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A educação médica no centro da política de Saúde, como prioridade do SNS

Será muito difícil formar médicos para o presente e para o futuro se a educação médica não estiver no centro da política de Saúde, como prioridade do SNS, alerta José Fernandes e Fernandes, diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL) desde 2005 e diretor do Serviço de Cirurgia Vascular do Hospital de Santa Maria.

Quando tomou posse como diretor da FMUL, e porque "tinha uma noção muito clara de que eram necessárias reformas", considerou que, em primeiro lugar, seria necessário "centrar a Faculdade na sua missão fundamental: formar médicos, clínicos, com boa e sólida formação científica, não só para o presente, mas também para o futuro. Para isso, era preciso mudar a organização do currículo académico, que estava ultrapassada, era essencialmente a mesma desde o meu tempo de estudante, com mais disciplinas."

Em entrevista ao Jornal Médico, José Fernandes e Fernandes recorda que, nessa altura, "mantinha-se uma grande separação entre o ciclo básico e o clínico, os alunos só contactavam verdadeiramente com a realidade médica no 4.º ano, o que correspondia a um modelo do passado e que já nenhuma escola médica de prestígio seguia. Havia disciplinas e exames a mais, com impacto negativo no aproveitamento do tempo académico."

Outro objetivo prioritário de quando assumiu as funções de diretor da FMUL relacionava-se com a necessidade "muito clara" de aproximar a Faculdade e o Hospital, de "reconquistar o espírito de hospital universitário, de promover investigação científica na área clínica, que é um requisito fundamental para um bom ensino e essencial para uma verdadeira Medicina Académica". Para isso, acrescenta, "foi fundamental reforçar a ligação com o Instituto de Medicina Molecular (IMM), um instituto de investigação biomédica que emanara da Faculdade, mas que tinha autonomia como Laboratório Associado e, simultaneamente, melhorar o relacionamento e articulação funcional com o Hospital."

"Uma visão integrada dos sistemas ambulatório, hospitalar e dos cuidados continuados"

A reforma dos Cuidados de Saúde Primários é também um dos temas abordados na Grande Entrevista. Para José Fernandes e Fernandes, as USF representam um desenvolvimento muito importante, "porque aproximam o doente dos seus médicos e da organização de saúde".

Considera o diretor da FMUL que "as USF têm de evoluir para policlínicas com capacidade de realizar exames mais sofisticados e obter o diagnóstico mais rápido, para benefício e comodidade dos doentes. Além disso, é fundamental a integração entre os cuidados hospitalares e os ambulatórios. O conceito inglês de vias de tratamento integradas (integrated care pathways) é fundamental. Não se trata de sobrecarregar o setor hospitalar ou dos cuidados primários, mas sim de promover uma maior interligação e cooperação para benefício dos doentes. Mas também é preciso que o hospital vá à comunidade, que esteja presente nos centros de saúde com uma colaboração direta.".

Acrescenta ainda que "é fundamental que se promova ativamente uma visão integrada dos sistemas ambulatório, hospitalar e dos cuidados continuados. Enquanto não houver essa visão integrada vai ser muito difícil reformar o sistema de saúde em Portugal e assegurar a sua sustentabilidade".



Ao longo da entrevista, que poderá ser lida na edição de outubro do Jornal Médico, e além de um balanço provisório do último mandato como diretor da Faculdade, que termina em maio de 2015, são desenvolvidos vários temas. É o caso dos projetos levados a cabo pelo Centro Académico de Medicina de Lisboa, o modelo de financiamento das instituições de Ensino Superior “modulado pela consideração de fatores de qualidade”, a forma a FMUL se relaciona com outras instituições académicas ou a fusão das duas universidades em Lisboa, "um exercício brilhante e desmontou um mito que vigorava desde os anos 70: era preciso criar novas universidades porque as antigas não tinham capacidade de se reformar".

Quanto ao futuro, José Fernandes e Fernandes salienta que gostaria "ainda de poder contribuir, durante a vigência do meu mandato, para que o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação e Ciência pudessem convergir numa política para a Educação Médica e para o reforço da investigação em Medicina, para a consolidação de uma Medicina Académica e para o desenvolvimento de instituições académicas e clínicas competitivas no espaço europeu. Foi um objetivo que prossegui desde o primeiro momento em que se tornou óbvio que seria candidato à Direção da Faculdade e tenho ainda a esperança que seja possível trabalhar nesse sentido, em colaboração com outras escolas médicas e os seus hospitais respetivos".



A Grande Entrevista com José Fernandes e Fernandes
pode ser lida na edição de outubro do Jornal Médico.

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