Desenvolver a Medicina Sexual Feminina «com trabalhos de investigação multicêntricos»
Após a criação do Núcleo de Medicina Sexual da Sociedade Portuguesa de Ginecologia, em janeiro de 2014, "chegou a altura de desenvolver a Medicina Sexual Feminina, com trabalhos de investigação multicêntricos", afirma Maria do Céu Santo, ginecologista, obstetra, especialista em Medicina Sexual e coordenadora deste núcleo.
"Até agora, a sexualidade feminina só tem sido estudada do ponto de vista da Psiquiatria e da Psicologia, contrariamente à masculina, que também inclui especialidades como a Urologia", refere a especialista. Em entrevista à Women`s Medicine, explica que "pretende-se ainda fazer trabalhos de investigação multicêntricos, para ajudar ao desenvolvimento de terapêuticas para as disfunções sexuais femininas. Atualmente, estou a desenvolver um projeto investigacional no Hospital de Santa Maria, que se espera seja expandido a nível nacional."
A criação deste núcleo, cujo objetivo principal é o de dar formação em Medicina Sexual aos ginecologistas, "não foi fácil", afirma Maria do Céu Santo na entrevista: "Fiz formação há dez anos em Medicina Sexual e a sensibilização para a importância desta área tem sido feita passo a passo. Felizmente, hoje em dia, existe uma aceitação cada vez maior, que se nota no interesse dos ginecologistas e no empenho da Sociedade Portuguesa de Ginecologia."
Relativamente à saúde sexual dos portugueses, Maria do Céu Santo considera que tem melhorado e, ano após ano, verifica-se "um aumento de procura de consultas na área de Medicina Sexual. As mulheres estão a deixar de sofrer em silêncio para verbalizar os seus problemas sexuais. Por isso, é necessário que os médicos tenham formação nesta área, não só os ginecologistas, mas também os médicos de família."
Entre outros temas abordados na entrevista, explica que ainda é difícil ter estatísticas relevantes "sobre uma matéria que sempre foi muito reservada, considerada mesmo tabu" e acrescenta: "Desde o início da revolução sexual da década de sessenta do século passado que se registou uma enorme evolução, mas ainda existe uma abordagem muito diferenciada entre a sexualidade feminina e a masculina. Há muita informação incorreta e mensagens transmitidas pelos meios de comunicação social que geram referências e expectativas que nem sempre são as mais corretas. Contudo, apesar das limitações na recolha de informação, tivemos uma enorme evolução nas últimas décadas."
Assistente graduada de Ginecologia e Obstetrícia, exercendo no Hospital de Santa Maria (CHLN), no Hospital da Luz e na Clínica do Homem e da Mulher, Maria do Céu Santo colabora também, no Hospital de Santa Maria, na Consulta da Dor, na vertente das algias pélvicas, dispareunia e disfunções sexuais da doente oncológica. Desde janeiro de 2014, é ainda a coordenadora do Núcleo de Medicina Sexual da Sociedade Portuguesa de Ginecologia.
A entrevista de fundo com Maria do Céu Santo foi
publicada na edição de janeiro/março da Women`s Medicine.