Sociedades científicas focadas na preservação da fertilidade em doentes oncológicos jovens
Com o objetivo de otimizar a prática clínica em doentes oncológicos jovens que não tenham ainda o seu projeto reprodutivo completo, a Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO), em conjunto com a Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução (SPMR) e a Sociedade Portuguesa de Hematologia (SPH), está a elaborar um documento com recomendações para a preservação da fertilidade em doentes oncológicos a aplicar a nível nacional.
Gabriela Sousa, presidente da SPO, explicou, em declarações à Just News, e à margem das XXXIII Jornadas Internacionais de Estudos da Reprodução, que se realizou em Guimarães, que se trata de uma questão que antes não se colocava, uma vez que “a sobrevivência dos doentes não era grande”.
Neste momento, esclareceu aquela especialista, “os estudos indicam que continuaremos a observar um aumento da incidência de cancro, sobretudo em gente jovem, e vamos continuar a ter uma melhoria significativa em termos de sobrevivência, com consideráveis reduções da mortalidade”.
Por esta razão, e de acordo com a oncologista do IPO de Coimbra, importa salvaguardar a possibilidade de se conseguir preservar a fertilidade “em fatias de doentes que tenham interesse em vir a ter filhos”, possibilitando que, depois dos tratamentos a que forem submetidos, possam vir a fazer uma vida normal.
Gabriela Sousa avança ainda que a SPO está, em conjunto com a SPMR, a trabalhar no sentido de os oncologistas terem um acesso mais facilitado aos serviços onde os seus doentes podem fazer esta mesma preservação. “Não podemos perder muito tempo e, como tal, temos de ter quase que uma ‘Via Verde’ para os doentes chegarem rapidamente aos serviços de Medicina da Reprodução”, alertou.
“Estamos a listar alguns números telefónicos de contacto, que vão figurar numa folha de referência, para que os doentes sejam referenciados rapidamente para os centros em que esteja assegurada pelo Estado a comparticipação da preservação da fertilidade, que é gratuita”, acrescentou.
Quando questionada acerca do tempo médio que um doente oncológico leva, atualmente, a chegar a um destes centros, Gabriela Sousa responde que é muito variável, dependendo da sua área geográfica. “Queremos que esse processo seja célere em qualquer parte do país. Se os oncologistas souberem para onde podem enviar os seus doentes e tiverem um número de contacto de referência, será muito mais fácil.”
Para finalizar, e ainda no que se refere ao documento com recomendações que está a ser elaborado, a presidente da SPO refere que se encontra já numa fase avançada de elaboração e que haverá um novo ponto de comunicação, em novembro, aquando do Simpósio Nacional da SPO. “A partir daí, o documento ficará em consulta pública pelos sócios das três sociedades, para obtermos sugestões e comentários, a fim de o podermos otimizar.” Será definitivamente publicado em janeiro de 2016.
Teresa Almeida Santos, presidente da SPMR, observa que se se têm verificado alguns avanços nesta área. Contudo, existem ainda situações que são experimentais.
“Algumas indicações são ainda controversas, porém é com a discussão entre especialistas que se consegue ir fazendo luz e avançando em relação a esta temática”, observou, à margem da referida reunião.
E terminou: “Estes dois dias mostram um empenho muito grande dos profissionais na discussão dos objetivos, dos riscos, dos limites e isso é extremamente gratificante de se verificar.”