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Hospital Garcia de Orta já realizou 100 angioplastias pulmonares de balão

A equipa que participa nesta intervenção, que foi, em 2022, reconhecida como classe de recomendação I para doentes com hipertensão pulmonar tromboembólica crónica inoperáveis, está orgulhosa do trabalho que tem vindo a realizar desde 2017. Acredita que os resultados apresentados poderão aumentar o potencial de expansão da técnica para doentes considerados inoperáveis ou com doença residual ou recorrente pós-cirurgia de tromboendarterectomia.



"O programa tem crescido e corrido muito bem"

Filipa Ferreira, que coordena a Unidade de Hipertensão Pulmonar (UHP) do HGO desde 2019, explica que a origem da realização da angioplastia pulmonar de balão (APB) no hospital remonta a dezembro de 2017, quando a então coordenadora, Maria José Loureiro, em conjunto com o diretor do Serviço de Cardiologia, Hélder Pereira, impulsionaram o começo do programa.

“Primeiramente, os dois, juntamente comigo e com a Dr.ª Rita Calé, deslocámo-nos ao Hospital Marie Lannelongue, em Paris, para fazer uma formação com o Dr. Philippe Brenot, o intervencionista que terá a maior experiência na técnica a nível europeu. Realizámos os primeiros procedimentos no HGO em dezembro, sob a sua tutoria, e em janeiro começámos a realizá-los autonomamente”, recorda. Desde então, “o programa tem crescido e corrido muito bem”.


Filipa Ferreira e Rita Calé

A cardiologista explica que “os primeiros casos realizados na Europa foram publicados por um grupo da Noruega e aconteceram em 2011, mas a sua origem remonta a 2001, por Feinstein. Contudo, a técnica foi abandonada, entretanto, por algumas complicações associadas. Depois, consta que foi otimizada por colegas japoneses e só posteriormente colocada de novo em prática e expandida na Europa”.

Rita Calé, a cardiologista de intervenção responsável por estes procedimentos, adianta que, em Portugal, além do HGO, também os hospitais de Santa Maria (CHULN), Santa Marta (CHULC) e Santo António (CHUP), que são centros de referência de hipertensão pulmonar, realizam esta técnica.

Na sua ótica, precisamente “só os centros de referência é que têm as skills necessárias para otimizar e manejar este tipo de doentes, complexos, previamente à intervenção e fazer o seu seguimento adequado.”



A coordenadora da UHP distingue que, à luz do estado da arte, a tromboendarterectomia – cirurgia que permite retirar o material trombótico organizado da artéria pulmonar – ainda é o tratamento de primeira linha para tratar a hipertensão pulmonar tromboembólica crónica (HPTEC).

No entanto, “existe um número elevado de doentes que não são tecnicamente operáveis ou apresentam um risco cirúrgico inaceitável”. Como explica, “normalmente, quando a doença é mais distal, a remoção dos trombos na árvore arterial pulmonar fica mais inacessível”.

Por outro lado, pode acontecer existirem doentes que, “apesar de terem doença mais proximal e, anatomicamente, serem tecnicamente mais favoráveis para cirurgia, por terem comorbilidades associadas, apresentam um risco cirúrgico inaceitável”. Nesses casos, “é privilegiada a APB em associação com terapêutica médica”. Esta técnica também é aplicada em casos que, após cirurgia, apresentam hipertensão pulmonar residual ou recidivante.

Existe ainda uma “zona cinzenta, onde se encontram aqueles que são tecnicamente elegíveis para as duas opções”, avança. Rita Calé explica que, neste grupo de doentes, a decisão “parte sempre de uma equipa multidisciplinar, constituída por cirurgiões cardíacos do Hospital de Santa Marta (centro de referência nacional para a tromboendarterectomia), cardiologistas de intervenção com experiência na APB e especialistas em hipertensão pulmonar, que avalia o risco-benefício das duas alternativas”.




Diagnóstico tardio é o principal problema associado à HPTEC

Cerca de 2/3 dos doentes com HPTEC são diagnosticados na sequência de um episódio de embolia pulmonar clinicamente expressiva, enquanto 1/3 surgem da aplicação do algoritmo de diagnóstico perante uma hipertensão pulmonar não explicada, afirma Filipa Ferreira.

