Na USF Alpha destaca-se a «elevada capacidade de atender aos pedidos de consulta no próprio dia»

Rafael Gonçalves é coordenador da USF Alpha desde setembro de 2020, mas a sua ligação à Unidade começou bem antes. Chegou como médico de família em março de 2010, apenas algumas semanas após o arranque oficial da USF, a 29 de dezembro de 2009, um atraso explicado, como refere, por questões administrativas ligadas à mobilidade.

“Na verdade, já há algum tempo que estava a trabalhar para o projeto”, sublinha.  O convite surgiu através de Alcino Sousa Santos, o primeiro coordenador da Unidade, que conheceu Rafael Gonçalves quando este ainda era interno de MGF e participava nas reuniões da Associação Portuguesa dos Grupos de Balint. A proposta de fazer parte da equipa fundadora da USF Alpha foi, como refere, “irrecusável”.

“Revi-me nas ideias que me foram transmitidas e era uma oportunidade única para ajudar a construir algo de raiz, contribuindo com sugestões para criar uma USF bem organizada”, afirma.



“Veja que não há pessoas à espera aqui fora"

Hoje, sempre que um utente necessita de esclarecer uma dúvida com o seu médico ou enfermeiro de família, é agendado um contacto telefónico breve, “evitando-se deslocações desnecessárias e preservando-se a privacidade e a continuidade dos cuidados”.


Apontando para o corredor que se estende ao longo da Unidade, o coordenador comenta: “Veja que não há pessoas à espera aqui fora. Havia hábitos antigos que eram prejudiciais para a confidencialidade, a privacidade e até a qualidade da prestação de cuidados. Quando tenho um utente à minha frente, preciso de estar concentrado nele e não ser constantemente interrompido.”

“Havendo rigor, há uma maior probabilidade de as coisas funcionarem bem!”, sublinha Rafael Gonçalves, acrescentando que, por exemplo, “se um utente não chega a horas a uma consulta, isso interfere com a seguinte, pelo que tivemos de estabelecer regras claras nesse sentido”.

Admitindo ter transferido para a sua vida profissional muito do rigor exigido enquanto atleta de alta competição, o médico ressalta, no entanto, que o anterior coordenador da Unidade “já tinha essa mesma forma de estar”.


Rafael Gonçalves
 
"A capacidade de atender aos pedidos de consulta no próprio dia”

Rafael Gonçalves afirma, com convicção, que existe “uma preocupação constante com o acesso da população aos cuidados de saúde prestados pela USF Alpha, refletida numa organização assistencial orientada para respostas rápidas e eficientes às necessidades dos utentes, destacando-se a elevada capacidade de atender aos pedidos de consulta no próprio dia”.

De facto, entre as 8h e as 20h, foram definidos vários períodos de atendimento para situações agudas, com capacidade para receber 70 a 80 utentes por dia, sendo, aliás, muito raras as ocasiões em que esse limite é atingido.

Apesar da transferência da gestão dos pedidos de consulta por doença aguda para a Linha de Saúde 24, a USF Alpha mantém vagas para utentes com mais de 70 anos ou com dificuldades de acesso, permitindo a marcação direta com a Unidade. De referir que está disponível uma central telefónica que regista os pedidos de contacto, garantindo-se uma resposta célere do secretariado clínico, inclusive no caso de consulta para o próprio dia.



"Torna-se possível identificar tendências, pontos fortes e áreas de melhoria"

“Esta é uma USF com espírito crítico e cultura de melhoria contínua, que analisa de forma sistemática a sua prática, identifica oportunidades de aperfeiçoamento e procura, colaborativamente, soluções que promovam um serviço cada vez mais acessível, seguro e de qualidade”, garante Rafael Gonçalves.

A monitorização do desempenho constitui, segundo o coordenador, “um eixo fundamental na gestão e na melhoria contínua da qualidade dos cuidados prestados”. Com o objetivo de promover uma cultura de transparência, responsabilização e eficiência, foi desenvolvida internamente uma ferramenta em Excel que permite acompanhar de forma sistemática o trabalho das várias microequipas.

Disponibilizando a análise dos indicadores assistenciais e do Índice de Desempenho (IDE) em formato gráfico e interativo, a ferramenta possibilita uma leitura imediata e comparativa dos resultados alcançados por cada microequipa. “Desta forma, torna-se possível identificar tendências, pontos fortes e áreas de melhoria, promovendo uma abordagem colaborativa e orientada para a excelência”, explica.

"Foco constante em áreas clínicas e preventivas"

A informação é atualizada regularmente, permitindo à equipa médica e à coordenação acompanhar a evolução dos resultados e ajustar estratégias sempre que necessário.

“Esta metodologia contribui para uma maior consciência do desempenho individual e coletivo, reforçando o compromisso de todos com os objetivos contratualizados e com a melhoria contínua da qualidade dos cuidados prestados”, acrescenta Rafael Gonçalves.

Frisa, no entanto, que “a equipa mantém um foco constante em áreas clínicas e preventivas que não estão refletidas nesses indicadores, mas que são fundamentais para a saúde e o bem-estar da população”. Um exemplo é o plano interno de rastreio do autismo, desenvolvido para identificar precocemente sinais de perturbação do espetro do autismo e orientar adequadamente famílias e crianças.

“Este trabalho é realizado de forma integrada entre médicos, enfermeiros e secretários clínicos, garantindo uma abordagem multidisciplinar e humanizada”, sublinha, evidenciando “o compromisso da USF Alpha com uma prática clínica abrangente e centrada no doente, que valoriza tanto os resultados mensuráveis como as dimensões humanas e sociais do cuidar”. E conclui: “A Unidade reforça a sua missão de promover a saúde de forma proativa, preventiva e personalizada.”




A relevância da qualificação da referenciação

Rafael Gonçalves considera a qualificação da referenciação um indicador relevante da qualidade do trabalho clínico desenvolvido numa USF, pois, “reflete a adequação, a pertinência e a eficiência do encaminhamento dos utentes para os cuidados de saúde hospitalares ou especializados”.

“Na USF Alpha, a equipa médica reúne-se semanalmente para discutir casos clínicos e analisar, de forma sistemática, as referenciações efetuadas, bem como as devolvidas ou recusadas pelos serviços hospitalares. Este momento de partilha e de reflexão permite identificar oportunidades de melhoria, uniformizar critérios de referenciação e reforçar a articulação entre os cuidados de saúde primários e secundários”, afirma o coordenador.

E explica que, durante estas reuniões, são revistos os motivos clínicos que justificaram cada encaminhamento, avaliando-se a conformidade com as normas e orientações da Direção-Geral da Saúde, assim como a adequação da informação clínica enviada, garantindo uma referenciação cada vez mais criteriosa e eficiente.

“As referenciações devolvidas ou recusadas são analisadas em detalhe, procurando compreender as razões subjacentes e promover a correção de eventuais falhas de comunicação,
insuficiências na documentação ou inadequação do pedido”, esclarece Rafael Gonçalves, acrescentando:

“Através desta metodologia sistemática de análise e discussão, asseguramos uma referenciação mais qualificada, centrada nas necessidades reais dos utentes, contribuindo para uma maior eficiência do Sistema de Saúde e para uma resposta mais célere e adequada por parte dos serviços hospitalares.”

Nota: A reportagem completa pode ser lida no Jornal Médico, edição de dezembro 2025.

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