Anorexia do idoso: «A correção das causas é fundamental para evitar a desnutrição»

A anorexia do idoso, que resulta de várias pequenas causas associadas ao envelhecimento, é um distúrbio alimentar identificado regularmente em consulta. A correção das causas e o estímulo psicológico são fundamentais para evitar a desnutrição. Este será apenas um dos temas em debate no XVIII Congresso sobre Envelhecimento, marcado para o final de setembro, em Coimbra.

Apesar de a anorexia ser, com frequência, associada à adolescência, a verdade é que também é relativamente comum nos idosos. No entanto, é preciso ressalvar que se trata de situações diferentes.

“Enquanto no caso do adolescente ocorre a chamada anorexia nervosa, com a restrição do consumo de alimentos a resultar de uma distorção da imagem corporal, no idoso a anorexia tem na sua origem várias causas associadas ao processo de envelhecimento”, começa por destacar Manuel Teixeira Veríssimo, presidente do XVIII Congresso sobre Envelhecimento – Geriatria Prática.

O especialista de Medicina Interna esclarece que, “fruto do próprio envelhecimento, o idoso começa a perder algum movimento, fica com menos olfato e paladar e algumas doenças crónicas, bem como a medicação prescrita, alteram mesmo o seu bem-estar, levando à perda de apetite”. Adicionalmente, “também a perda de dentes ou a sua degradação leva o idoso a escolher certo tipo de alimentos e a preterir outros”.

Tais fatores levam “a que a perda de apetite seja uma queixa razoavelmente comum nas consultas, pois, não só o próprio costuma identificá-la como a própria família também o reconhece e faz esse alerta”. Na sua ótica, perante esta realidade, os clínicos devem “procurar identificar as causas e tentar corrigir a situação”.

Alerta, neste âmbito, para a necessidade de haver “estímulo psicológico, reforçando a importância da alimentação para manter o estado nutricional adequado, pois, se tal não for respeitado, a consequência será a desnutrição”. E reforça: “Costumamos associar este problema apenas aos países subdesenvolvidos, mas também nos desenvolvidos a desnutrição é frequente, especialmente entre os idosos.”


Manuel Teixeira Veríssimo: “As unidades de Ortogeriatria são das áreas da Geriatria em internamento hospitalar que mais evidenciam ganhos.”

O risco de quedas, gerando fraturas da anca, por exemplo, é uma das repercussões que identifica, e, nessa senda, realça a importância do papel das unidades de Ortogeriatria, “permitindo oferecer cuidados dirigidos às pessoas idosas e reduzir o tempo de internamento”. Manuel Teixeira Veríssimo sublinha mesmo que “estas unidades são das áreas da Geriatria em internamento hospitalar que mais evidenciam ganhos”.


Após algum tempo de interrupção na atividade das três unidades de Ortogeriatria nacionais em funcionamento, por ocasião da pandemia de covid-19, o nosso entrevistado salienta que duas delas já reabriram entretanto – a do CH de Vila Nova de Gaia/Espinho e a do Hospital Beatriz Ângelo.

Adicionalmente, acrescenta que outras estão a ser criadas, nomeadamente no Hospital Fernando Fonseca, no CH e Universitário de São João e no CH e Universitário de Coimbra.


A última edição do Curso de Geriatria realizou-se em 2019 e, como habitual, foi grande a adesão dos profissionais

Regresso do Curso, que evolui para a forma de Congresso


Após 17 edições do Curso Pós-Graduado sobre Envelhecimento, este ano, “para atribuir maior abrangência ao tema”, o evento evoluiu para a forma de Congresso, explica Manuel Teixeira Veríssimo. Está marcado para os dias 28 e 29 de setembro, em Coimbra, local onde sempre tem acontecido.

Ligado a esta iniciativa desde o seu início, em 2003, enquanto secretário-geral, “fruto da necessidade de tocar nos aspetos particulares do idoso e da sua doença”, diz estar expectante quanto a este regresso, quatro anos após a última edição, em setembro de 2019.

“Antes da pandemia de covid-19, havia uma dinâmica muito forte, que levava a que houvesse sempre mais de 1000 inscrições. Este ano, assistiremos ao seu relançamento, mantendo-se o formato presencial, que era uma das suas características”, explica.

Maria Helena Saldanha continuará a assumir a figura de presidente de Honra, incluindo ainda a Comissão de Honra os nomes de José Gomes Ermida e Fernando Santos, como já sucedia.

Durante o Congresso, haverá espaço para a apresentação de pósteres e de comunicações orais e para a entrega de prémios. A submissão de trabalhos está aberta aos profissionais de saúde interessados na área e ativa até 15 de setembro.



Dedicação à Geriatria

Assistente da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra desde 1986, Manuel Teixeira Veríssimo tem competência em Gestão de Serviços de Saúde desde 2009, em Geriatria desde 2013 e em Nutrição Clínica desde 2022.

Foi médico  dos HUC/CHUC desde 1981 -- nos últimos anos com a categoria de assistente graduado sénior --, onde desempenhou as funções de coordenador de enfermaria de Medicina Interna, chefe de equipa de Urgência, fundador e responsável pela Consulta de Geriatria, presidente da Comissão de Qualidade e Humanização, diretor do Centro de Congressos e monitor da Prescrição Médica.

Em 2014, coordenou a Comissão Instaladora da Competência de Geriatria da Ordem dos Médicos, vindo a presidir a esta até 2023. Entretanto, desde 2022 que é coordenador da Comissão Instaladora da Competência de Nutrição Clínica da OM. Responsável pelo lançamento do Mestrado em Geriatria na FMUC, criou também a primeira cadeira de Geriatria ministrada em Portugal.

É ainda presidente da Associação para o Estudo e Investigação em Geriatria e Nutrição Clínica e durante muito tempo foi o regente da Unidade Curricular de Geriatria da FMUC, as duas entidades responsáveis pela organização do Congresso sobre Envelhecimento.



A entrevista completa pode ser lida na edição de julho do Jornal Médico dos Cuidados de Saúde Primários.

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