Esta, que é uma forma relativamente rara de hipertensão pulmonar, atinge, habitualmente, uma faixa etária mais avançada.

Sofia Alegria, cardiologista especialista em hipertensão pulmonar, destaca que “o principal problema associado a esta doença é o seu diagnóstico tardio, dado o desconhecimento
que existe entre a população e que leva a que, em média, passem cerca de 14 meses entre o início dos sintomas e o diagnóstico”. Na sua ótica, tal é “prejudicial porque os doentes vão apresentar-se em classes funcionais mais avançadas, que condicionam o prognóstico”.

Para poderem ser obtidos bons resultados quer a nível hemodinâmico, quer clínico, Rita Calé realça que cada doente deve fazer, em média, cinco sessões, mas o número “depende das características clínicas do doente e anatómicas das lesões”.

Antes de cada procedimento, é realizado um cateterismo direito, sendo que o objetivo do programa é “atingir uma normalização hemodinâmica”, adianta Filipa Ferreira. Habitualmente, existe um primeiro internamento de uma semana, durante o qual se realizam duas sessões.

“Cada procedimento obriga a uma vigilância, pelo menos, durante as 48 horas seguintes, para se identificarem possíveis complicações, como edema de reperfusão, que pode obrigar a ventilação mecânica ou a assistência mecânica circulatória”, conta a cardiologista de intervenção. Até à data em que esta reportagem foi realizada, no início de setembro, apenas tinham ocorrido lesões de reperfusão minor, “facilmente ultrapassáveis”.

Entre três a quatro semanas depois, há um reinternamento, que pode voltar a acontecer novamente mais tarde, para se completar o número de sessões adequado. Em média, os doentes ficam tratados num período entre quatro a seis meses.


Filipa Ferreira e Rita Calé com  Hélder Pereira, diretor do Serviço de Cardiologia do HGO


Cada procedimento tem uma duração habitual de duas horas, dada “a sua complexidade e o facto de terem de ser abordadas várias ramificações da artéria pulmonar”. Filipa Ferreira acrescenta que “nem sempre é fácil encontrar os segmentos onde se quer intervencionar” e Rita Calé evidencia que “há alguns riscos associados, que obrigam a que a técnica seja realizada com muito cuidado.


Sempre que possível, são usados fios menos agressivos e balões subdimensionados ao calibre dos vasos, para evitar a sua perfuração, dado que quando se fazem dilatações mais agressivas há um maior risco de hemoptise e de lesão de reperfusão”.

Além das duas cardiologistas, também participam na intervenção dois técnicos cardiopneumologistas e dois enfermeiros. Apenas é aplicada anestesia local na veia femoral, dado que, “por norma, é solicitada a colaboração do doente durante a intervenção, para fazer inspirações profundas, o que ajuda a navegar nas artérias pulmonares”.


Acresce que a própria patologia “gera um risco anestésico acrescido, sem grande benefício demonstrado”.


Rita Calé, Hélder Pereira, Filipa Ferreira, Sofia Alegria, Nuno Oliveira, Débora Repolho, Cláudia Balixa e Sílvia Vitorino

"Melhoria da qualidade de vida e redução da medicação"

A 18 de agosto, a equipa realizou o 100.º procedimento, e celebrou a data por ter sido, “provavelmente, a primeira a nível nacional a completar este número de sessões, sem complicações e com bons resultados”, observa a coordenadora. Nessa data, 22 doentes referenciados de todo o país, maioritariamente das zonas Sul e Centro, tinham sido submetidos à técnica.

Rita Calé nota que “se somarmos a duração de cada procedimento, que leva entre duas a três horas, e o tempo necessário para realizar todo o trabalho prévio e posterior, foram muitas horas dedicadas a estes doentes”. Sofia Alegria fala da gratificação que sentem por ver os “bons resultados espelhados na melhoria da qualidade de vida, na redução da medicação e na quase normalização da hemodinâmica dos doentes”.



A reportagem completa, que inclui entrevistas a outros profissionais, pode ser lida no Hospital Público de setembro/outubro.

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