Curso de Saúde Mental para Medicina Familiar esclarece «quando e como referenciar»

É com o objetivo de “dar resposta a uma necessidade e a uma lacuna de formação” que um grupo de médicos internos de Psiquiatria e de Medicina Geral e Familiar (MGF) decidiu começar a realizar um Curso de Saúde Mental para Internos de MGF, explica a presidente da Comissão Organizadora, Sara Magano.

"A ideia de realizar este Curso surgiu quando verificámos que os nossos colegas de MGF que fazem o estágio de Saúde Mental mostravam interesse e necessidade de ter mais formação nesta área", afirma a médica, que frequenta o 3.º ano do Internato de Formação Específica no Centro de Responsabilidade Integrado de Psiquiatria do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).

Programada para 3 e 4 de abril, esta ação, limitada a 40 vagas, decorrerá ao longo de dois dias completos, com um programa que alternará sessões teóricas com workshops práticos, com a participação de vários psiquiatras, tendo o apoio expresso do CRI de Psiquiatria do CHUC e do seu próprio diretor, Horácio Firmino.


Elementos da Comissão Organizadora: médicos internos de Psiquiatria e de MGF com Horário Firmino (ao centro)

Ir ao encontro das "necessidades dos colegas de MGF"

A Comissão Organizadora é formada por internos de Psiquiatria mas também integra alguns internos de Medicina Geral e Familiar porque, conforme refere Sara Magano à Just News, “nós não somos as pessoas com melhor conhecimento sobre as necessidades dos colegas de MGF”. Com efeito, “é importante que sejam eles a comunicar-nos as áreas em que sentem mais necessidades na sua prática clínica”.

É um dado adquirido que nos cuidados de saúde primários “são atendidos mais casos de perturbações depressivas e ansiosas, enquanto nós damos apoio em situações muito graves e complexas”. Ora, “o facto de o estágio ser feito em ambiente hospitalar, e apenas durante dois meses, permite aos internos de MGF entrar essencialmente em contacto com os casos mais complicados”.

Quando e como referenciar

De acordo com Sara Magano, uma das maiores dificuldades prender-se-á com a referenciação de utentes com depressão ou com perturbação de ansiedade, "nomeadamente, quando a devem fazer". Também não será fácil lidar com casos de psicopatologia, ou fazer a abordagem a doentes difíceis e agressivos.


Sara Magano

“Nos casos de psicose, as pessoas são muitas vezes observadas nos CSP antes de irem ao hospital. Como devem reagir, como devem comunicar, como referenciar, são estas as questões com que se debatem”, refere a médica interna de Psiquiatria, acrescentando:

“Vejo esta aproximação entre a Psiquiatria e a MGF como absolutamente essencial para ambas as especialidades. Por um lado, os médicos de família necessitam de conhecimentos para fazerem um bom trabalho na prevenção primária da patologia mental. Nós, no hospital, também dependemos deles para evitar as referenciações de casos que podem ser geridos nos CSP.”



"Psiquiatria Básica em Medicina Familiar"

O projeto formativo "PrimariaMente - Curso de Saúde Mental para Medicina Geral e Familiar", que agora surge por iniciativa de um grupo de médicos internos no Centro de Responsabilidade Integrado de Psiquiatria do CHUC conta com o apoio muito especial do seu diretor, Horácio Firmino.

Além de procurar facilitar o desenvolvimento de uma certa dinâmica entre os médicos internos de Psiquiatria, a "aproximação" das duas especialidades em concreto é um tema que diz muito ao psiquiatra.


Horácio Firmino

Lançado há poucos meses, o livro "Psiquiatria Básica em Medicina Familiar" é coordenado precisamente por Horácio Firmino, juntamente com os psiquiatras Joana Andrade e Vasco Nogueira e o médico de família Luiz Miguel Santiago.

A obra, na qual o médico esteve particularmente empenhado, visa ajudar os profissionais de MGF a identificar sinais de doenças psiquiátricas e a promover o diálogo entre especialidades.

Quando questionado sobre o livro, Horácio Firmino faz sempre questão de sublinhar que a sua edição não teria sido possível "sem o envolvimento dos colegas mais novos".