Encontro de Quadros Executivos da Cochrane
Entre os dias 19 e 23 de março, a cidade de Lisboa acolhe o Encontro de Quadros Executivos da Cochrane. Esta organização internacional tem como missão "promover a tomada de decisões de saúde com base em revisões sistemáticas relevantes e outras provas de síntese, acessíveis e de alta qualidade".
Criada em 1993, é constituída por investigadores, profissionais de saúde, doentes, cuidadores e outras pessoas com interesse pela saúde.
Em Portugal, a rede portuguesa desta organização surgiu em 2014, sendo dirigida por António Vaz Carneiro.
Em entrevista à Just News, publicada na LIVE Medicina Interna, o médico refere estar "convencido de que 50% do que fazemos é baseado em boa evidência. Em 40% dos casos, não há boa evidência ou é fraca. Nos restantes 10%, não somos capazes de identificar se é ou não baseado em boa evidência".
Identificar "os buracos no conhecimento"
Para o diretor do Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência (CEMBE), do Departamento de Educação Médica da FMUL, não há qualquer dúvida de que "a Cochrane Portugal é uma organização singular extremamente prestigiada a nível mundial", explicando como surgiu:
"O seu movimento nasceu naturalmente da dimensão da produção científica. No início produzia-se muito pouco, mas quando começou a haver um número crescente de estudos (sobre a mesma doença, por exemplo) houve necessidade de organizar toda esta informação de forma coerente e transparente, para que o profissional de saúde conseguisse perceber exatamente que evidência científica havia nesta área."
António Vaz Carneiro dá um exemplo: "Se eu tenho um medicamento que trata a artrite reumatoide e existem cinco ensaios clínicos, é fundamental fazer um cruzamento dos dados dos mesmos para verificar questões como:
Que tipo de doentes é que responde? A que é que eu chamo resposta terapêutica? Quais os indicadores medidos? Estão incluídos doentes com artrite reumatoide precoce ou só as fases tardias? Há quanto tempo os doentes estão a fazer o tratamento? E os efeitos secundários são importantes? Há doentes com efeitos mais importantes do que outros? O medicamento trata igualmente um doente que tem a doença só nas articulações versus também no coração?."
De acordo com o responsável pela Cochrane, "para ter resposta para estas perguntas tenho de combinar todos estes ensaios clínicos quando é possível e fazer uma revisão sistemática e, eventualmente, uma meta-análise (quantificação estatística dos impactos) para que o profissional, o doente e o gestor fiquem com uma fotografia do que posso esperar daquela intervenção."
E acrescenta: "Ao fazê-lo estaremos a avaliar dois aspetos muito interessantes. Em primeiro lugar, o impacto e o benefício para o doente naquela intervenção. Em segundo lugar, são identificados os buracos no conhecimento, ou seja, aquilo que não foi investigado."
A inscrição na reunião é gratuita, mas obrigatória. Pode ser efetuada aqui.