Opinião

Tratar a diabetes mellitus numa rede multidisciplinar é uma mais-valia para o doente


Bruno Miguel Dinis

Médico de família, Serviço de Medicina Geral Familiar do Hospital da Luz Lisboa



A diabetes mellitus (DM) é uma doença com apresentação e manifestações clínicas que se estendem por um largo espetro, desde o silêncio subclínico até aos sintomas e sinais decorrentes das suas complicações e descompensações.

O tratamento e monitorização dos doentes com DM acompanha essa variabilidade através de uma abordagem coordenada e requerendo, frequentemente, a intervenção de várias especialidades médicas.

É nesta multidimensionalidade de necessidades que mais destaque ganha a proximidade de todas as valências médicas envolvidas no tratamento dos doentes com DM dentro de uma mesma instituição.

No Hospital da Luz Lisboa existe um grupo de trabalho, do qual faço parte, composto por representantes de várias áreas-chave na abordagem à DM: Medicina Geral e Familiar, Medicina Interna, Endocrinologia e também elementos das equipas de gestão de processos e sistemas de informação. De uma forma integrada, gere-se a atualidade da evidência científica na abordagem à DM, para que todos os doentes possam ser tratados da forma mais correta, coordenada, segura e eficiente.

Como funciona esta rede multidisciplinar? Ao nível do diagnóstico, é possível, junto do seu médico de família, o doente ser aconselhado, realizar os exames auxiliares de diagnóstico necessários e iniciar terapêutica. Quando a apresentação clínica da DM ocorre com sintomas que o fazem vir ao atendimento urgente de adultos, também aí o doente encontra médicos de família que o irão ajudar.


Bruno Miguel Dias

O tratamento diferenciado e a referenciação estão, com frequência, à distância de um telefonema, de uma marcação no balcão de consultas ou de um contacto direto entre colegas. É-nos fácil comunicar entre especialidades as nossas preocupações e eventual necessidade de referenciação célere.

O aconselhamento e ensino do tratamento ao doente com DM beneficia ainda da intervenção de uma equipa coordenada de nutricionistas e enfermeiros, especializados no ensino das técnicas de administração de insulina, aconselhamento nutricional e vigilância dos sinais clínicos de possíveis complicações da doença.

Perante a identificação de complicações ou de descompensação da DM, a íntima inter-relação entre a unidade de MGF e o atendimento urgente, bem como as especialidades de ponta, permitem excelente qualidade e rapidez nos tratamentos.

Com frequência, o doente observa os vários profissionais consigo envolvidos a dialogar entre si sobre o seu estado clínico e a chegar a consensos e estratégias únicas centradas precisamente nele.

É bom para o doente quando o seu médico de família tem a possibilidade de o visitar no internamento e todos os profissionais podem estar envolvidos de forma estruturada em todos os níveis de cuidados.

Conhecermos todos os colegas envolvidos nos vários níveis de prestação de cuidados ao doente com DM melhora a articulação entre a equipa e beneficia o doente trazendo-lhe melhor qualidade de vida, menos complicações e menos insegurança em toda esta hercúlea tarefa que é o tratamento da DM.

É, sem dúvida, uma mais-valia para o doente com DM e para o seu médico de família estarem numa instituição em que todas as valências envolvidas no tratamento da DM coexistem.



Artigo publicado na edição de fevereiro do Jornal Médico dos cuidados de saúde primários, no âmbito do Espaço dedicado ao 27.º Congresso Nacional de Medicina Interna, organizado precisamente por profissionais do Hospital da Luz - Lisboa.

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