Consulta de Doenças Autoimunes da ULSAC: Inovação, multidisciplinaridade e proximidade


Margarida Jacinto

Coordenadora da Consulta de Doenças Autoimunes da ULS do Alentejo Central. Presidente do Congresso 2025



Desde 2022 que coordeno a Consulta de Doenças Autoimunes (DAI) da Unidade Local de Saúde do Alentejo Central (ULSAC), numa fase particularmente desafiante. A equipa havia sofrido alterações significativas, com a saída de profissionais de referência nesta área. Apesar dessa instabilidade inicial, o objetivo foi sempre garantir continuidade e qualidade no seguimento dos nossos doentes, respeitando o trabalho desenvolvido anteriormente e lançando as bases para um novo ciclo, com inovação e dinamismo.

Foi nesse contexto que procurei reestruturar a equipa, promovendo um modelo assistencial mais integrado e colaborativo. Apostámos na criação de uma equipa multidisciplinar, que reúne especialistas de diversas áreas envolvidas no diagnóstico e tratamento das doenças autoimunes. Realizamos reuniões clínicas mensais, focadas na discussão de casos complexos, com especial atenção à articulação entre terapêuticas farmacológicas e abordagens não farmacológicas. Este modelo tem-se revelado essencial na definição de estratégias terapêuticas mais eficazes, adaptadas à realidade individual de cada doente.

Está igualmente idealizado um projeto de hospital de dia, que acreditamos vir a ser um recurso essencial para oferecer um seguimento mais próximo e contínuo aos doentes. Contando com o apoio da equipa de enfermagem, este futuro espaço poderá trazer ganhos significativos na adesão terapêutica, na monitorização rigorosa das patologias e na humanização dos cuidados.


Margarida Jacinto

Apesar das melhorias introduzidas, a escassez de especialistas continua a ser um desafio de fundo. A dificuldade em garantir um acesso atempado à consulta de DAI é uma limitação real, que reflete um problema estrutural e transversal ao país. A esperança reside na concretização de projetos em curso, como a construção do novo hospital, que trará melhores condições físicas e operacionais para a nossa atividade clínica.

Desde 2024 que temos igualmente participado num projeto de rede colaborativa entre centros de doenças autoimunes, promovendo uma articulação nacional mais sólida, com partilha de boas práticas e protocolos assistenciais. Esta “network” tem o potencial de mitigar desigualdades regionais no acesso e reforçar a resposta a nível nacional, num espírito de entreajuda e valorização do conhecimento científico.

A existência de uma resposta especializada nesta área faz uma diferença substancial para os utentes servidos pela nossa unidade. As doenças autoimunes, pela sua complexidade e impacto multidimensional, exigem uma abordagem holística, continuada e centrada no doente. A aposta numa consulta diferenciada, apoiada numa equipa coesa e motivada, tem permitido ganhos reais em saúde, melhorando a qualidade de vida dos nossos doentes e a sua confiança nos cuidados prestados.


Nota: Este artigo de opinião de Margarida Jacinto foi escrito para o Jornal Médico, com publicação na edição de julho 2025.

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