cedo possível, contribuindo para a mudança na vida dos nossos doentes e destes jovens que nos procuram”, afirmou Joaquim Gago.



Os dois "aspetos cruciais"

Não deixando de saudar todos quantos se têm esforçado por “manter a chama acesa” relativamente à promoção da intervenção precoce na psicose, e felicitando “todos os que estão no terreno a trabalhar”, Miguel Xavier procurou realçar a importância da proximidade e da continuidade, considerando que são “aspetos cruciais” nesta área.

“A proximidade só se consegue não estando à espera que as pessoas adoeçam para virem até nós. Muito do que tem sido feito mais interessante em intervenção precoce prende-se com a questão de como detetar os primeiros sinais de psicose. Esse é um dos princípios nucleares do que estamos a tentar fazer através da implementação do modelo de setorização com grande ligação à comunidade e, neste caso, na minha opinião, também à escola, porque os primeiros sinais surgem muitas vezes precisamente nessa altura”, referiu.


Miguel Xavier 

No que respeita ao segundo aspeto -- a continuidade –, Miguel Xavier reconhece haver “um problema que temos que resolver”, que se relaciona com a transição do jovem da Pedopsiquiatria para os serviços de Psiquiatria:

“Há aqueles que o estão a fazer bastante bem, mas há serviços em que isso é muito mais difícil de concretizar nas devidas condições. Por isso, temos que encontrar um modelo que garanta a continuidade dessa transição, que não é algo fácil, até porque estamos a falar da passagem do fim da adolescência para a vida adulta…”

Embora consciente do “problema” que representam os recursos humanos, obviamente, devido à carência de profissionais nos serviços – que diz ser “uma situação insustentável” --, o coordenador Nacional das Políticas de Saúde Mental mostra algum otimismo, assegurando que, “daqui a 2 ou 3 anos, penso que vamos estar bastante melhor do que estamos neste momento”.

Secção da Intervenção Precoce na Psicose da SPPSM: Maria João Avelino (secret. Assemb.-Geral), Tiago Santos (vice-pres.), Patrícia Frade (pres. Assemb.-Geral), Joaquim Gago (pres.) e Catarina Klut (secret.)


seg.
ter.
qua.
qui.
sex.
sáb.
dom.

Digite o termo que deseja pesquisar no campo abaixo:

Eventos do dia 24/12/2017:

Imprimir


Próximos eventos

Ver Agenda