Doenças respiratórias: «Vírus Sem Reconhecimento» causa mais reinfeções

O conceito de VSR, acrónimo de Vírus Sincicial Respiratório, foi adaptado pelo médico pneumologista Filipe Froes para "Vírus Sem Reconhecimento". E percebe-se porquê, como o próprio explica: "Resulta da dificuldade em diagnosticar a infeção por este vírus na população adulta e, consequentemente, da incapacidade em caracterizar a carga de doença associada a estas infeções".

O conceito foi partilhado num webinar organizado recentemente pela GSK e dedicado precisamente ao Vírus Sincicial Respiratório. Em declarações à Just News, o médico e coordenador da Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Pulido Valente, desenvolve a ideia:

"Sabemos agora e, sobretudo, depois da vulgarização dos testes de PCR durante a pandemia por SARS-CoV-2, que os métodos de diagnóstico usados anteriormente e, em particular, os testes rápidos de antigénio que servem para fazer o diagnóstico na idade pediátrica, têm uma sensibilidade inferior a 10% na população adulta, não permitindo o diagnóstico na maioria das situações.

E acrescenta: "A utilização de PCR multiplex (para SARS-CoV-2, influenza e VSR) durante a pandemia representa o momento de viragem no diagnóstico e na consciencialização do impacto deste vírus na população adulta."


Mais reinfeções e mais frequentes à medida que envelhecemos


Segundo Filipe Froes, não há qualquer dúvida de que "um dado muito relevante deste vírus" é o facto de poder causar várias reinfeções, que "provavelmente está relacionado com as características que condicionaram o seu processo evolutivo de seleção natural".

Assim, "apesar do menor potencial de mutação do vírus sincicial respiratório, a infeção natural induz uma resposta imunitária incompleta e de curta duração, que explica a ocorrência frequente de reinfeções ao longo da vida".

Por sua vez, a situação agrava-se com o tempo. "Estas reinfeções tornam-se mais frequentes à medida que o nosso sistema imunitário também vai ´envelhecendo` naturalmente, aquilo que habitualmente se designa por imunossenescência", afirma.


Filipe Froes

Infeções mais graves e maior necessidade de hospitalização

De acordo com o especialista, é inevitável que esse maior grau de reinfeção acabe por resultar em mais hospitalizações: "É isso que a prática clínica nos ensina. Com a diminuição da capacidade de resposta defensiva do sistema imunitário, que ocorre naturalmente à medida que vamos envelhecendo, vamos assistir a dois fenómenos: em primeiro lugar, a mais infeções e, em segundo lugar, a infeções mais graves."

Quanto às infeções mais graves, as expectativas não são muito animadoras, já que "podem condicionar um aumento da necessidade de hospitalização, quer em enfermaria, quer em Cuidados Intensivos, um aumento do risco de complicações e sequelas, por exemplo, o agravamento das doenças respiratórias e cardíacas crónicas associadas, e, nalguns casos, podem condicionar o óbito".

E acrescenta: "Os doentes com imunossupressão resultante da doença ou da terapêutica apresentam, também, este risco independentemente da idade."


O que há a fazer?

Questionado sobre que medidas podem e devem ser implementadas, Filipe Froes responde de forma muito clara: "A prevenção é sempre a melhor solução, veja-se o exemplo da última pandemia, e dentro das medidas preventivas a mais importante é, indiscutivelmente, a vacinação."

Esclarece também que, "com a idade e a diminuição natural da nossa resposta imunitária, a eficácia das vacinas na prevenção da infeção vai diminuindo". No entanto, "a eficácia contras as formas mais graves de doença é sempre mais robusta e duradoura".

Ou seja, "a vacina pode não impedir a infeção ligeira e pouco sintomática", mas "é muito mais eficaz a proteger contra as formas de doença associadas a maior gravidade e a necessidade de hospitalização".


O médico refere ainda a importância da intervenção personalizada dos médicos e de outros profissionais de saúde junto dos utentes, cujo papel "é sempre determinante, sendo que vários estudos comprovam que um dos principais fatores da adesão vacinal é a recomendação por um profissional de saúde, preferencialmente o médico assistente".


Locais preferenciais para "recomendação da vacinação"

E haverá alguns momentos em particular onde seja mais importante a intervenção dos profissionais de saúde no sentido de mobilizarem os utentes para a vacinação contra o VSR?

De acordo com Filipe Froes, e no caso da vacinação de adultos, "as consultas com o médico de família são sempre um local preferencial de sensibilização e de recomendação da vacinação".

Salienta também que, devido ao peso específico da patologia pulmonar, "as consultas de pneumologia em meio hospitalar representam, igualmente, uma excelente oportunidade para esclarecimento de dúvidas e de promoção da aceitação vacinal".

Há, no entanto, uma certeza: "A prevenção da doença e a promoção da saúde devem fazer parte integrante de todos os contactos com médicos e outros profissionais de saúde, independentemente, do contexto hospitalar ou em ambulatório."

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