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Opinião

«A Psicologia (no SNS) e o trabalho em rede»


Luís Abobeleira

Psicólogo, ACES Sotavento



Para os profissionais de saúde que se dedicam à área da Saúde Mental, o trabalho em rede e a articulação multidisciplinar são, além de necessários, considerados boas práticas na abordagem à natureza multidimensional da pessoa e da sua saúde.

No SNS e, em particular, nos CSP, os psicólogos que aí desenvolvem a sua prática estão familiarizados com esta dinâmica de trabalho em rede e, em ligação com os diferentes saberes, profissões e setores (Educação, Social, Justiça, etc.), procuram de uma forma integrada responder às necessidades em saúde dos utentes.

A saúde da pessoa é influenciada por uma complexa constelação de fatores de ordem individual, ambiental, económica, social, política, cultural, etc., constituindo um todo que ultrapassa a simples soma de partes isoladas. Saúde é muito mais do que a simples ausência de doença e viver com qualidade significa muito mais do que não estar doente.

Como tal, é necessário que o SNS seja capaz de responder em concordância. Para isso, deverá colocar e manter o foco da sua atividade na pessoa, transformá-la num elemento capacitado do sistema, num agente ativo de mudança, com mais conhecimento acerca de si, da sua saúde ou do seu processo de doença (se caso for).

O SNS deverá conseguir garantir maior proximidade e equidade no acesso, não só a cuidados médicos e de enfermagem, mas também aos de Psicologia, Nutrição, Fisioterapia, Higiene Oral e Medicina Dentária, Serviço Social, a técnicos de Cardiopneumologia, de Radiologia, Análises, terapeutas da fala, ocupacionais e outros.

Todos são necessários e importantes para que se deixe de olhar de forma compartimentalizada ou incompleta para a Saúde, para que se promova literacia em todas estas áreas e para que a promoção da saúde, a prevenção da doença e a prestação de cuidados assuma um carácter de maior qualidade e abrangência.


Luís Abobeleira

Estas profissões de saúde, na sua maioria, estão organizadas nas Unidades de Recursos Assistenciais Partilhados (URAP), que funcionam em estreita ligação com as restantes unidades funcionais (UF) dos CSP e que mantêm ligações funcionais com os serviços hospitalares.

As URAP, na sua essência, multidisciplinares, colocam à volta da mesma mesa os diferentes núcleos/profissões e é pela natureza do seu funcionamento que nelas reside um enorme potencial de transformação e desenvolvimento dos CSP, nomeadamente, através da promoção do diálogo e da articulação entre saberes, pela criação das vias de comunicação necessárias e a definição de circuitos de informação, assim como de momentos de partilha e integração.

Este potencial merece um prioritário investimento para que a resposta dos CSP seja mais equitativa e promotora de saúde.

Esta realidade, para os psicólogos dos CSP, ficou cimentada com a implementação dos Núcleos de Psicologia nas URAP dos ACES, através da publicação do Despacho N.º 11347/2017, do secretário de Estado adjunto e da Saúde, publicado a 27 de dezembroe 2017, que determina um “modelo organizacional e de funcionamento da Psicologia  Clínica e da Saúde no SNS, baseado no princípio da autonomia científica, técnica e funcional e da colaboração interdisciplinar e interprofissional, numa perspetiva de cuidados de saúde integrados”.

Outras profissões, como a Nutrição, organizaram-se da mesma forma, através de um processo semelhante, parecendo ser este o caminho que outras profissões estão a tomar.

O conceito de integração de cuidados não é novo, mas assume enorme presença e preponderância nos principais documentos nacionais e internacionais que visam os princípios orientadores da evolução dos sistemas de saúde.

Este conceito, ainda que sobejamente postulado, encontra-se muito pouco no plano concreto e a sua tradução para a prática é essencial para a (re) definição estratégica e a evolução do SNS face às necessidades em saúde da população portuguesa.

Não obstante, existem no país experiências, algumas merecedoras da distinção de “boa prática” no Encontro Nacional das URAP, realizado no Porto dia 13 de maio, que constituem excelentes exemplos da integração de cuidados, que se ambiciona generalizar no âmbito de um processo mais macro: uma verdadeira mudança de paradigma na forma de pensar e atuar em Saúde.


O artigo pode ser lido na edição de setembro do Jornal Médico dos Cuidados de Saúde Primários e integra um Especial sobre o Encontro Nacional das URAP.


Dirigido a profissionais de saúde e entregue nas unidades de saúde familiar (USF) de Portugal, esta publicação da Just News tem como missão a partilha de boas práticas, de boas ideias e de projetos de excelência desenvolvidos no âmbito do SNS, visando facilitar a sua replicação.

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