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Opinião

«E se o Ministério da Saúde fosse liderado por um(a) enfermeiro(a)?»


Pedro Melo

Especialista em Enfermagem Comunitária. Professor auxiliar convidado do Instituto de Ciências da Saúde / Escola de Enfermagem da Universidade Católica Portuguesa



Uma pergunta desafiante, a do título do “Diagnóstico de Enfermagem” deste mês de setembro. Setembro é um mês de habitual renovação de desafios, do regresso ao trabalho após as férias, do regresso às escolas, enfim do planeamento de um novo ciclo de desenvolvimentos na vida ativa.

2022, particularmente, no que diz respeito ao Ministério da Saúde, representa um marco de mudança com a saída da Ministra Marta Temido.

A gestão do Ministério da Saúde é, talvez, das mais complexas da política portuguesa. Um Sistema de Saúde que articula um Serviço Nacional de Saúde com recursos escassos que pretende oferecer cuidados de excelência aos cidadãos e cidadãs portugueses e uma rede de organizações privadas, que numa relação comercial, são um importante recurso na dinamização da concorrência positiva e muitas vezes um recurso de resposta à escassez do SNS.

Profissionais de Saúde da maior qualidade comparativamente com o resto do mundo, mas que encontram dificuldades e desmotivações associadas a uma engrenagem financeira que não tem permitido um investimento nas carreiras e, consequentemente, na valorização dos profissionais e no seu vínculo ao SNS, encontrando respostas muitas vezes mais satisfatórias nas organizações privadas. 

Por outro lado, diria que vivemos, desde a criação do SNS alguma desorientação do sentido do SNS, nomeadamente no que diz respeito aos Cuidados de Saúde Primários. O farol que orienta a gestão do SNS é iluminado por uma filosofia mais orientada para a doença e dotada, portanto, de um medicocentrismo que inevitavelmente valoriza a doença, os hospitais e os indicadores associados ao tratamento da doença, os internamentos, as cirurgias.

Contudo, desde Alma Ata, com a sua declaração publicada um ano antes de nascer o SNS, onde se prevê o investimento nos Cuidados de Saúde Primários (atenção reafirmo que é de “Saúde Primários” e não de “Doença Primários”) e na promoção de saúde reafirmada na carta de Otava, publicada 7 anos depois da criação do SNS e com uma linha orientadora diferente da gestão que a Saúde tem tido ao longo destes 43 anos de SNS.

Os lobbies instalados numa cultura corporativista da saúde, mais orientada para a doença, o desinvestimento nos cuidados orientados para a comunidade e na potenciação da literacia em saúde, das firmezas das pessoas e da transdisciplinaridade, usando a evidência (de enorme qualidade inclusive produzida em Portugal) para a aplicar no contexto clínico e da gestão da saúde.

Evidências, onde se demonstra, desde há muito, o não aproveitamento das competências transdisciplinares, nomeadamente dos enfermeiros, como a própria Ministra Marta Temido demonstrou na sua investigação e do não investimento na efetiva acessibilidade a cuidados de saúde, que não sobrecarregassem os cuidados limite das doenças (nomeadamente os serviços de urgência).


Pedro Melo

A afirmação atribuída a Einstein de que “Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes” seria um bom mote para inovar na gestão do Ministério da Saúde.

Se o Ministro da Saúde fosse um enfermeiro ou uma enfermeira, tenho a perfeita convicção de que saberia orientar-se melhor do que ninguém para as infirmezas da Saúde em Portugal, potenciando um SNS autónomo, maduro e articulado com um Sistema de Saúde robusto, com uma competitividade positiva, potenciadora do Benchmarking e acima de tudo, orientada para as Pessoas e não para as doenças.

E se o Ministro da Saúde fosse Enfermeiro ou Enfermeira? Era tão interessante existir um Primeiro-Ministro capaz de orientar para a inovação.

Ainda acredito que um dia veremos a diferença. Até lá, os Enfermeiros e Enfermeiras continuarão a ser ministros locais potenciadores da defesa do Direito à Saúde de cada cidadão e cidadã portugueses, mesmo que silenciados por toda esta capa patogénica que tem revestido a história e as estórias da gestão da Saúde em Portugal.   



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