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Recomendações sobre o diagnóstico e tratamento das vaginites: «É um documento inestimável»

"Nunca havíamos lançado recomendações sobre este tema com tais dimensões", afirma Pedro Vieira Baptista, secretário-geral da International Society for the Study of Vulvovaginal Disease (ISSVD) e um dos três editores das recomendações agora publicadas sobre o diagnóstico e tratamento das vaginites.


Em declarações à Just News, o médico salienta tratar-se de uma "importante conquista" que merece ser celebrada. E percebe-se os motivos que levam o ginecologista/obstetra a manifestar esta satisfação, desde logo, porque "a produção deste documento foi muito pensada: desde a sua necessidade aos autores a envolver".


Conforme explica, estas recomendações resultam de um esforço conjunto desenvolvido ao longo de 13 meses por um grupo de mais de 30 especialistas de vários países, "que produziram 10 capítulos que sintetizam o estado da arte relativamente ao diagnóstico e tratamento das vaginites".

Abrangente

O documento procurou ser o mais inclusivo possível. "Se é certo que "grande parte dos autores já eram membros da ISSVD, alguns não o eram. No entanto, pelo seu valor, seria impossível deixá-los de fora", refere Pedro Vieira Baptista, reforçando a ideia: "Mais do que um documento ´clubista`, queríamos uma solução que desse respostas e que combatesse o empirismo com que tantas vezes se lida com os quadros de vaginite."

Este documento apresenta, assim, "recomendações e orientações práticas, tanto para os casos mais simples, como para os mais delicados e complexos". Quanto aos outros editores, destaca o "privilégio de contarmos com o Prof. Jack Sobel que é, muito provavelmente, a maior referência de sempre neste campo e que assegura o rigor deste trabalho".


Pedro Vieira Baptista


Recomendações "livres de fronteiras e restrições"

"Foi a primeira vez! Nunca havíamos lançado recomendações sobre este tema com tais dimensões", afirma Pedro Vieira Baptista, revelando que "a sua pertinência foi debatida".

Conforme explica, "não faltam outras recomendações, de âmbito nacional ou regional - algumas de grande valor, como as do Centers for Disease Control and Prevention".

Contudo, o documento da ISSVD tem mais uma particularidade: "As nossas recomendações são livres de fronteiras e restrições: são apresentadas soluções de diagnóstico e terapêutica de acordo com a sua validação científica, independentemente de estarem ou não disponíveis em todos os países!"

Ou seja, "a não limitação ao disponível e aprovado em determinado país faz toda a diferença: há produtos e testes de diagnóstico, validados, disponíveis, por exemplo, na Europa e não nos Estados Unidos e que são frequentemente esquecidos. Este documento ultrapassa essa questão!"

Por outro lado, o secretário-geral da ISSVD refere que "há quadros ´controversos`, como a vaginose citolítica ou a vaginite descamativa inflamatória, que são habitualmente deixados de fora. A nossa opção foi a oposta: são controversos, mas há evidência, logo devem ser discutidos!"

Foi também incluído um capítulo dedicado às vaginites em idade pediátrica, "o que muitas vezes também é esquecido, levando a tratamentos e assunções incorrectas. De não menos importância, o último capítulo é exclusivamente dedicado ao uso probióticos, dado serem prescritos com tanta frequência, apesar da falta de evidência de eficácia." 




Difusão gratuita

Além de especialistas de Ginecologia/Obstetrícia, estas recomendações pretendem ser igualmente "da maior utilidade para outros profissionais". Pedro Vieira Baptista recorda, aliás, que, "entre os autores incluímos um pediatra, uma médica de família e microbiólogos".

Tendo em conta que as vaginites são "uma das principais causas de procura de consulta, tanto a nível da ginecologia, como de uma prática generalista", o seu desejo é que este documento "venha a estar em cima das mesas ou nos ambientes de trabalho do computador de muitos ginecologistas e médicos de família. Mais, que isso se traduza numa melhoria de cuidados!"

E acrescenta que é precisamente com o propósito das recomendações terem a maior divulgação possível que, "no ISSVD, assegurámos que fossem de acesso livre e gratuito". E não só: "Temos praticamente assegurada a tradução para português, espanhol e italiano, garantindo ainda mais a difusão do documento. Estamos a planear a tradução para outras línguas para além destas."

Um objetivo que ficou estipulado "desde o primeiro minuto. A ideia seria um documento para difusão gratuita. Não faria sentido ser de outra forma! Muita da informação de qualidade é de acesso pago, criando imensas assimetrias e aumentando fossos."


Necessidade de um correcto diagnóstico 

Questionado sobre se existem grandes alterações na abordagem às vaginites, o médico deixa claro: "Diria que não reinventámos a roda: num documento desta índole, não pode haver novidades. Todo ele é baseado na melhor evidência publicada. As novidades são alguns factos já conhecidos passarem a ter recomendação oficial."

E acrescenta: "Um dos pontos em que muito se insiste em todos os capítulos, é na necessidade de um correcto diagnóstico." De forma ampla, discute-se o papel dos novos testes moleculares - não serão a panaceia e não são isentos de riscos. Bem utilizados, poderão ser grandes aliados do clínico."

Contudo, chama a atenção para a "necessidade da utilização sistemática do microscópio, que continua a ser reforçada. Aliás, este é um dos pontos nos quais a ISSVD muito tem trabalhado."



Mandato na ISSVD termina em setembro de 2024

Pedro Vieira Baptista, que é responsável pela Unidade de Trato Genital Inferior do Centro Hospitalar Universitário de São João, está atualmente no seu terceiro mandato enquanto secretário-geral da ISSVD, que terminará em setembro de 2024, e reconhece que estes últimos anos nesta organização internacional "têm sido um grande desafio, mas ao mesmo tempo uma oportunidade única".


Antes de tudo, é a hipótese de fazermos algo por uma área tão pouco valorizada da medicina - estranhamente, num tempo em que tanto se fala em ´saúde da mulher`. A título pessoal, tem sido uma oportunidade única de estabelecer contactos e parcerias com os maiores especialistas do mundo nestas áreas!

Com um grupo muito coeso e dedicado, a sociedade tem crescido - não apenas em números, mas também em alcance e impacto. Um dos princípios da ISSVD é a disseminação de conhecimento e, penso, estamos a cumpri-lo plenamente.

Relativamente às próximas iniciativas de maior relevo que a ISSVD vai promover, Pedro Vieira Baptista destaca a XXVII Biennial Conference on Diseases of the Vulva and Vagina, que decorrerá em Chicago, entre 7 e 9 de setembro de 2023. Já em 2024, entre 13 e 18 de setembro, "em Liubliana acontecerão os nossos eventos maiores": o XXVII World Congress e o International Vulvovaginal Disease Update 2024.  


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